Do nada, quer dizer, estávamos no
bar, o camarada diz em alto tom interrompendo a conversa: “A gente tinha que voltar ao tempo da ignorância”. Eu olhei para ele
e balancei a cabeça positivamente, da forma que costumamos fazer quando algum
desconhecido se intromete no nosso papo. Voltei ao assunto, era sobre de como a
tecnologia influencia no cotidiano, de como todo mundo com um celular registra
tudo e a sensação é de vigilância integral. Novamente o vizinho de mesa disse
que tínhamos que voltar ao tempo da ignorância.
Ignorância é falta de
conhecimento sobre um determinado assunto, eu a defino assim, embora tenha
outros significados carregados de preconceitos como ignorar alguém baseado em
etnia ou religião; opção sexual ou política e outras tantas formas de
discriminação. Bem, o amigo do lado – eu
não o ignorei – dava seu pitaco coerentemente, a sua intervenção era
pertinente ao que ele ouvia. Ele se referia ao tempo em que ainda não éramos
portadores das bugigangas tecnológicas de hoje.
Então o assunto foi enriquecido
pela opinião do ilustre e inconveniente parceiro que jurava não entender nada
de informática. Disse que era feliz no seu analfabetismo digital, que preferia
o rádio como meio de comunicação. Apesar da apologia à rusticidade e ao mundo
das cavernas, o nobre colega disse que sempre incentivou seus filhos
matriculando-os em cursos de informática e que atualmente todos estão formados.
Confesso que bateu um saudosismo
dos tempos em que, para falar com alguém que estivesse em trânsito, tinha que
esperar sua chegada. Hoje falamos com todo mundo a todo instante, em qualquer
lugar ou situação. Senti saudades de sentir saudades. Nos dias atuais somos
criaturas instantâneas, aparecemos nas “webcans” como no desenho The Jetsons. Ao contrário do analfabyte
“bar goer”, eu sou dependente dessas
quinquilharias outrora futuristas.
Na prática, a informatização é um
avanço em todas as áreas, sem a qual a sociedade padeceria ainda mais da
lentidão de como as coisas são tratadas. Evoluímos em quantidade e a tecnologia
nos compacta em arquivos para que utilizemos melhor os espaços otimizados. Às
vezes utilizo a ferramenta “auto-zipar” e descompacto lembranças do tempo em
que abraçar alguém, ouvir a sua voz e sentir saudades eram sentimentos que
vinham do coração e não de um disco rígido.
Ricardo Mezavila
Nenhum comentário:
Postar um comentário