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sábado, 29 de dezembro de 2012

O Cheiro dos meus amigos




Como sou popular no meu bairro, é normal que eu receba muitos apertos de mão, abraços e beijos. Eu adoro a aproximação com as pessoas, mas o que fica depois disso é contestável. Eu não uso perfume ou desodorante, mas os amigos usam e de marcas diferentes. Quando chego em casa, depois dos abraços e dos beijos, minha roupa está loteada pelo cheiro dos meus amigos.

Além dos cheiros das marcas dos perfumes e desodorantes diferentes, tem o cheiro do cigarro e do meu próprio suor, combinação inflamável que pode explodir em lembranças, saudades e motivos para novas inspirações.

Hoje estou usando uma camisa preta clássica dos Beatles e isso faz com que a inspiração, na mesma proporção do cheiro, seja ainda maior. John Lennon prefere os cheiros mais potentes, com mais força, que possa transmitir além do que o vento possa ir, como uma mensagem de amor e de paz, uma ventania que leve a liberdade para além das fronteiras, das etnias e das religiões.

George Harrison gosta dos cheiros que lembrem as fumaças da Índia, dos gurus que vivem em cavernas e que transmitem seus conhecimentos em parábolas, nos vedas e nas orientações do Bhagavad Gita. É o doce senhor das canções de paz que ele tão bem divulgou por todo o planeta.

Ringo Starr, com sua pegada sonora, com sua privilegiada posição entre o baixo e a guitarra, faz o coração pulsar no compasso do cheiro hardcore e, ao mesmo tempo, agridoce, das flores tropicais que exalam no dia a ternura de uma canção vinda de dentro de um jardim.

Quando já estava pensando em tirar a camisa, ouvi uma tenra voz, como as vozes da minha infância, como as vozes dos amigos da esquina, como as vozes das professoras do primeiro período infantil, as vozes das crianças que faziam barulho nas filas dos refeitórios enquanto sentiam o cheiro do leite com canela. Então ouvi Paul McCartney invadindo o resto da noite que ainda havia e como em Yesterday: “Todos os meus problemas pareciam distantes”.

Ricardo Mezavila

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Quarto da Bagunça





Na minha época de criança tinha o “quarto da bagunça”, que era um quarto onde tudo era acomodado: brinquedos, jogos, bonecas, bolas e todo o tipo de bugiganga. Era o depósito de tudo que não podia estar nos lugares normais.  No geral passávamos a maior parte do dia neste quarto, que também hospedava os tios quando eles brigavam em casa com as tias e, também, os que levavam suas namoradas para apresentar à família.

Quando, na família, havia meninos e meninas, o quarto da bagunça virava o primeiro quarto do menino. E foi o que aconteceu lá na minha casa. Quando fiz sete anos, o quarto da bagunça passou a ser o meu quarto. Então muitas coisas foram para a reciclagem e para o lixo. Agora o antigo quarto da bagunça tinha um morador, alguém que não ia dividir seu espaço com bonecas riscadas com caneta Bic, mesmo aquelas rabiscadas pelo próprio e os tios que ficassem na sala tocando seus toca-discos para todos ouvirem.

Foi no quarto da bagunça que eu cresci e comecei a escrever meus primeiros versos, a compor algumas músicas, a rimar verbos e crescer dentro da gramática e da literatura. Aprendi, observando as coisas, a perceber que a vida era algo muito maior do que as lições da sala de aula, percebi que meus pais carregavam os mapas e que queriam que eu descobrisse onde estava o tesouro.

Depois de anos, o quarto da bagunça foi sendo modificado e algumas peças mudadas de lugar. Penso que precisamos, de vez em quando, fazer uma limpeza no quarto e acomodar as coisas de acordo com a sua natureza.

Nesse final de ano proponho uma faxina geral, uma limpeza que tenha como objetivo separar o lixo, identificar os resíduos e depositá-los em recipientes próprios. Melhor ainda, proponho que todos nós façamos uma reflexão sobre o quanto temos dificultado a vida do planeta e, desde então, iniciar um ato de reciclagem. E nunca se esqueça, nossa vida faz parte desse todo que é o equilíbrio e  para ter um planeta feliz é preciso que sejamos felizes.


Ricardo Mezavila

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Vamos voltar ao tempo da ignorância





Do nada, quer dizer, estávamos no bar, o camarada diz em alto tom interrompendo a conversa: “A gente tinha que voltar ao tempo da ignorância”. Eu olhei para ele e balancei a cabeça positivamente, da forma que costumamos fazer quando algum desconhecido se intromete no nosso papo. Voltei ao assunto, era sobre de como a tecnologia influencia no cotidiano, de como todo mundo com um celular registra tudo e a sensação é de vigilância integral. Novamente o vizinho de mesa disse que tínhamos que voltar ao tempo da ignorância.

Ignorância é falta de conhecimento sobre um determinado assunto, eu a defino assim, embora tenha outros significados carregados de preconceitos como ignorar alguém baseado em etnia ou religião; opção sexual ou política e outras tantas formas de discriminação. Bem, o amigo do lado – eu não o ignorei – dava seu pitaco coerentemente, a sua intervenção era pertinente ao que ele ouvia. Ele se referia ao tempo em que ainda não éramos portadores das bugigangas tecnológicas de hoje.

Então o assunto foi enriquecido pela opinião do ilustre e inconveniente parceiro que jurava não entender nada de informática. Disse que era feliz no seu analfabetismo digital, que preferia o rádio como meio de comunicação. Apesar da apologia à rusticidade e ao mundo das cavernas, o nobre colega disse que sempre incentivou seus filhos matriculando-os em cursos de informática e que atualmente todos estão formados.

Confesso que bateu um saudosismo dos tempos em que, para falar com alguém que estivesse em trânsito, tinha que esperar sua chegada. Hoje falamos com todo mundo a todo instante, em qualquer lugar ou situação. Senti saudades de sentir saudades. Nos dias atuais somos criaturas instantâneas, aparecemos nas “webcans” como no desenho The Jetsons. Ao contrário do analfabyte “bar goer”, eu sou dependente dessas quinquilharias outrora futuristas.

Na prática, a informatização é um avanço em todas as áreas, sem a qual a sociedade padeceria ainda mais da lentidão de como as coisas são tratadas. Evoluímos em quantidade e a tecnologia nos compacta em arquivos para que utilizemos melhor os espaços otimizados. Às vezes utilizo a ferramenta “auto-zipar” e descompacto lembranças do tempo em que abraçar alguém, ouvir a sua voz e sentir saudades eram sentimentos que vinham do coração e não de um disco rígido.

Ricardo Mezavila

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A resposta que Jesus não deu



Havard University


“Quid est veritas?” significa “O que é a verdade?” em latim. É a pergunta de Pôncio Pilatos a Jesus quando este era interrogado e disse que aquele que o escutava, escutava a verdade. Acostumamos ouvir o seguinte clichê: “essa é a minha verdade”. Isso é um equívoco porque ninguém detém para si a verdade. A verdade existe por si só, sem que haja interferência ou exclusividade. Esse erro deve-se ao fato de ainda não sabermos compreender o outro, respeitá-lo como gostaríamos que nos respeitassem.

Essa é uma das definições da verdade dada pelo senso comum: “É uma ilusão entre aquilo que acreditamos ser a nossa verdade e a verdade que nos é apresentada”.Uma definição bastante confusa de quem não sabe o que está dizendo. Garimpei essa outra: “A minha verdade é aquilo em que eu acredito, mas também sei que aquilo em que acredito pode não ser verdade”. Olhem o tamanho da confusão!

Tudo o que não for verdade não existe. A mentira, que usamos como sendo seu antônimo é uma ilusão, uma falsa ideia de que pode haver algo contrário à verdade. É algo parecido como a “peleja do diabo contra o dono do céu”; Deus existe e é a Verdade. O diabo é a ilusão de que pode alguém ou coisa se opor ao criador. Tanto o diabo quanto a mentira não existem. Quem quiser acreditar que sim, terá razão suficiente para discordar de mim porque, se eles existem na ilusão, é preciso que alguém os invente para que possam parecer verdadeiros, e aí ficam tão fortes, para quem acredita que os vê, quanto o que é real.

A resposta que Jesus não deu com palavras sempre foi e será tema de debates e estudos para filósofos, religiosos e cientistas de todas as épocas. Ali, diante do governador, Jesus se calou, eu penso, porque a verdade é o real, não precisa de mais nada para ser compreendida. Vê quem quer.

Ricardo Mezavila

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Love é Amor



 A palavra AMOR, em todas os idiomas, tinha que ser mudada para LOVE. Vou enviar um projeto para a ONU - Organização das Nações Unidas; UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura; OIT - Organização Internacional do Trabalho; OMS - Organização Mundial da Saúde; OEA - Organização dos Estados Americanos; OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte; FMI - Fundo Monetário Internacional. Se precisar convoco uma passeata e manifestação com os bichos e depois irei até Paris, arrasar no Olímpia, com um show de bossa nova e samba.

 

Eu, que sou, hoje menos, nacionalista radical, proponho que a nossa língua, tão adulterada por expressões, principalmente inglesas, passe por um processo de readaptação mundial. E isso podia ter início na substituição da palavra AMOR por LOVE, que é muito mais bonita e sonoramente muito mais musical. 

 

AMOR, pelo que entendemos aqui, tem múltiplos significados: afeição, compaixão, misericórdia, entre outros. LOVE teria somente dois: VERDADE e VIDA. Não estou pedindo a extinção da palavra, ela pode continuar por aí nos cativeiros da literatura, entre uma promessa e outra, nos olhares platônicos, na psiquê espiritual, nos estribilhos dos enredos, nas curvas de Eros, nos ágapes idealizados.

 

O ódio, como diz o senso comum - esfregando o indicador esquerdo no direito - anda ao lado do AMOR. Isso não existiria mais porque LOVE só vai andar na companhia da VERDADE e da VIDA, outros sentimentos não ousariam nenhuma aproximação, ficariam expostos demais e não trairiam ou enganariam mais ninguém. 

 

Com o passar do tempo, com o bom uso da palavra, acredito que o sentimento que representa a humanidade evoluiria para um plano de total pureza, protegido da mesquinharia e do assédio da paixão descontrolada.

 

Ricardo Mezavila

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Vamos viver essa "Bagaça"






Eu tenho um amigo que nunca admitiu ter medo de coisa alguma. Quando confrontado com algo extremamente perigoso, ele diz que não sente medo, e sim receio. É a forma que ele tem de despistar suas fraquezas. Entre os gêneros também os medos são despistados de alguma forma. O homem tem medo que sua parceira faça sexo, seja possuída por outro homem; a mulher tem medo que seu parceiro deixe de gostar dela para gostar de outra. Tudo dentro da margem de erro, claro.

Segundo estudos, quando nascemos sentimos medo de duas coisas: de cair e do barulho. Todos os outros medos serão adquiridos conforme começamos a perceber o que amedronta as pessoas que nos rodeia. Praticamente a covardia (meu amigo deve sentir falta de coragem) e o medo, vivem um matrimônio consentido e abençoado por muitos que reclamam da vida.

Podemos sentir medo de coisas boas e positivas. O medo de ser feliz e, de repente, por alguma razão, não mais; Medo de assumir um cargo importante e não sentir segurança em sua capacidade; o medo de voar de avião pode impedir que voce conheça lugares belíssimos (sobre voar o meu amigo diz que sente fobia, que é uma doença). Carlos Drumond de Andrade disse que “fomos educados para o medo”, isso é certo, concordo com o poeta de Itabira.

Enquanto vamos sentindo medo o tempo vai passando sem tomar conhecimento das nossas “paúras”. O certo é que a vida tem um fim, que não se pode lutar contra, não é como passar na prova ou vencer uma maratona. Um dia ela chega, assim, parecendo uma camponesa boliviana com sua foice e nos abraça sem que possamos tomar a saideira; na hora eu vou tentar: Peraí, deixa eu escrever mais um pouquinho! A certeza disso devia fazer o grande moinho da alegria girar sempre, todos os dias, com a energia eólica fortalecida pelo vento que sai do sopro de quando estamos sorrindo.


Ricardo Mezavila

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Arquiteto dos Horizontes


Mão, escultura de Niemeyer no Memorial da América Latina,      



Confesso que chorei quando soube da morte de Oscar Niemeyer, mesmo sabendo que, devido ao seu estado de saúde e da idade avançada, isso estava perto de acontecer. Estive no mesmo espaço que ele em comícios e eventos políticos, mas nunca tive a oportunidade de cumprimentá-lo, apertar sua mão e falar da minha admiração pelo seu trabalho e suas convicções sociais e políticas.

Na década de 1980 trabalhei em um banco onde o prédio foi projetado por ele, o Boavista, que também tinha a tela “A primeira Missa no Brasil”, de Portinari. A sede da União Nacional dos Estudantes, Hospital da Lagoa, anexo do Copacabana Palace, Edifício Manchete, o Museu de Arte Contemporânea, são alguns entre inúmeros projetos, no Rio de Janeiro, que saíram do lápis de Niemeyer, que era chamado de “O Arquiteto dos Horizontes”.

Seus últimos projetos foram a Universidade Federal da Integração Latino-Americana em Foz do Iguaçu que está sendo construída, e o Teatro Musical Rio’s no Aterro do Flamengo que ainda precisa do aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e da Prefeitura do Rio para sair do papel.

A direita quer manter este clima de poder, de injustiça social e de subserviência ao império norte-americano”, disse certa vez sobre o governo militar. Aliás, a grande admiração que tenho por ele é justamente na esfera política. Um homem que dizia que “o arquiteto não muda nada, está sempre ao lado dos ricos” era stalinista. Foi amigo de Fidel Castro, de quem dizia ser um “exemplo heróico para a juventude”, e de Luis Carlos Prestes a quem emprestou seu apartamento, no Rio de Janeiro, para que fosse o comitê do Partido Comunista. Em sua carta de renúncia, em 2008, o líder cubano citou-o: “Penso como Niemeyer, que se deve ser conseqüente até o final”.

O conjunto arquitetônico do Sambódromo foi a obra mais popular de Niemeyer no Rio de Janeiro. Ali, junto com Darcy Ribeiro, projetou a praça da apoteose que era, segundo o professor Darcy, para ser um espetáculo dentro do espetáculo. Talvez uma ação refletida na frase de Niemeyer: “A Humanidade precisa de sonhos para suportar a miséria; nem que seja por um instante”. Projetou também os Centros Integrados de Educação Pública, que tinha como objetivo a escola em tempo integral.

Deus criou o mundo e Niemeyer deu traços dentro da obra do criador, valorizou a inspiração do arquiteto do universo. Vejo a imagem de Oscar Niemeyer ligada aos movimentos artísticos como a poesia concreta e a bossa nova. Hoje vou passar o dia ouvindo a canção Linha do Equador de Caetano Veloso e Djavan, gosto da frase: Céu de Brasília, traço do arquiteto, gosto tanto dela assim.


Ricardo Mezavila

sábado, 1 de dezembro de 2012

De frente para as abelhas gigantes

Moti é um adolescente que vive no Nepal, mora com sua família, pai, mãe e três irmãos menores em uma casa emprestada por sua tia, entre as rochas do Himalaia. Como qualquer adolescente, Moti também sonha em ser um homem bem sucedido e respeitado. A maioria dos meninos que vivem na mesma situação de Moti sai da comunidade, entre as rochas, e vão para cidades onde possam encontrar estrutura para estudar e prosseguir.

O pai de Moti é colhedor de mel, uma tradicional tarefa que seus antepassados faziam e que é visto com respeito por todos da comunidade. A dificuldade em realizar a colheita dá a quem faz notoriedade e admiração. Para chegar até às colmeias, nos penhascos do Himalaia, ficam suspensos em frágeis escadas de bambu, arriscando suas vidas, além de enfrentar as abelhas gigantes e selvagens, a maior espécie do mundo. Depois de colhido, o mel é distribuído igualmente entre todos, ficando com uma porção a mais os que 
arriscaram a vida.

Moti foi pela primeira vez com os homens para colher o líquido dourado, o mel. A sua expectativa era grande, do tamanho de sua coragem. Ele sabe que será considerado um homem como seu pai e isso o deixa muito orgulhoso. Moti é um adolescente que não bate a porta do quarto quando os pais não compram o iPhone ou o último livro do Harry Potter; apesar de conhecer os “tesouros” do ocidente, ele escolheu dar continuidade a tradição e viver nas montanhas.

Eu penso em como precisamos dos valores de Moti, da sua coragem, determinação e respeito pela história. Moti é um verdadeiro homem, um patriota autêntico, possui as qualidades que falta aos que são alçados pela mídia na condição de exemplo a serem seguidos. As simples orientações que recebeu, ser ele mesmo, foram suficientes. Essa é a maior dificuldade que temos, a manutenção da nossa identidade, nos perdemos em meio aos apelos e acabamos pegando atalhos “montanhosos”, onde não há abelhas, mas cobras, que nos afasta do caminho por onde deveríamos estar seguindo.

Moti é diferente daqueles playboys que atropelam e matam trabalhadores à beira das rodovias, que não dão o menor valor à vida dos outros, não respeitam a dor da perda de uma família. Ficar pendurado em uma corda feita de bambu, na extraordinária beleza da Cordilheira do Himalaia para colher mel é uma aventura muito maior e menos perigosa do que “voar” com uma McLaren deixando rastros de sandálias e sangue no asfalto.

Ricardo Mezavila