Se antes
eu ficava indignado com a ausência das pessoas nas questões
sociais e políticas, pela falta de participação
naquilo que governa as nossas ações, hoje eu continuo
indignado mas pelo motivo contrário, as pessoas estão
mais participativas só que de maneira genérica, saindo
do estado de letargia para a de reprodutoras, sem fundamentação,
das polêmicas que nos afligem. Falo assim quando percebo nas
redes sociais a opção “compartilhar” sendo usada
indiscriminadamente por todos para expor o assunto do momento.
Ora
compartilham o apoio a uma nova lei ou mudança de um estatuto,
ora compartilham apoio a determinada figura à presidência
só porque a tal figura não fez mais do que a função
do seu cargo exige. Dando uma rápida conferida nas redes dá
para notar que as bolas da vez são: a homofobia, a
intolerância religiosa e a diminuição da
maioridade penal. Como se isso fosse suficiente para a transformação
da sociedade.
Tem gente
que compartilha para ficar de bem com a sua consciência,
acredita que compartilhando vai estar usando de cidadania e
livrando-se da culpa caso as coisas não mudem: “pelo
menos fiz a minha parte, compartilhei”. Esse falso sentimento
de participação é mais perigoso do que a
alienação porque passa a falsa sensação
de estar quites com seus deveres enquanto membro desse aglomerado que
chamamos de sociedade. E não tem como sacar em meio aos
milhares de “compartilhar” uma exceção, não
tem como não ser supérfluo e vazio diante das
reivindicações por este modelo, nenhuma discussão
está agregada ao ato simples de compartilhar um manifesto ou
opinião.
Os
eventos que poluem as redes sociais são legítimos, não
há como negar, e seria muito interessante se, além de
compartilhar apoios, também viessem convites para reuniões
e atos de repúdios contra aquilo ou aquele que se tornou alvo
dos manifestos.
Acompanho
assustado os compartilhamentos sobre a maioridade penal, se não
houver ações educativas que estruturem as bases da
educação efetivamente, com escolas e professores de
nível, com secretarias e ministério da educação
integrados e com o apoio do legislativo, periga a cada cinco anos as
pessoas estarem compartilhando a diminuição da idade
penal para 12,10 anos.
Não
é por aí que a gente vai viver em um país justo,
aliás justiça não é somente punir, mas
garantir direitos básicos e primários para que a pessoa
cresça com dignidade e seja protagonista de sua própria
vida.
Ricardo
Mezavila