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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Dia do Trabalhador Terceirizado






Talvez no dia primeiro de maio do ano que vem, a Lei da terceirização esteja plenamente em vigor no Brasil. De um lado a empresa contratada, prestadora de serviço, lucrando com a força de trabalho do trabalhador terceirizado; do outro lado, a contratante, lucrando com a redução na folha de pagamento e dos encargos trabalhistas.

O trabalhador terceirizado em comparação ao trabalhador com carteira assinada tem salário reduzido, jornada aumentada, e permanece menos tempo no emprego. A instabilidade é representada nesse despretensioso esquete: O trabalhador sai de casa, no caminho para o trabalho recebe uma ligação dizendo que não precisa ir trabalhar, porque a produção da contratante foi reduzida ocasionando o fim do contrato. E agora?

O trabalhador terceirizado precisa pagar seu aluguel, alimentar e manter seus filhos na escola; tem que pagar a fatura do cartão, assinatura da TV a cabo, tarifa de luz e de gás. Ele só recebe se a empresa contratante estiver com suas contas no azul, basta uma pequena ameaça vermelha, e a empresa atira seus terceirizados na inadimplência. Quando as coisas melhorarem basta entrar em contato com a contratada que eles mandam uma peça para reposição.

O trabalhador vai ter direito à indenização, mas corre o risco de a empresa contratada, aquela que o apresentou ao grande espetáculo da terceirização, não esteja mais funcionando, ou tenha trocado de nome e endereço. O trabalhador vai recorrer à justiça do trabalho e acionar a contratante, que vai ter que vestir o uniforme de ré. O tempo vai passar e o terceirizado não conseguirá colocação porque está “queimado” no mercado e, provavelmente, não contará com um sindicato que possa defender seus direitos.

Ele volta para casa, senta no sofá e, se fosse hoje, ficaria sabendo que o vulcão Cabulco entrou em erupção no Chile; que um jovem negro foi assassinado pela polícia em Baltimore; que um devastador terremoto deixou mais de quatro mil mortos no Nepal; que um brasileiro esquizofrênico foi executado, sob pena de morte, na Indonésia. Como estará em 2016, assistirá ao documentário sobre os trinta e cinco anos do atentado terrorista militar no dia primeiro de maio, no Riocentro, durante o show em homenagem ao trabalhador, em 1981.

Historicamente, o dia do trabalhador tem origem na luta operária pela redução da jornada de trabalho. Em uma das manifestações em primeiro de maio de 1886, em Chicago, durante conflito com a polícia, uma bomba estourou matando operários e policiais. Os dirigentes sindicais, organizadores das manifestações foram executados, por terem sido considerados responsáveis pelas mortes. Talvez o sargento e o capitão do caso Riocentro estivessem por ali, no estacionamento, para homenagear a bomba de Chicago.

Na certeza de que o Congresso não legisla para os trabalhadores, que deputados e senadores representam seus próprios interesses, resta ao trabalhador comemorar, de preferência em um ato contra a PL 4330, o seu dia este ano, como se não fosse o último.  

Ricardo Mezavila - Escritor

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Carimbo social e solidário

acessibilidade


Em décadas passadas alguém que tivesse alguma limitação física ou intelectual sofria preconceito causado pela falta de informação, tanto de seus familiares, quanto da sociedade em geral. Isso ainda não está totalmente resolvido, mas a qualidade da informação trouxe um olhar mais compreensivo e menos ignorante sobre essa realidade. Estados e municípios criaram secretarias próprias que atendem quem precisa de atenção especial; promovem fóruns e convenções para a proteção e promoção dos direitos e dignidade dessas pessoas.

Apesar das conquistas sociais e dos avanços da ciência, ainda se discute a forma adequada de chamar a pessoa com deficiência. O uso de um vocabulário inadequado pode refletir preconceito e gerar mal estar. O Brasil ratificou o termo Pessoa com Deficiência, com valor de emenda constitucional em 2008, da decisão resultante da Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das Nações Unidas – ONU.

Segundo os que se debruçaram sobre o tema, não podemos nos referir a alguém como sendo portador de alguma deficiência, porque ela não a porta, não carrega a sua deficiência, ela a tem. O termo cadeirante, também segundo os que participaram da convenção, deve ser evitado, porque a cadeira de rodas é o instrumento que a pessoa utiliza para se locomover, e não o que ela é.

Quando a pessoa com deficiência for olhada mais como pessoa e menos como deficiente essas terminologias, politicamente corretas, não serão como carimbos na pele. Os parlamentares precisam olhar com mais eficiência e objetividade para essas questões. Temos que ter a consciência de que nem toda deficiência é congênita, ela pode ser adquirida. Qualquer um pode se tornar um deficiente de uma hora para outra e ter toda sua vida modificada e atrelada a cuidados especiais.

Discussões técnicas e acadêmicas à parte, deixo de lado minha verve poética para pegar emprestado um texto de Mario Quintana e homenagear minha terna e especial filha, Júlia Morena, que é portadora de muito amor, de muita esperança, de altruísmo e fé. “Deficiente é aquele que não consegue modificar a vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência que é dono do seu destino... paralítico é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda... diabético é quem não consegue ser doce”.



Ricardo Mezavila

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Somos todos jornalistas

redação antiga


A melhor coisa do Facebook é que, visto com um pouco de paciência, se parece com a redação de um jornal. As diversidades das publicações se aproximam das seções e cadernos dos diários. Entrei um minuto e li notícias sobre esportes, política, culinária, criminalidade, vida animal, religião, economia, diversão & lazer, humor, obituário, entretenimento, jogos, ciência &saúde, cultura & arte, coluna social e até classificados e horóscopo.

Os “jornalistas” não só compartilham notícias como fazem comentários a respeito. Tem opinião para o agrado de todas as tendências. E, não raro, ainda realizam veementes debates sobre questões relevantes da sociedade. Eu fico na seção OPINIÃO com meus textos, às vezes mais para articulista, às vezes mais para cronista. Agradando ou não, temos que ter compromisso com o que acreditamos e respeitar sempre as opiniões contrárias.

Esse olhar sobre o Facebook é revelador, instiga a capacidade intelectual, ativa e aguça o senso de pensar e produzir. É um exercício factual com doses escondidas de veneno na receita do pudor, mas que não estraga o produto e nem faz mal ao estômago.

Sem perceber colaboramos informalmente com a informação, como a imprensa alternativa faz. Antes da informatização éramos apenas leitores, agora somos todos jornalistas. As ferramentas são muitas e todas facilitam a prática do jornalismo em casa, no trabalho, na rua, no transporte, em todos os lugares podemos contribuir fora do modelo clássico e da norma culta oficial dos grandes meios de comunicação.

Então, não sejamos como os frustrados jornalistas que não veem aqui uma possibilidade, e não percebem que rola uma interação totalmente variada, que converge e diverge o tempo todo, ora com a eficiência crítica e valente de um paquiderme, ora com a futilidade charmosa e a carência materna de um filósofo.


Ricardo Mezavila.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

A crônica que o Affonso fez pra mim




Foi em mil novecentos e oitenta e seis, no Caderno B do Jornal do Brasil, que Affonso Romano de Sant’Anna escreveu a crônica “E ainda nos acusam de preguiçosos”.  Inspirado, como ele mesmo me disse em um evento na Casa de Cultura Laura Alvim, em um poema que meu amigo Samuel enviou para ele. Nem precisava dizer, pois o meu nome e uma frase do poema estão em epígrafe na crônica.

Quem diria que sou do tempo em que os amigos enviavam cartas, se interessavam em ler poesia, trocavam discos e livros; os jornais tinham seus cadernos de cultura disputados nas areias e nos ônibus; o cronista sabia as entrelinhas dos comportamentos, sabia escrever na alma o que ela sentia sem saber; a literatura era uma arte delicada, sentava à mesa nas refeições, deitava na cama e colhia frutos doces nos sonhos.

O poema que Samuel enviou foi escrito sob a pressão de dias de muita dedicação ao trabalho. Eu tinha, assim como o ator Terry Crews no seriado Everybody hates Chris, dois empregos. Um na zona sul e outro na zona portuária, eu morava na zona oeste, assim  fica fácil entender o porquê da pressão. Num dia daqueles saí de um emprego e fiquei vagando pelas ruas de Copacabana sem querer ir para o Santo Cristo. Entrei em uma adega e pedi uma caneca de vinho, bebi e fui para casa, em Jacarepaguá.

A doçura das lembranças são brisas mornas, às vezes quentes, ás vezes frias, mas sempre na temperatura de um sorriso monalísico e de um olhar faraônico. Olhar para o lado é a linha do Equador entre ontem e amanhã, é o passo seguinte que pode ser à direita, esquerda, ou o passo cego que a gente tanto usa e que um dia se torna arrependimento e tristeza.

Affonso Romano de Sant’Anna em sua crônica contou que, apesar de ser o povo que mais trabalha e que tem a pior divisão de renda no mundo, o brasileiro é, tradicionalmente, conhecido como preguiçoso. Como as coisas têm mudado muito entre mil novecentos e oitenta e seis e dois mil e quinze, concordo um pouco com essa fama. O trabalhador tem preguiça de enxergar que chegou ao poder, passou pelo poder e deixou que o poder fosse roubado. Durante esse tempo ele só queria que sua mulher não o traísse e que o patrão não atrasasse seu salário.

A frase que serviu de assunto para o Affonso foi:...E não deixar os sonhos de minha família nas mãos dos meus patrões. Uma frase bacana dentro de um poema que tinha: Não encontro tempo para um encontro. Esta frase mereceu elogio, por carta, do poeta mineiro que a comparou com uma frase de Vinícius de Moraes: “A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”.

Deixo aqui, uma coisa que mudou para melhor foi a gente beijar mais os amigos, um beijo para todos.

Macunaíma é o caralho!


Ricardo Mezavila.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

A Barca da China

barca ipanema


Não sei se foi só comigo, mas na primeira vez em que sobrevoei a Guanabara com destino ao Rio, olhando o Redentor cantei: “esse samba é só porque, Rio eu gosto de você”. Acredito que seja automático lembrar da música Samba do Avião, de Tom Jobim, quando estamos chegando de avião e temos aquele sentimento de que vivemos em uma cidade maravilhosa. A travessia para Niterói também tinha seus encantos, principalmente quando chegávamos na Cidade Sorriso e bebíamos Mineirinho, refrigerante difícil de se encontrar do lado de cá da baía.

Reminiscências à parte, hoje as canções são menos cheias de graça. O governo estadual comprou provenientes da China embarcações que visam melhorar a demanda na travessia Rio-Niterói. Tudo bem, as antigas “Martim Afonso” e “Ipanema”, são barcas que precisam ser aposentadas dos horários agitados, da correria desses heróis trabalhadores. Podem realizar passeios tranqüilos de turismo pelas ilhas, riscar as águas sem pressa, ouvir risadas das crianças, afagos dos namorados e suspiros dos mais velhos.

Voltando às barcas chinesas, o governo cometeu uma sucessão de equívocos que me fez pensar na música Inútil, da banda Ultraje a Rigor: “a gente faz carro e não sabe guiar, a gente faz trilho e não tem trem pra botar”. Exatamente como na música, o governo comprou as embarcações, só que elas são grandes demais e não cabem no estaleiro.

Se não bastasse essa anomalia administrativa, a barca que era para diminuir o tempo de percurso é mais lenta. A primeira embarcação demorou três meses para entrar em operação porque não tinha plataforma adequada, a tripulação não tinha sido treinada e não tinha a documentação para trafegar. O governo disse que “esqueceu” de combinar com o estaleiro sobre a manutenção da barca, ela não cabe no Píer para manutenção e reforma.

Essa operação custou montanhas de dinheiro que saíram dos cofres públicos. A concessionária, que já vinha reclamando de sucessivos prejuízos, ameaça devolver a concessão ao governo se as tarifas não forem majoradas para bancar as despesas operacionais do sistema, as reformas nas plataformas e a manutenção das embarcações. O valor da tarifa passaria para um valor acima de dez reais, o que geraria insatisfação entre os usuários.

Especialistas em mobilidade urbana dizem que as regras para o aumento de tarifa não é clara. Ninguém sabe como se faz o preço e se calcula os reajustes. E, ainda no terreno do surreal, o secretário estadual de transporte disse que não sabia da negociação. Saindo das águas e indo para as ruas, o bondinho de Santa Tereza ainda não pode circular porque os paralelepípedos, mal colocados, impedem a passagem dos freios dos veículos. “A gente somos inútil”.

A coisa nasceu para dar errado porque a primeira embarcação foi batizada de “Pão de Açúcar”. Não podia dar certo mesmo, um negócio da china nunca vai se encaixar na paisagem descolada do carioca.



Ricardo Mezavila.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Civismo e Ódio



do youtube

Com os cacarecos deixados nas ruas após a manifestação Frankenstein contra a legitimidade do governo, encerra-se o processo eleitoral iniciado em 2014. A manifestação foi Frankenstein porque grupos heterogêneos caminharam juntos, como fazem os grupos que se alinham ideologicamente, mas gritaram palavras de ordens incoerentes umas com as outras. Um grupo pedia democracia, impeachment e outro interdição militar e extinção dos partidos de esquerda. Ainda havia os grupos que pediam o fim da terceirização ampla que ainda está para ser discutida no Congresso.

A falta de informação só não foi maior do que a necessidade de aparecer e, por isso, pela exposição e selfies, tanta gente foi às ruas. Já vimos grupos marcando nas redes encontros em shoppings, os rolezinhos; torcidas organizadas marcam confrontos em vias públicas em dias de jogos e o fenômeno histórico das manifestações do Passe Livre, em junho de 2013. Ter acesso ao que vai acontecer tornou-se fácil e, para a grande maioria, virou moda.

A mídia sempre foca na quantidade de pessoas que foram às ruas, mas isso pode ser significante para o governo e oposição, mas não representa absolutamente nada porque o comprometimento das pessoas com o motivo que as fizeram sair de casa é quase zero. A imprensa favorável faz a cobertura de helicóptero, não entrevista nenhum manifestante ao vivo porque sabe que vai ouvir disparates, respostas despropositadas e destituídas de razão e de senso.

Por outro lado tem repórteres que fazem perguntas básicas como: “o que você acha da terceirização?”. Com as respostas os manifestantes: “eu acho que a Dilma está terceirizando para cair fora”; “sou super a favor, qualquer manifestação em prol da população eu sou a favor”; “não é hora de falar de terceirização enquanto o povo tá passando fome”;  “como médica eu trabalho como firma, né? Terceirizada”; “eu só acho que tem que ser mais pensado mais elaborado, por enquanto”; “se ela tivesse culhão, estaria lutando contra a terceirização”.

Uma mídia alternativa flagrou o momento em que uma senhora questionou um manifestante e foi agredida verbalmente e perseguida pelas ruas de Copacabana, bem no estilo daqueles filmes onde zumbis perseguem os vivos, sendo preciso a intervenção da polícia que fez sua escolta. A intolerância é a principal arma dos organizadores das manifestações e isso contamina aqueles que vivem no limbo político.

O que falar dos grupos nas redes sociais que pregam a moralidade, lisura, são contra a corrupção, mas vendem camisetas do grupo e não repassam nota fiscal? Nas ruas vendem uma camiseta tipo “Manifeste” por vinte reais, enfiam o dinheiro no bolso sonegando imposto. Manifestante qual é a sua cara?

Para encerrar o processo eleitoral fico com a imagem dos esquilos da Mongólia e dos Hamsters soltos na CPI, eles não são ratos, mas são roedores e primos das ratazanas.


Ricardo Mezavila.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

A favor do contra

cmt


Uma coisa está evidente no momento político atual, existe muita vontade em mudar o quadro que aí está. O Congresso e o Planalto disputam uma incansável batalha que pode prestar relevantes serviços à nação. Toda hora acontece um fato novo, uma discussão nova, não só sobre corrupção, isto é golpe baixo, mas algumas discussões devem sim estar na pauta dos nossos dias.

A atual fica por conta da terceirização de toda e qualquer atividade, com a possibilidade de que as empresas passem a terceirizar não só a atividade-meio (que não é inerente ao objetivo principal da empresa, ou seja, necessária, mas não essencial), mas também a atividade-fim (a que caracteriza o objetivo principal). Por exemplo, em uma agência bancária os trabalhadores da segurança e da limpeza são classificados como atividade-meio, são terceirizados, suas funções não estão entre as atividades principais do banco. Com a aprovação da terceirização da atividade-fim,  os trabalhadores de cargos referentes aos objetivos do banco como, caixa, gerente e tesoureiro, podem vir a ter esse tipo de contrato.

De um lado há quem seja contrário, a alegação é de que os terceirizados ganham salários inferiores e sofrem acidentes de trabalho com maior frequência. Do outro lado há quem defenda alegando que vai gerar mais oportunidades e que a diferença de salário vai se transformar em lucro para as empresas.

Sindicalistas são contra porque o texto do  PL não assegura a filiação dos trabalhadores terceirizados no sindicato de atividade da empresa, o que enfraqueceria, segundo lideranças sindicais, a organização dos trabalhadores terceirizados.

Dentro dessa celeuma é imperioso destacar outro balaio trabalhista, o direito do trabalho do jovem adolescente. A Constituição da República assegura aos trabalhadores adolescentes a garantia de direitos previdenciários e trabalhistas. O Estatuto da Criança e do Adolescente, de outra forma, estabelece que é proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. Existem leis especiais que regulamentam esses dispositivos, inclusive na CLT, mas a literatura que trata dos artigos parece não ser do interesse de empresas públicas e privadas.

O adolescente pode ser inserido legalmente no mercado de trabalho através da Lei da Aprendizagem ou do Estágio. Outra forma de iniciar sua atividade laboral é através do controverso Trabalho Educativo, que ocorre quando o adolescente presta serviço em entidades sem fins lucrativos, que possuam um programa em que a finalidade educativa prepondere sobre a produtiva. Essa forma aproxima os adolescentes do mercado comum de trabalho, mas não lhes garante os direitos trabalhistas, sendo a instituição intermediária formadora de suas habilidades e acompanhamento nas empresas.

O Trabalho Educativo foi, por anos, gerador de oportunidades para meninos e meninas moradores em áreas de risco, que tinham o ócio e as ruas como alternativa e atrativo. Assim como a polêmica da Terceirização, também tinha e ainda tem, quem defenda e seja contrário. Tanto um lado como outro, usam os mesmos argumentos para teses diferentes. O principal é de que a desburocratização vigente nessa atividade facilita a entrada do adolescente prematuramente no mercado. Se por um lado existe um trabalho preventivo inibidor de que após a escola regular o adolescente fique à mercê da violência das ruas, por outro, questiona-se que, já que existe uma relação de trabalho tem de haver direitos trabalhistas garantidos.

O impasse está entre o legal e o justo. O adolescente tem o direito de ter um lar, educação, lazer, mas quando essa base social inexiste por razões adversas, não se pode atirar um inocente ao vento, ao acaso de uma situação que o conduza para a margem da sociedade. A divisão entre o “a favor” e “o contra” contribui para que, cada vez mais, a sociedade seja pega de surpresa com polêmicas intermináveis e insolúveis.

Ricardo Mezavila.

Presidente da Casa do Menor Trabalhador.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Trocando fralda de bandido

Caetano no FIC


A impressão que tenho é de que estamos, pouco a pouco, desistindo dos jovens e eles de seus sonhos. Na década de 1970 cantávamos: “liberdade é uma calça velha, azul e desbotada”. Com a massificação consumista e a nova ordem de comportamento ditada pela tecnologia, sonhar passou a ser meramente uma conseqüência de quem está dormindo, é uma manifestação instintiva que nos faz reviver lembranças de fatos ocorridos no dia a dia.

Essa nova ordem tecnológica da exposição pela exposição, fez o governador Pezão passar por uma saia justa quando participava, ao vivo, de um programa jornalístico. Ele falava sobre o aumento do efetivo da polícia militar na reocupação do Complexo do Alemão. A apresentadora colocou na tela um vídeo de um  policial militar, gravado pelo próprio, acariciando uma metralhadora e dizendo que “neném vai cantar para bandido mimi”. Agora temos que conviver com as balas perdidas e com servidor público querendo trocar as fraldas e amamentar bandido. É essa a polícia que vai ocupar o Alemão?

Reduzir a maioridade penal, escolas em tempo integral, garantir acesso à habitação, aumentar o efetivo de policiais nas ruas, fortalecer as ações de reintegração de adolescente autor de ato infracional, são algumas das estratégias que o poder público e a sociedade têm como alternativas para reduzir a violência cometida por jovens menores de dezoito anos. Na prática o que assistimos é o sempre do mesmo, muita vontade e pouca ação.

Ao mesmo tempo em que parte da sociedade apoia a redução da maioridade penal como meio de punição, o poder público, desastrosamente, através da ausência de políticas sociais efetivas e do despreparo de policiais em simples abordagens, vai ceifando adolescentes do convívio de suas famílias. O pai do menino Eduardo de Jesus, assassinado barbaramente enquanto jogava em um celular na porta de sua casa, no Complexo do Alemão, disse que não enterraria seu filho no Rio, o enterro aconteceu em sua cidade, no Piauí. O Rio está deixando de ser digno até para os mortos.

Como sabemos o regime de exceção não era favorável ao sonho de liberdade, mas em reação ao autoritarismo, os jovens eram motivados a construir um mundo possível, sem utopias inatingíveis, mas dentro de uma realidade vertical e consequente, que os conduzisse de um lado ao outro do rio dentro de um barco mais ou menos seguro.

Caetano Veloso quando interrompeu, sob vaias, a música “É proibido proibir”, no festival no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, em 1968, perguntou em seu famoso discurso: “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?”. Então, na ausência de uma “tarde gris” poética e romântica no Rio de Janeiro, os exterminadores passeiam a tarde inteira “entre os girassóis”.


Ricardo Mezavila.

domingo, 5 de abril de 2015

Não somos vingadores

internet


A maioridade penal é cláusula pétrea, ou seja, dispositivo constitucional imutável, que não pode sofrer revogação. Isso ocorre quando o assunto é crucial para a cidadania e para o Estado. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos deputados aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reduz de dezoito para dezesseis anos a maioridade penal. Agora será criada uma comissão especial que debaterá o tema antes que seja apreciado em plenário.

O texto que discute alterar a Constituição para reduzir a imputação penal já deixou de ser menor de idade há cinco anos. São vinte e três anos de debates no Congresso sem que se chegue a um termo. O tema é muito polêmico e bastante significativo dependendo do contexto em que é debatido. A sociedade anda impaciente e vive em estado de insegurança pública permanente, os noticiários dos telejornais foram invadidos pelas lentes das câmeras de segurança instaladas em todos os lugares, criando pânico coletivo.

A bancada da “bala”, deputados ligados à área de segurança pública e que são favoráveis ao texto da redução, tem o apoio dos familiares vítimas de violência cometida por menores, enquanto grupos ligados aos Direitos Humanos divergem da matéria. Os deputados que votaram a favor comemoraram o resultado da votação como se houvesse motivo de comemoração, deviam envergonhar-se porque como representantes da sociedade não são capazes de legislar a favor da infância e do livro, recorrendo às algemas.

Atuando há vinte anos com adolescentes moradores em áreas e risco, eu sou contra a redução por uma questão muito simples, e que é consenso entre pais e professores: Educar é melhor do que punir! Quando a educação é preterida, o Estado permite que se criem guetos de excluídos. Pessoas que se sentem injustiçadas passam a viver em uma órbita social paralela, onde o ideal é qualquer coisa que lhe permita ser dominante, não existe parâmetro para quem não recebe carinho e é tratado sem respeito.

A sociedade não pode se travestir de vingador, ela tem que exigir que se faça justiça social para que menos adolescentes passem a ter o crime como opção de existência. Sim, a redução pode coibir, fazer com que o menor pense dez segundos antes de se tornar infrator, mas também pode nascer a consciência de que aos quatorze, aos doze, aos dez, são fortes o suficiente para cometer os mesmos atos.

O nosso sistema penitenciário é precário, a demografia carcerária é “chinesa”, a justiça é lenta e a polícia mal remunerada. Precisamos aumentar e qualificar professores e restaurar e construir mais Escolas. A sociedade precisa aprender a ser solidária, não só no câncer, mas nas questões básicas, e participar de debates que podem evitar que se condene um feto à prisão por motivo socioeducativo e cultural.


Ricardo Mezavila.

Aos coelhinhos peludos e coelhinhas peladas (mensagem de páscoa)

D. Helder


Não há porque tratar a páscoa como um dia triste onde devemos todos refletir em clausura, a gente deve sempre refletir, mas também nos domingos não-páscoa, nas sextas-feiras não-santas, nos sábados não-aleluia e nas horas não-ave-marias. Páscoa em hebreu quer dizer passagem, para os cristãos é o dia da ressurreição do Cristo. Páscoa também quer dizer “ser feliz”, “estar alegre”.

Neste domingo de páscoa devotos de todo o país estarão mobilizados com a expectativa de canonização de Dom Hélder Câmara, o “Bispo Vermelho”, tachado assim pelos militares por ser considerado comunista. Dom Hélder foi candidato ao Prêmio Nobel da Paz, por seu reconhecido trabalho onde virou símbolo contra a pobreza. O ex-arcebispo de Olinda e Recife também era conhecido como o “Dom da Paz”.

Caso venha a ser canonizado e posteriormente tornar-se santo, eu vou acreditar em milagres e até passo a ser católico de fé. Conheci Dom Hélder nos comícios pelas diretas em 1983/1984, quando realizava palestras de conscientização por todo o país. Esteve junto com Jango nas reformas de base, em 1962; dedicou-se a Teologia da Libertação e denunciou as torturas e a situação dos presos políticos.

Aos coelhinhos peludos e coelhinhas peladas, desejo uma páscoa feliz, que seus lares sejam abençoados pela inteligência crítica para compreenderem os fatos, pela descoberta do ser político que habita em nossos corações, por mais participação ativa nos movimentos sociais. O coelho, símbolo da páscoa, representa a fertilidade e o ovo, o começo da vida. Que hoje seja o dia da nossa ressurreição para que nossa vida seja fértil e recomece todos os dias.


Ricardo Mezavila.