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quinta-feira, 16 de abril de 2015

A crônica que o Affonso fez pra mim




Foi em mil novecentos e oitenta e seis, no Caderno B do Jornal do Brasil, que Affonso Romano de Sant’Anna escreveu a crônica “E ainda nos acusam de preguiçosos”.  Inspirado, como ele mesmo me disse em um evento na Casa de Cultura Laura Alvim, em um poema que meu amigo Samuel enviou para ele. Nem precisava dizer, pois o meu nome e uma frase do poema estão em epígrafe na crônica.

Quem diria que sou do tempo em que os amigos enviavam cartas, se interessavam em ler poesia, trocavam discos e livros; os jornais tinham seus cadernos de cultura disputados nas areias e nos ônibus; o cronista sabia as entrelinhas dos comportamentos, sabia escrever na alma o que ela sentia sem saber; a literatura era uma arte delicada, sentava à mesa nas refeições, deitava na cama e colhia frutos doces nos sonhos.

O poema que Samuel enviou foi escrito sob a pressão de dias de muita dedicação ao trabalho. Eu tinha, assim como o ator Terry Crews no seriado Everybody hates Chris, dois empregos. Um na zona sul e outro na zona portuária, eu morava na zona oeste, assim  fica fácil entender o porquê da pressão. Num dia daqueles saí de um emprego e fiquei vagando pelas ruas de Copacabana sem querer ir para o Santo Cristo. Entrei em uma adega e pedi uma caneca de vinho, bebi e fui para casa, em Jacarepaguá.

A doçura das lembranças são brisas mornas, às vezes quentes, ás vezes frias, mas sempre na temperatura de um sorriso monalísico e de um olhar faraônico. Olhar para o lado é a linha do Equador entre ontem e amanhã, é o passo seguinte que pode ser à direita, esquerda, ou o passo cego que a gente tanto usa e que um dia se torna arrependimento e tristeza.

Affonso Romano de Sant’Anna em sua crônica contou que, apesar de ser o povo que mais trabalha e que tem a pior divisão de renda no mundo, o brasileiro é, tradicionalmente, conhecido como preguiçoso. Como as coisas têm mudado muito entre mil novecentos e oitenta e seis e dois mil e quinze, concordo um pouco com essa fama. O trabalhador tem preguiça de enxergar que chegou ao poder, passou pelo poder e deixou que o poder fosse roubado. Durante esse tempo ele só queria que sua mulher não o traísse e que o patrão não atrasasse seu salário.

A frase que serviu de assunto para o Affonso foi:...E não deixar os sonhos de minha família nas mãos dos meus patrões. Uma frase bacana dentro de um poema que tinha: Não encontro tempo para um encontro. Esta frase mereceu elogio, por carta, do poeta mineiro que a comparou com uma frase de Vinícius de Moraes: “A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”.

Deixo aqui, uma coisa que mudou para melhor foi a gente beijar mais os amigos, um beijo para todos.

Macunaíma é o caralho!


Ricardo Mezavila.

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