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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Na cavidade da unha (à José Louzeiro)





Sinceramente, algumas pessoas que ocupam cargos públicos já estão para lá de cansativas. O desembargador Siro Darlan, por exemplo, não tem mais o que fazer, e nem competência para julgar. Chega uma hora em que as coisas precisam andar para frente e desemperrar as oligarquias enferrujadas. O judiciário brasileiro é arcaico e moroso, parece um ancião de sandálias, no banheiro, procurando mijar dentro do vaso. Tudo bem, no passado o vaso era maior e as necessidades menores, mas hoje a incontinência sobrevive na senilidade judicial, na deterioração da capacidade de observar o óbvio.


Se mudarmos o foco para o sistema penitenciário, vamos enxergar uma sucessão de equívocos. Não há como recuperar uma alma sequer com as ferramentas que a justiça utiliza. Se existe o erro que ele seja punido, mas que se tente ressocializar o errado. O sistema brasileiro prende, pune, mas não reeduca. O criminoso sai da prisão cumprindo algumas frações da pena e retorna para a sociedade para praticar o mesmo delito, quer dizer, o mesmo e outros que aprendeu na escola do crime durante o período em que esteve detido.


Se tem uma arma que temos que aprender a usar, já que estamos no limite de nossas paciências, essa arma é a unha. Assim como aquele tigre enjaulado que o menino perturbou, temos que usar nossas armas, nossos dentes para morder as cordas que nos prendem e nossas unhas para ferir de morte aqueles que nos mantém nas mordaças.


Chega de pseudos subprodutos de ativistas midiáticos, de alcunhas laçadas nos repertórios ricos de nossos autores literários; precisamos de tocar a pele do vizinho, de sentar na mesa do colega que trabalha do nosso lado, do passageiro que aguarda o atraso da condução na madrugada. A hora de tomar as rédeas é agora, no máximo depois da última curva, porque na reta ninguém, por mais esperto e rápido que seja, pode nos alcançar.


Ricardo Mezavila.

Carta aberta ao Presidente do Botafogo, Mauricio Assunção.



Senhor Maurício Assunção, não sou economista, apenas um torcedor, mas estou muito preocupado com a situação financeira que se encontra o Glorioso Botafogo Futebol e Regatas. Tornou-se notória a dificuldade que o clube atravessa, meus amigos alvinegros andam cabisbaixos, os amigos torcedores de outros clubes ainda estão gozando, pensam que estamos com um resfriado comum, ainda não entenderam que a doença é outra e pode levar o doente á óbito. Quando tiverem a verdadeira noção da realidade, acredito que serão solidários e deixarão as piadas de lado. Mas presidente essa carta é dirigida ao senhor que está no comando há dois mandatos e que precisa tomar uma providência de emergência. Se não sou economista tampouco sou assessor para assuntos políticos e administrativos, mas acredito que sua renúncia seria a melhor saída para que nós, botafoguenses, apoiássemos um levante coletivo pra salvar o Botafogo. Imagino que com sua saída o ambiente teria mais transparência, alguém de dentro do clube poderia assumir uma campanha pública de adesão dos torcedores. Ainda tenho minhas esperanças polidas por uma caneta abençoada do congresso, que dê uma última chance para que as dívidas com o estado sejam parceladas. O nosso ídolo Heleno de Freitas disse que o “Botafogo não é lugar de covardes”, então seja homem e renuncie ao seu cargo, não espere que alguns mais exaltados adentrem a histórica sede de General Severiano e tirem “simbolicamente” o senhor de sua cadeira. Tenha a grandeza de reconhecer que errou nas avaliações, nem vou comentar sobre corrupção porque não tenho provas apesar de tossir com tanta fumaça. Presidente, não podemos chorar pelo que não tem mais jeito, o ovo não volta mais para a galinha, a hora é de montar um rolo compressor e partir com tudo para cima das conseqüências das más administrações que o clube teve durante tantos anos consecutivos. A chave para ligar o motor que vai fazer girar a máquina compressora não pode estar em suas mãos, fique de fora desse processo porque nós estamos com muita disposição de mudar esse quadro. Como torcedor posso aderir ao sócio torcedor, comprar produtos oficiais do clube e ingressos para os jogos. Até posso vir a colaborar financeiramente em uma eventual campanha, mas isso se a presidência estiver imunizada da sua presença. Já disseram que o futebol é a coisa mais importante entre as coisas sem importância, mas quando um clube centenário que foi base das conquistas da seleção brasileira, que mais cedeu jogadores, que tem dois craques, Nilton Santos e Garrincha no time de todos os tempos da FIFA, passa por uma situação de falência quase irreversível, isso passa a ter uma dimensão imensa. O Botafogo está em nossas vidas desde sempre, não dá para imaginar o futebol sem a estrela solitária, não podemos virar museu. Senhor presidente, não sou economista, mas sou um torcedor apaixonado pelo meu clube, participei da coletânea de um livro oficial do Botafogo, A Magia do 7, com uma crônica em homenagem ao anjo de pernas tortas. O lançamento foi na sede, no Espaço Glorioso e foi um dos dias mais felizes da minha vida poder estar participando de alguma forma da vida do Botafogo de Futebol e Regatas. Senhor Maurício Assunção se tiver acesso a esta carta, peço que pense com carinho no que sugeri. Separe seus objetivos pessoais do Botafogo, não é crime atuar na política, mas reflita que milhões de homens, mulheres e crianças precisam da alegria e da saúde do Glorioso em campo.

Saudações Alvinegras

Ricardo Mezavila.

Torcedor (RJ)

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Gigante embriagado ou cara de mamão



pobreza brasileira

Não bastassem os recentes vexames dentro de campo em BH e BSB, a saga do gigante continua, desconfio que esteja embriagado por isso vive deitado, não há quem fique por tanto tempo dormindo em sono eterno e com tanta gente falando. Está na hora de acordar, vagabundo, levanta e arruma um emprego que a vizinhança já está falando mal e os teus filhos andando de cabeça baixa de tanta vergonha.

Até na diplomacia, onde historicamente somos as “vaquinhas de presépio”, estamos sofrendo bullying. Bastou o embaixador brasileiro fazer um comentário sobre os ataques de Israel na faixa de Gaza, chamando a ação de desproporcional para a resposta vir “na lata”: “desproporcional é perder de 7 a 1”. Sério?  É isso mesmo? Nosso território continental, nossa sexta economia são menos importantes do que uma partida de futebol? O mundo não nos respeita e o embaixador israelense nos definiu como: ”anões diplomáticos e parceiros irrelevantes”.  Eu sabia que chamar o Dunga ia dar nisso!

O Brasil é como aquele menino, que todos nós já sentamos ao lado na sala de aula: grande, gordinho e bobo. Enquanto os outros brincam no recreio, ele fica sentado sozinho mastigando pão com manteiga e depois desenrola uma maçã de um guardanapo de pano xadrez. Os meninos franzinos “mangam” à distância porque se ele se irritar e surtar não vai sobrar esqueleto para contar a história. A diferença para o Brasil, é que esse menino é aplicado e tira boas notas. Aliás, até os nossos “terroristas” são de quinta.

Um país rico como o nosso que está na 79ª posição entre 187 países em Índice de Desenvolvimento Humano, abaixo da média latino-americana, não é respeitado porque não se dá o respeito. O mundo sabe que ele maltrata sua família não lhe proporcionando saúde e educação; egoísta, não divide o que tem com justiça. Enquanto jogamos pedras no telhado alheio e criticamos os bombardeios na Palestina, o índice que mais cresce por aqui é o da violência, não motivada por uma guerra histórica, mas por uma inescrupulosa banalidade da vida. Aqui se mata por nada, porque se vive por nada também.




Ricardo Mezavila.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Império bizarro

internet


Fazendo uma comparação sem compromisso entre a ficção das telenovelas e a realidade, utilizando a lógica da família e dos bons costumes, sem ser piegas e careta, chega-se a conclusão que a arte paga o crime, a imoralidade e a corrupção com a ausência do amor, do respeito e da honestidade. Sendo mais específico, sobre o primeiro capítulo de “Império” que assisti ontem para ter base para criticar. 

As cenas se passam entre quatro personagens, um operário mora com a esposa e a cunhada. Seu irmão, não se viam há tempos, chega e pede abrigo. Duas semanas se passam e a esposa trai o marido com o irmão e planeja fugir com ele. Sua irmã, percebendo tudo, resolve intervir para que não haja uma desgraça e consegue, através de uma trama, que o ingrato vá embora sozinho, evitando coisa pior para sua irmã que está grávida.

No folhetim a esposa não ama o marido, mas vive com ele por acomodação e necessidade. É uma mulher covarde, sem disposição para ir à luta, largar o casamento e viver   dignamente para conquistar seus objetivos. Quando se vê diante de um outro homem, o seu cunhado, que se mostrou sem caráter, de personalidade duvidosa e de ambição desmedida, acredita que ali está a chave para a sua liberdade e decide viver uma aventura irresponsável ao seu lado. Eles são os mocinhos e a irmã é a vilã (?).

Não é de hoje que temas polêmicos vêm sendo expostos pelos autores de telenovelas, principalmente na caricata relação entre homossexuais, é muita bizarrice para uma classe com nomes consagrados como Dias Gomes, Benedito Ruy Barbosa, Janete Clair e Cassiano Gabus Mendes. A renovação fica impossível porque quanto mais lixo melhor para a audiência, pelo menos é o que mostram os indicadores comerciais. A relação entre a arte e o artista, em se tratando de telenovela, se resume ao subproduto e a beleza estética.

Não é um discurso moral e vago em defesa da família, FORA O CONSERVADORISMO, mas é uma constatação crítica de que em tempos de muita violência, analfabetismo e desrespeito, existe um veículo que incita, divulga e estimula o oportunismo casual, a posse pela inconseqüência, o êxito pela trama, o sexo pelo dinheiro e muito mais do que isso ao quadrado.


Ricardo Mezavila. 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

No rosto de Brigitte


brigitte bardot


O tempo definido em sua forma mais crua e “in natura”, é como o rosto de Brigitte Bardot aos vinte e aos setenta e cinco. Esse é o tempo da física e da materialidade das horas, do pulo sobre lombadas nas estradas de alta velocidade quando perder a direção é quase um efeito obrigatório. Mas ainda tem o tempo da imaterialidade pragmática que acontece quando um tigre persegue uma gazela. É a hora do foco e do espaço, o tempo coadjuva e assiste ao salto que vai garantir o alimento da espécie.

Reiteradas vezes o precipício surge como a única ponte capaz de fazer a travessia entre o sonho e a ação, o delírio e o contexto, a farsa e a transparência. Saber conduzir a queda é ressurgir sobre as pedras e continuar no caminho como se fosse natural cair em pé de uma altura considerável, se machucando, mas seguindo.

Depois é só avaliar o rumo e seguir a pauta, escrever-rasgar-escrever quantas vezes forem preciso sem limite e sem horizonte, entortando esquinas e quebrando ruas, desistindo e retomando sempre fora da lógica conservada em barris de autoridade e obediência. Transgredir é preciso para que a disciplina seja imutada e desobedeça às regras, deslize na anarquia e caia dentro do caldeirão insubordinado, que seja o ingrediente agridoce da revolução que começamos e terminamos todos os dias.

As marcas no rosto de Brigitte estão dizendo que a velhice é factual, obedece aos desígnios do calendário, enruga o cenário liso que não conseguimos segurar por todo o tempo. Mas também são mapas, com rotas ainda a serem exploradas por quem ainda possui forças e vontade suficientes para sair da inércia e conquistar, passo a passo, todos os mistérios que ainda dormem observados pelos olhos da aventura.

No rosto de Brigitte estão as linhas de uma costura indelével, que não pode ser apagada. Indiferente aos retalhos, a pele não é destruída porque possui o reforço das recordações e os cuidados que só as costureiras sábias têm. O tempo é vírus e vacina, morde e assopra, derruba e edifica, é o menino de todos os homens e o príncipe de todos os reis; o escravo de todos os senhores e a energia de todos os deuses.

Ricardo Mezavila.


terça-feira, 15 de julho de 2014

Maiakovski, Lennon, Neruda e Eu


kremilin



Há um clichê que diz que a vida tem de ser vivida dia após dia, meio determinando que o que se vive hoje é o que importa, que ontem passou e o amanhã pode não chegar. Vejo intensidade demais nisso, ao mesmo tempo fica parecendo que há um vazio eterno nunca preenchido, uma falsa demonstração de felicidade e desprendimento. Um despiste no acaso enquanto ele tenta uma forma de participar dos fatos.

Vejo com beleza a história de alguém que conheço, que casou com alguém que conheço e que perdeu esse alguém para a morte, e que hoje está com os olhos tristes perdidos nas cores, nas imagens e nos sons daqueles dias. Olhos tristes não significam tristeza absoluta, pode ser um olhar com saudade do tempo, dos filhos pequenos correndo entre as mesas da lanchonete do shopping, das viagens e das noites quando a chuva convidava para um sono mais cedo.

A gente pode viver uma vida inteira somente por chegar a um lugar diferente, o oriente abastecido de livros ocidentais, o índico de mãos dadas com o pacífico passeando pela geografia, enquanto o atlântico enciumado deita no colo do rio da prata e pede para que este lhe conte uma história, tire sua roupa e durmam abraçados, como estão naquele lugar onde o rio encontra o oceano.

Acho que visitar Moscou é como morrer, não a morte física, mas é como chegar em um lugar desconhecido, nunca para menos, mas sempre com coisas para serem descobertas, palavras para serem destiladas junto com um copo de vodka, a poesia proletária saindo de dentro dos cafés com suas bofetadas sociais, o homem alto de roupa preta e gravata pendurado em um poste na esquina onde os poetas se encontram para um suicídio alternativo.

Eu tenho em mim todos os fusos horários do mundo, todas as fronteiras, posso partir daqui agora e chegar agora mesmo em qualquer parte, sem ao menos perceber que parti, sem vontade de dormir e sem fome. A lua e o sol são somente o branco e o preto, não fazem diferença quando o tempo vai e volta sem sair do lugar. Como o tolo sentado sobre suas pernas no alto da montanha assim observamos tudo acontecer, ora com chuva, ora com sol, ora no seu aniversário, ora no aniversário do outro.

Acontecemos todos os dias e não percebemos que a escassez do corpo se aproxima e limita nossas vértebras, nossos pulmões e nossas pernas. Sabemos que ainda podemos, mas já não encontramos a mesma facilidade de antes, as dificuldades começam a aparecer nos aviso das placas, na respiração pesada, na dor matinal para calçar a sandália.


Ricardo Mezavila.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Decime qué se siente




 No espetacular canteiro de obras em que o país se transformou por conta da realização da copa tudo foi concluído, os estádios, os acessos, as “fan fests”, o intercambio entre os povos, tudo esteve a contento e foi muito bem aproveitado só esqueceram de montar uma seleção a altura do evento. Fizeram a festa, armaram o palco, posicionaram os instrumentos, mas não convidaram os músicos para tocar e o maestro para reger.

Agora que a grama da arena de Manaus já cresceu e logo vai se transformar em pasto, que a arena Pantanal vai servir de cenário para o fantasma da ópera, alguns fatos ficaram para a dispersão no tempo, por exemplo: Será que Diego Costa seria a solução para o ataque da seleção no lugar do Fred, que já foi devolvido à cet-rio?  Quem seria o jogador que Felipão disse arrependido de ter convocado? Se o observador da seleção, o Galo, disse ao técnico como jogava a Alemanha e mesmo assim o Bernard começou jogando, para que serve esse cargo? Por que todo jogador alemão chamado Muller joga com a camisa 13?

O triunfo alemão é inquestionável, já a sua propagada simpatia é duvidosa, mas deixaram um legado para a população de Cabrália e isso foi ponto para eles. A festa estrangeira aqui foi positiva para a nossa imagem no exterior, acho que muita gente ficou impressionada com a liberdade que tiveram em circular em cidades arranhadas internacionalmente por conta da violência. Muitos voltarão e a recepção foi um gás para as Olimpíadas.

A nota negativa ficou com o principal da festa, com a cereja do bolo, o diamante do anel, a seleção brasileira com o seu fiasco expôs como a estrutura do nosso futebol está ultrapassada, assim como a educação e a saúde, finalmente conseguiram arrastar o futebol brasileiro para o terceiro mundo. Fiquei com a sensação de que seria possível formar uma seleção com jogadores que jogam aqui, com um, dois ou três desses que disputaram o mundial e envergonharam a nação.

Os jogadores convocados são formados fora em outros clubes, outra cultura, perdem a identidade com as nossas cores e parecem que não estão nem aí para a derrota, choraram para a galera. Sendo a copa no Brasil os jogadores da seleção foram para o aeroporto após a derrota para a Holanda, era o “Brasil” voltando para casa dentro da própria casa. Os legados estão aí, os argentinos estão na estrada e eu decorei a musiquinha deles para brincar com os amigos no bar e agora essa merda não sai da minha cabeça.


Ricardo Mezavila.

domingo, 13 de julho de 2014

Sem surpresas na caixinha

internet


Uma das máximas do folclore futebolístico, a frase: “futebol é uma caixinha e surpresas”, parece que nesta copa está por ser desmistificada com a justa colocação da seleção brasileira e sucessivas humilhações e, se acontecer, com a seleção alemã levantando a taça no Maracanã. Apesar de ter empatado com Gana e vencido apertado a Argélia, a seleção de Joachim Low exibiu um futebol convincente e digno de campeão.

A Argentina pode surpreender a lógica, mesmo tendo chegado com um futebol menos vistoso e dependente do “Messias”, a celeste e branca tem a seu favor a famosa garra sul americana que nós, apesar da geografia ajudar, não temos, infelizmente. Ficamos no caminho como um cachorro morto, abrimos os cofres para financiar a festa dos vizinhos, derramamos lágrimas por jogadores que nem sangue pareciam ter, confiamos em uma comissão técnica que pode ser tudo, até animadores de torcidas, mas não sabem nada sobre o futebol que se joga atualmente.

Quem olha os jogadores brasileiros os confunde com rappers, usam medalhões, bonés estereotipados que se aproxima mais dos artistas que surgiram das comunidades negras dos Estados Unidos do que de atletas, de onde se espera alto nível profissional correspondente aos astronômicos salários que recebem. Quando a seleção venceu o primeiro jogo, no seguinte vimos jogadores com cabelos descoloridos, penteados exóticos e bigode. Essa foi uma clara demonstração de que estavam ali, não para jogar, mas aparecer. Se ao menos jogassem alguma coisa estariam perdoados.

Hoje é o dia do velho e bom rock’in roll, o dia está lindo, o céu azul e a temperatura agradável, o nosso futebol não estará representado na final, a presidente vai comparecer, se ela pudesse me ouvir eu diria para assistir pela televisão, mas de qualquer forma alguém vai estar sorrindo mais tarde. Os alemães dentro da seriedade pertinente aguardam a hora da partida, parecem caçadores esperando a hora de atirar, enquanto a caça não chega aproveitam para ler Johann Goethe; assim como os argentinos, esses mais parecidos com a gente, cantam músicas ironizando a nossa incapacidade sem vergonha, aguardam a hora da partida sacaneando brasileiro, enquanto não passa ninguém com a “amarelinha”, aproveitam para ler Jorge Luis Borges.

Aproveitando o dia do rock estou ouvindo “Razamanaz” do Nazareth, se os alemães vencerem vou ouvir Kraftwerk, mas se os argentinos vencerem vou fazer uma forcinha e ouvir Fito Paez. Pela música sou Alemanha, mas pelo futebol sou Argentina.

Obs.: Quando eu ia assinar a crônica a Alemanha fez mais um gol no J.Chester.



Ricardo Mezavila.

sábado, 12 de julho de 2014

Livrai-nos do mal

internet


A palavra oração, etimologicamente, tem várias definições dependendo da fonte que se pesquise. Em religião está ligada ao ato de se dirigir a Deus, foi um recurso que ele criou para que possamos nos comunicar através da palavra. No meu entendimento a palavra é derivada de orar que é falar e ação que é agir, ou seja, falar e agir. Essa definição deixa de lado o pedir, o implorar e ficar esperando a coisa acontecer por bondade divina, quando deveria ser falar e agir, não adianta pedir se não há movimento e ação.

Quando oramos o pai nosso dizemos no final: “livrai-nos do mal” e depois completamos com Amém, que quer dizer assim seja. Esse mal que é antônimo de bem é uma palavra homófona de mau, que é antônimo de bom. Quando oramos estamos querendo o livramento do mal ou do mau, tanto faz, na verdade a intenção é a proximidade do bem e do bom.

Seja de que forma for é conveniente falar e depois agir para que a oração tenha efeito, e não somente pedir e ficar esperando a graça providencial. A permanência de pensamentos positivos atrai energias que irão alimentar a realização daquilo que a gente procura e almeja, e isso impulsiona e dirige nossas atitudes para  o concreto, para o real e a verdade.

Quando eu penso ou pronuncio “livrai-nos do mal”, atenção ao coletivo da oração, a gente não diz “livrai-me”, estou pedindo proteção contra a violência e maldades externas, contra a doença e as calamidades, um problema, uma maldade; mas também estou pedindo para que eu mesmo não seja mal ou mau, que não seja inconveniente, desumano, grosso e desagradável. Entre todas as mazelas as que mais repudio são: avareza, mesquinharia e egoísmo.

O mundo é melhor na companhia de pessoas altruístas e quando você se esforça em ser solidário e compreensível. A raiz da violência está no erro de pensar que alguém é melhor do que alguém; que a ideologia do outro é reacionária e que meus ideais são os mais consistentes; a minha razão é mais lógica e meus conceitos religiosos são mais fundamentados. Pensamentos assim acendem o pavio de uma bomba, arremessam pedras, dão bofetadas, rasgam bandeiras, proferem palavras com forte poder de destruição, e por fim detonam a guerra.


Ricardo Mezavila.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

E-mail que Messi recebeu de D.Lúcia (na íntegra)


parreira

Caro Hermano, o Brasil foi derrotado pela poderosa Alemanha, não tivemos reação diante da força de uma equipe bem armada contra um bando desentrosado e sem tática definida. Perdemos porque ainda acreditamos que somos os melhores, mas isso é coisa do passado, quando Nelson Rodrigues dizia que éramos a “pátria de chuteiras”, agora somos “patrioteiros” descalços e esforçados em aprender a cantar o hino nacional. Agora que estamos fora da final vamos esquecer e só vamos lembrar dos refrões, mesmo assim trocando o andamento “um sonho intenso...“ por “amor eterno...”.

Lionel, fiquei dividida na partida entre a sua seleção e a da Holanda, os “laranjas” escolheram o Rio de Janeiro e estavam integrados à paisagem carioca, sem vaidade iam de ônibus até o Leblon comer sanduíche. O trio Robben, Van Perse e Sneijder foram a alegria da criançada, amáveis com todos conquistaram a nossa simpatia, mas na hora “agá” prevaleceu o sangue Latino Americano e torci para que a Argentina saísse com a vitória e fosse para a final.

Por falar na final, a partida vai ser no templo do futebol, o Maracanã, a nossa seleção amarela não quis jogar aqui, ainda não entendi a razão, mas agora depois da acachapante derrota, do massacre humilhante, acho que foi melhor assim. O Maracanã não é lugar para covardes! Fomos derrotados aqui pela seleção uruguaia, mas foi em uma final e o placar comum entre gigantes. Uma coisa é perder lutando até o fim , outra é perder chorando desde o começo.

Pulga atômica, tenho a impressão que quando tua canhota toca na bola, tudo silencia enquanto você arranca com ela dominada, os adversários empalidecem, seus olhos saltam como se quisessem desviar a bola dos teus pés. E você a trata sem cerimônia, com a intimidade que só os moleques têm quando disputam uma pelada; com irreverência e confiança a alegria desabrocha espontaneamente e fica impossível não torcer para que o goleiro adversário seja batido.

Quando a seleção que tu defendes entrar em campo no jogo decisivo, pense que nós fomos derrotados e os acolhemos com carinho, lembre-se que “mi caza es su caza” e seja um pouquinho brasileiro quando partir na vertical para invadir a cidadela inimiga. Faça o que não fizemos e ficaremos gratos. A patética e medíocre comissão técnica brasileira está sonhando com o terceiro lugar, mas não me representam, que percam de novo. Eu estou esperando a partida de domingo que é o que interessa quando se participa de um torneio e se tem respeito com quem torce.

Até lembrei de quando era criança e um menino brigão, o Kiko, apanhava dos mais fortes e  corria pela rua chamando o irmão mais velho: “Xande... Xande”! Caro amigo, seja o nosso irmão mais velho e mais forte,vingue a nossa vergonha, lave nossa honra com gols.

Um beijo, tia Lúcia.


Ricardo Mezavila.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Dear Prudence não abriu os olhos

internet


Durante a partida histórica da semifinal da copa entre Brasil e Alemanha, em Belo Horizonte, faltou ao técnico brasileiro, aos jogadores, parte da imprensa e alguns torcedores manter os olhos abertos para a tsunami que se anunciava do outro lado do campo. Como crianças brincando com seus baldinhos na areia recebendo o novo dia com o céu azul em pleno inverno, não perceberam que o vento estava mais forte, e que ondas rubro negras se aproximavam com mais força e intensidade.

Com os ventos vieram as nuvens, não formavam margaridas em um jardim alegre, nem os pássaros cantavam ao seu redor. Uma imensa tempestade se anunciava, uma forte onda estava se formando na região germânica e podia chegar na praia com atitude e desmanchar todos os castelos de areia que as crianças construíram com arrogância e prepotência.

Foram necessários seis minutos para que tudo ruísse como se a queda do viaduto próximo dali fosse um aviso. Ninguém esperava, apesar de que em futebol tudo pode acontecer, ficaram olhando os jogadores alemães passearem de uma meia-lua à outra, da bandeira de córner à linha intermediária, da marca do pênalti à linha do gol. Disseram que o time brasileiro sofreu um apagão, uma pane, mas nada justifica uma equipe ser massacrada em casa em um jogo tão importante.

Agora os abutres esperam a carniça Argentina cair diante da laranja mecânica para que a vergonha não vire uma tragédia ainda maior. Perderam a chance de vencer, não abriram os olhos para o jogo de verdade e flertaram com as luzes das câmeras que fabricam celebridades, jogaram por chão toda a esperança de uma gente apaixonada pelo esporte e que precisa vencer nem que seja por pernas alheias.

Tomara que os velhacos comandantes do nosso futebol sejam varridos pela tsunami de Berlim, que não voltem mais, não precisamos de suas estatísticas, mas de comprometimento e entrega. Prudence não abriu os olhos e não olhou ao redor, por isso foi levada pela corrente e agora chora e tenta entender o que aconteceu.

Ricardo Mezavila.


terça-feira, 8 de julho de 2014

Whacthamacallit?

internet


A “copa das copas” termina, antecipadamente, após o apito final do jogo de hoje para o país sede. Pior do que perder a final é não ter a expectativa do vice-campeonato. Qualquer que seja o resultado do jogo contra a Alemanha o conglomerado canarinho terá cumprido o papel a qual foi submetido, porque está desfalcado. The day after no caso de uma derrota, se estiver na final, é uma segunda-feira e a carruagem já terá virado abóbora, o encanto terminado, o patrão estará de olho no relógio e o trem como sempre atrasado.

No caso de uma vitória, tudo estará como antes, mas a carruagem será abóbora na prorrogação, ainda veremos descamisados encamisados com as cores da feitiçaria, o doping se fará presente por um número mais largo de horas, o estampido da vitória permanecerá nos ouvidos como um besouro, os mandatários estarão em seus jatos a caminho de seus castelos enquanto candidatos recolherão votos das ruas.

Na prática os organizadores nadaram em mares de ouro, nunca tiveram tanta facilidade em levar riqueza para além das divisas, saquearam as minas como no século dezessete quando as riquezas levadas daqui financiaram a revolução industrial inglesa. Já li que os oligarcas do nosso país já pensam em uma nova edição da copa. Além disso, a impunidade e a injustiça não podiam estar fora do evento, enquanto os comerciantes do entorno dos estádios, que pagam seus impostos não podem trabalhar durante os dias de jogos, o chefe da máfia da venda de ingressos foi preso em flagrante e já está solto.

Passando para as quatro linhas a timidez das pernas brasileiras é visível, o descontrole emocional e a crendice patriótica da paternalidade tornam as coisas ainda mais complicadas e desfiguradas. O craque está fora de combate e todos ficaram mais leves, perderam a noção de responsabilidade, como se todo o peso estivesse nas costas do menino. Se vier a derrota ela será justificada por sua ausência.

Não acreditei no que vi ontem, pego de surpresa, em um programa de esportes. O sucessor do genro ladrão do ladrão eterno da confederação fez um “chamamento” a todos brasileiros para que cantem o hino junto com os escolhidos quando estes estiverem representando patriotismo. Esse senhor tem que lavar a boca para se referir ao hino e não tem moral para se dirigir à nação e muito menos determinar o que temos que fazer. Essa realmente é a... Whacthamacallit?

Ricardo Mezavila.




segunda-feira, 7 de julho de 2014

O quarto 901 está vago

king size


Hoje os uruguayos foram ao aeroporto receber a seleção derrotada, o presidente Mujica também. Eles perderam a copa, o melhor jogador fez um papelão que para qualquer brasileiro seria imperdoável, ele prejudicou a seleção tem que ser punido como punimos Roberto Carlos, que foi muito menos irresponsável naquele jogo contra a França em que abaixou para consertar o meião e Thierry Henry fez o gol. Ontem no jogo contra a Colômbia Suárez colocou um telão em frente à sua casa e mais de mil torcedores estiveram por lá torcendo e dando uma força para o artilheiro.

Isso dá um nó na consciência, nós não respeitamos quem erra, estamos muito aquém do patriotismo de países latinos americanos, não falo isso porque presenciei e estou aqui, isso é notório, não construímos uma independência com luta e reivindicações, deram um grito à beira de um rio e a história coroou quem já era rei. Foram poucos os que tiveram a coragem de não abrir mão da liberdade, de sair do estado letárgico e morrer pela causa que acreditava e essa minoria não está registrada na história.

Andamos por Montevideo de um lado ao outro, em bairros distantes que não estão nos roteiros que os hotéis oferecem, conhecemos pessoas humildes, mas não vimos ninguém dormindo pelas ruas, estivemos em todos os pontos turísticos e nenhuma criança veio nos pedir esmola, nenhum homem pediu para que pagássemos uma bebida, não vimos nenhuma mulher com um filho no colo sentada na calçada. Mesmo quando fomos ao jogo na praça lotada não vimos nenhum suspeito olhando para nossos pertences.

Nosso país era para ser o melhor se não fosse a bagunça institucional desde o começo. Países pequenos como o Uruguay com recursos parcos se comparados ao nosso, conseguem manter um padrão de educação anos-luz do nosso. A educação das pessoas foi o que mais chamou a nossa atenção, não a educação do “por favor” e “obrigado” que nos ensinam como sendo as mais importantes, quando na verdade só nos submete à subserviência, mas a educação de amar o país, de respeitar a cidadania, de valorizar a história e dividir isso com os filhos.

Amanhã o quarto 901 estará vago para mais um casal desfrutar da cama King Size e de todo o conforto que o lugar proporciona, nossas malas estarão cheias de pequenas lembranças, de doces e suvenir, mas a experiência de ter caminhado por aqui sem medo, com frio, com dinheiro estranho, tendo admirado as crianças que saíam da escola com jaleco branco sujo de terra porque teve uma feira de ciência da escola, isso vai ficar para sempre, assim como o cachorro, não lembro o nome, embalsamado no museu e como o Rio da Prata que tem água salgada e parece um mar.

Vinicius de Moraes morou aqui em Pocitos e escreveu: "Também eu deixava-me estar no terraço de meu apartamento, um dos mais altos de Pocitos:  (...) eu por minha vez, ante a ideia de compartilhar com a bem-amada a visão dos amplos espaços crepusculares do estuário do rio da Prata”.


Ricardo Mezavila.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A esquina da rua sem saída


montevideo


Ninguém pode se considerar perdido em um lugar que não conhece, porque quanto mais se tenta encontrar a direção, mais se descobre lugares escondidos que estão fora dos mapas e das visitas. Ruas sem placas, jardins vazios, escadas curtas, árvores secas, uma velhinha na janela, um carro antigo, um pássaro diferente, a esquina de uma rua sem saída.

O que pensava a senhora quando perguntamos se o museu estava próximo? Podia estar pensando em alguém que está viajando, no Brasil talvez; podia estar preocupada com algum filho, com o que dizer ao marido para por fim ao casamento; podia estar memorizando os produtos que compraria no mercado porque não quis levar a lista e nós a interrompemos e ela saiu dali confusa e talvez tenha voltado para casa para pegar a lista.

O guarda em frente ao Museu, antiga sede do governo,  foi muito solícito, comentamos que seu castelhano era bastante compreensível e ele disse orgulhoso que era da Riviera. Depois voltou para o seu posto “em sentido” e consentiu com a cabeça que subíssemos e aproveitássemos da história que aquele lugar ostenta.

No hall da sede atual do governo tem uma escultura de três homens sentados em volta de uma mesa e uma cadeira vazia, atrás desta cadeira está escrito “PUEDE SENTAR”, nós que estamos acostumados com “não pise’,“não olhe”,”não sente”, tendemos a não acreditar que existe uma permissão por escrito, olhei para fora e um policial nos observava, ele percebeu a nossa dúvida e fez um gesto amistoso com as mãos de que poderíamos sentar.

Nada melhor do que caminhar observando o entorno, descobrindo e comparando realidades distintas, agregando conhecimento e acrescentando conteúdo cultural, sempre com bom humor e um tempo para uma prezepada básica e um carimbo da imigração no passaporte, nem que seja do MERCOSUL.

Ricardo Mezavila.



Sendo gentil na Juan D. Jackson


teatro solis


Indo para o Museu de Arte de Montevideo, acabamos descobrindo Juan Zorilla de San Martin, poeta uruguayo e, agora, também museu. Gostei de uma frase sua: “Velar se debe la vida de tal suerte que viva quede en la muerte”, alguma coisa tipo a vida deve prevalecer sobre a morte. Não fomos ao Museu de Arte, ficou para depois. Depois de dois dias já me sinto parte da atmosfera da cidade. Andamos por várias ruas e conversamos com algumas pessoas, todas muito simpáticas, mas ainda não sabemos quanto tempo leva caminhar quatro quadras. Em um cálculo prático e rasteiro, concordamos que sejam uns dez minutos.

Quando entramos no ônibus 117 com destino a Plaza Independência os bancos estavam vazios, durante o percurso foram entrando muitos passageiros e, como de costume quando estou em transporte público, cedi meu lugar para uma senhora que disse que estava a bajar (descer) do ônibus e agradeceu. Eu estava segurando o meu livro e ela perguntou quem era o autor, meio sem graça disse que eu era o autor, ela fez uma cara de surpresa e fez duas perguntas, uma foi lógica, mas a outra não entendi muito. Primeiro perguntou de onde nós, eu e Sueli, éramos, quando soube perguntou se éramos religiosos, eu respondi que si, nosotros somos religiosos, ela fez um ar de aliviada e disse: “encantada” , e desceu na Calle Juan D. Jackson.

Percorrendo a cidade conhecemos a sede antiga da presidência, um prédio que no governo de Venâncio Flores passou a ser sede do executivo. O prédio histórico hoje é um museu, na mesma linha do palácio do Catete, que guarda mobílias, pertences, fotografias e tudo o que se manteve daquela época, infelizmente não se pode fotografar, mas vale muito a pena conhecer, vimos coisas lindas. Lá está a carruagem, em madeira, que fez a última diligência que levou Maldonado, não sei para onde, mas levou. A enorme diferença desse museu para o Catete, é que a nova sede, que foi construída em 1985, está ao lado da antiga, separadas por duas ruas, aqui o Catete foi para o centro do país para garantir distância do povo.

Também visitamos a sede nova do governo, prédio moderno com esculturas lindas no saguão. É ali que Pepe despacha. Seguindo o roteiro fomos conhecer a igreja da Catedral, tudo muito barroco e indescritível, só vendo. Outra dica é pegar o Bus Tour, ônibus de dois andares, o de cima é aberto, no Mercado Del Puerto, ele passa por vários pontos turísticos, em duas horas e meia e dá para fotografar muito bem, tem que constar no roteiro. Seguindo com as dicas, a pizza no bar “Tranquilo” é boa e a cerveja de um litro, “Patrícia” é boa também, o que me deixou surpreso. Com o frio que faz no inverno, hoje fez oito graus, é melhor beber vinho CUNA da uva TANNAT, só encontramos seco, eu até prefiro, e tem um cheiro de uva super agradável.

Enfim, sou um uruguayo solidário, comprei minha bombilla, mate e cuia. Não queria falar, mas também comprei uma camisa da seleção, a Celeste, e vou para frente da prefeitura  amanhã, estava procurando a 21 do Cavani, mas não tinha do meu tamanho, então tive que levar a 9 do Suárez. Não estranhem se eu voltar mordendo!


Ricardo Mezavila.

O livro que não entreguei e o fantasma que exorcizamos


montevideo


O ônibus 191 não pasou em Ciudad Vieja, ele foi pela Calle Juan Benito Blanco, contornou a Rambla e tomou um rumo que  ignorávamos. Mas o nosso avião não parte hoje e, graças a deus, nem amanhã, por isso não temos pressa. Descemos e pegamos o 121 que vinha logo atrás e, este sim, nos deixou próximo de onde queríamos. Visitamos o Teatro Solis, o mais importante de Montevideo, onde os maiores artistas do mundo se apresentam como os brasileiros Gil, Caetano e Chico, assim falou a nossa guia.

Quando saímos de lá atravessamos a rua, eu queria entregar o meu livro para o presidente, fiz até uma dedicatória latina americana como os pensadores revolucionários. A sede do governo estava cercada, o policial disse para eu voltar em lunes, mas es imposssible porque é o dia do meu retorno, tudo bem, a dedicatória já está assinada vou enviar pelo correio quando chegar em casa.

Fomos convidados a assistir o jogo da seleção em um bar de brasileiros, com comida brasileira e caipirinha, claro que não fomos, queremos coisas diferentes, então fomos para uma adega no Mercado Del Puerto, a EL Peregrino, a casa tem cento e cinqüenta anos toda original, seus antigos donos eram ingleses, de Liverpool, as gerações que sucederam mantiveram a arquitetura e, principalmente, a atmosfera musical do espaço. Toda a decoração é rock’n roll, desde Chuck Berry, passando por Bil Halley, Elvis, Stones, Beatles e Bob Marley.

A recepção que tivemos fez com ficássemos por lá além do previsto, um casal de dançarinos de tango fez uma apresentação para nós, um show. Muita gente diz que não existe cerveja Patrícia com menos de um litro, lá tem de 750 ml.  Eu disse que a cerveza era muita boa e o amigo ao lado disse que era da AMBEV. Pronto, está explicado!

Para quem tem sede de cultura não tem como deixar de realizar a visita guiada pelo Teatro Solis, é uma mistura de visita intercalada com fragmentos teatrais, representado por atores do teatro. Durante a visita vimos várias apresentações, esquetes de grandes espetáculos. Sem falar que o ambiente é luxuoso e provocantemente inspirador. Eu escreveria um clássico só para ser apresentado naquele palco.

Descendo pela Calle Sarandi, tomamos o ônibus 62 para a Plaza Intendência, lá tem um telão onde as pessoas assistem aos jogos da Celeste, o cheiro da praça é “maconha pura”, chega a incomodar um pouco, um rapaz perguntou no horti-fruti se tinha para vender. Uns jovens ao nosso lado tinham a erva na mão enquanto um outro pegava o papel para enrolar o baseado, tudo dentro da lei. Milhares de torcedores não escondiam o nervosismo de um Uruguay sem Suárez. Como o jogo caminhava para um fim trágico, saímos dali e terminamos de assistir no “Tranquilo Bar”, que não estava nem um pouco tranquilo. Assistir a derrota do Uruguay foi decepcionante, mas não dá para deixar de sentir o gostinho, sessenta e quatro anos depois, de ver a Celeste ser eliminada na Maracanã. Somos os Caça-Fantasmas da copa de 1950.


Ricardo Mezavila.

Chivitos em la Punta Carretas



shopping punta carretas

Montevideo é uma cidade aparentemente tranquila e um pouco vazia se comparada com o Rio, por exemplo. Um vento úmido não para de soprar, tive a impressão de que estava chuviscando, mas era a umidade. Quando sobrevoamos Montevideo vimos muitos campos bem cuidados e várias comunidades rurais. A temperatura está doze graus e, por incrível que pareça, quando caminhava pelas ruas, eu estava menos agasalhado do que os uruguayos, parecia que eles eram os turistas e eu estava indo para casa depois de um dia de trabajo.

As lojas estão bastante enfeitadas com bandeiras do país por conta do bom momento na copa, nas janelas também avistamos bandeiras, assim como nos sinais de trânsito. Estão falando muito sobre a mordida de Luizito Suárez por aqui, tratam o assunto como “el caso Suárez”, dizem que o zagueiro da Itália já estava arranhado e que o juiz foi justo em não ter expulsado o atacante, na verdade estão com receio de que o artilheiro seja punido e não enfrente a Colômbia no sábado. Até o presidente Mujica, quando falava sobre educação pública se pronunciou quando foi surpreendido por um repórter que queria saber sua opinião: “No vi ninguna mordida de Suárez”

Quando íamos para o hotel conversamos com o taxista sobre política, turismo, futebol e marijuana. Foi a nossa primeira oportunidade de treinar o “portunhol” e nos saímos muy bien. Ele nos deu algumas dicas interessantes que vamos tentar aplicar. Subimos ao quarto e descemos imediatamente para comer “qualquer coisa” e acabamos indo para o Shopping Punta Carretas, comemos Chivitos, um sanduíche enorme com queijo, presunto, bacon, ovo, batata frita, tomate, alface, cenoura, pepino e pimentão, que é servido no prato. Acho que não vou ter coragem de encarar outro.

O uruguayo de Montevideo tem as características muito semelhantes com nosotros, se não abrirmos a boca passamos por um deles. Na telemundo, canal de televisão, está passando “La Guerrera” , ou seja, Salve Jorge, telenovela brasileira. O taxista disse que a novela Avenida Brasil fez grande sucesso aqui, mas ele não assiste telenovelas porque só ensinam como roubar e matar, foram suas palavras. No mais, achei engraçado algumas lojas vendendo um lençol azul com o número 50, insinuando ser o fantasma do maracanazo e o chopp pilsen é muito ruim.


Ricardo Mezavila.

Ônibus 116 e algumas dicas úteis


Montevideo


Para conhecer qualquer lugar, para mim, é preciso caminhar pelas ruas periféricas, aquelas que ninguém recomenda, e andar de ônibus. Nada como ficar meio que “perdido” até se achar em uma esquina com prédios antigos e teatros com aparência de ruínas, o que deixa a arquitetura ainda mais atraente. Andamos por Montevideo como se fôssemos mochileiros, caminhamos da Rambla de Pocitos até o Mercado Del Puerto, passando pela Ciudad Vieja, algo equivalente a ir a pé do Flamengo à Copacabana.

Quando se vai de um lugar a outro sem a menor idéia de distância, parece que o tempo colabora e a gente nem percebe o quanto caminhou. Quase todas as lojas, as farmácias sem exceção, são fechadas por portas de vidro e uma placa escrita “abierto”. O centro da cidade é um lugar movimentado onde se encontra a maioria das casas de câmbio e de artes. Avenida Dezoito de Julho é a principal, onde fica a Plaza Independência e a sede do governo uruguayo.

Quando passeamos pelo Parque José Enrique Rodó, muito lindo por sinal, notamos que aqui têm uma população enorme de cachorros, todos presos por coleiras. Depois caminhando pela Rambla tivemos a percepção de que as pessoas adoram cães, vimos várias com os seus passeando em grupo. Outra companhia do uruguayo é a garrafa térmica com água quente e a cuia com o chimarrão, é comum ver jovens, adultos e velhos sentados conversando ou simplesmente caminhando com a garrafa debaixo do braço.

Se alguém quiser vir ao Uruguay tem que conhecer e almoçar no Mercado de Puerto, se gostar de carne então...Vários tipos são assadas em parrillas bem à frente do consumidor, a fumaça é como nuvem dentro do  mercado e o cheiro é um atrativo impossível de ser rejeitado. Vimos vários executivos em pé tomando chopp e comendo algum tipo de carne, nós somos os turistas, eles estão em horário de almoço.

Talvez o maior problema quando se faz uma viagem é a cotação da moeda. Aqui o nosso Real é cotado a 8,40, 9,25 e 9,40 pesos uruguayos, mas se você for comprar e pagar em real o comércio aceita por 10,00. Então o melhor é procurar locais que aceitem a nossa moeda, mas temos sempre que ter a moeda corrente porque o transporte e algumas lojas só aceitam o peso. Mas que ninguém se iluda com a valorização do real, as coisas aqui tem preço equivalente, nós pagamos 48 pesos por duas garrafas de água, ou seja, 4,80 reais. A diferença é que podemos nos hospedar em bons hotéis, em bairros nobres com diárias dentro do orçamento, o que é impossível no Rio.


Quando voltamos do passeio pegamos o ônibus 116, os veículos são antigos e sintonizam  rádios estatais, o sistema de pagamento é igual ao nosso, com cartão, mas a máquina por onde passa o cartão e até quando se paga em dinheiro emite um cupom. O ônibus que estávamos enguiçou e tivemos que pegar o próximo, quando entramos a cobradora pediu o cupom de todos, ainda bem que não jogamos o nosso fora.  A nota fica triste fica por conta do bom velhinho da loja de artesanatos que nos comunicou que o Suárez foi punido por três meses.
Dá-lhe Forlan!!!!!