Pode entrar,o Blog é seu! Welcome to Blog! Since 30 july 2011

sábado, 31 de outubro de 2015

Crônica de um sábado qualquer


Up


Ouvindo uma música de Gilberto Gil, tive aquela sensação que todos sentimos quando o vento da lembrança balança as folhas no jardim do tempo. Ele cantava ♫ o melhor lugar do mundo é aqui e agora ♫. E é isso aí mesmo, as melhores coisas nas nossas vidas estão acontecendo exatamente agora e aqui, mas só vamos nos dar conta disso daqui a um tempo, quando o agora for o “antes” e o aqui for o “naquele lugar”.

Se você não consegue enxergar beleza nas coisas simples que faz hoje, então tente lembrar das coisas simples que você fazia antes. Com certeza vai surgir uma ponta de saudade e de melancolia boa. No mínimo você vai lembrar que estava com a saúde mais regular, tinha menos problemas que agora, sentia mais graça nas coisas, vivia mais presente nas vidas das pessoas que estão mais distante agora, algumas para sempre.

Mesmo com a sensação de que fomos mais felizes no passado, não sentíamos isso, porque no passado também achávamos que no passado tínhamos sido mais felizes. A verdade é que a gente só consegue dar valor à vida quando ela passa; só sentimos felicidade quando o hoje  vira ontem; só vemos o valor daquilo que foi para o lixo.

Antes de acreditar que no futuro tudo será diferente, saiba que no presente tudo já está sendo assim, mas só vamos saber disso amanhã. Valorizar o que se vive aqui e agora é ter a certeza de que o tempo está sendo aproveitado da melhor forma, que estamos em pleno desenvolvimento.

Respire e sinta-se feliz porque é isso o que você é, uma pessoa feliz. Tente imaginar o que você faz hoje sendo relembrado no futuro, sua saúde, sua família, seus amigos, seu emprego, sua faculdade, a oportunidade de estar vivo e perceba que o melhor lugar do mundo, concretamente, é aqui e agora. Depois sinta o vento balançando as folhas no jardim do tempo.

Ricardo Mezavila.





Quizás, Talvez, Quizás

internet


Y asi pasan los dias. A primavera esqueceu de avisar que iria viajar para outro hemisfério. Os trópicos de câncer e de capricórnio na articulação de alguma maracutaia, decidiram embaralhar as linhas imaginárias e o sol pode ser visto sobre o zênite por mais tempo. Isso causa efeito sobre os movimentos na Terra, pelo menos parece que causa efeito no comportamento das pessoas daqui. Não sei o que é mais irritante, a notícia tendenciosa ou os comentários simplistas. Falta profundidade nas argumentações, isso não significa o fim, só aponta que precisamos de mais interesse em saber as causas para discuti-las, e não ficarmos na superficialidade dos efeitos, que seguem um pensamento quase sempre de exclusão.

¿Hasta cuando? Assisti a um vídeo onde um menino de sete anos, praticamente destrói sua sala de aula diante da passividade de professores letárgicos, permissivos, preconceituosos e mal informados. Não passou na cabeça de nenhum dos educadores que o menino estava em um momento de estresse. Aproveitaram a ocasião para simplesmente filmar o que para eles, era um ato de vandalismo. Pior foram as opiniões carregadas de preconceito e falta de informação. Nessa hora, caros colegas, é preciso se colocar na posição de olho a olho com a criança e argumentar com ela, e não a ameaçar blefando que vai chamar a polícia. É assim que a sociedade age em relação a pretos e pobres, aqueles professores filmaram um “prato cheio” para os fascistas engrossarem suas teses de redução da maioridade penal. A frase “não pode colocar a mão nele” é o lema para quem critica o ECA sem ter conhecimento de causa. Depois reclamam que não podem pedalar e usar celular nas ruas.

Estoy perdiendo el tiempo. E os jovens excluídos retornaram à Avenida Brasil para aquele lugar que a imprensa teima em holofotizar, só falta escrever em neon, “Cracolândia”. Atrás daquele jovem doente existe uma pessoa com sérios problemas, mas isso não vem ao caso porque não nos interessa, não é mesmo? Nos acostumamos a defini-los como “cracudos”. Foi assim quando os portugueses sequestraram os negros africanos para virem trabalhar em regime de escravidão. Eles perderam a condição de pessoas e viraram escravos. Muita gente ainda diz: “sou descendente de escravos”. Eu também sou descendente de uma negro e uma negra africanos que foram trazidos para o Brasil na condição de escravos, em um dos maiores crimes contra a humanidade.

Quizás, aqueles professores, daquela escola pública municipal, observando a agressividade daquela criança, tenham visto ali um estereótipo de cracudo e de escravo. Que ele descende de um africano seqüestrado e retirado do seio de sua família, com certeza; e que ele também, aos olhos da sociedade excludente que sofre os efeitos da indefinição dos trópicos, pode ser mais um menino capitão das areias, talvez.


Ricardo Mezavila.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Uma conquista silenciosa





As conquistas históricas que a esquerda sempre lutou, ainda estão longe de serem atingidas, ainda não fizemos a reforma agrária e reforma de base na educação como planejávamos, não acabamos definitivamente com a miséria; os salários ainda estão abaixo do custo de vida e existem outras reivindicações que, se ainda não foram conquistadas, estão em curso.

Agora, avançamos em uma questão que não é muito sentida, acontece aos poucos e passamos a conviver com ela e  nem percebemos que foi uma conquista importante. A liberdade de expressão e o fim da censura avançaram bastante nos últimos anos, as pessoas saíram da letargia coletiva e começaram a discutir política. Antes era complicado falar de política porque você era carimbado de chato, inconveniente e de comunista.

A direita não precisava defender suas teses como fazem hoje, aliás, nem precisava, porque éramos poucos e a guilhotina estava sobre nossas cabeças. Com o avanço da liberdade de imprensa, com o surgimento público de outros canais de informação, a sociedade passou a ouvir o que era encoberto, passou a ter voz e a exigir mudanças, sentiu que pode se organizar e encher as ruas para protestar.

A cortina caiu e o debate começou. Mesmo que eu discorde de algumas opiniões sobre ideologias de gênero, cotas para negros, redução da maioridade penal, ouço as contradições e fico confortável em pensar diferente porque respeito e, isso é fundamental, tenho a sensação boa de que estamos evoluindo intelectualmente.

Mesmo sendo hostilizado e combatido por ser “governo”, por apoiar a democracia e a legitimidade, até mesmo pelos desafetos pontuais, com tudo isso, me encho de esperança quando percebo que a sociedade está acordando e, o que é mais significante, está pensando.

Vamos dar um tempo para que ela abra os olhos, espreguice, escove os dentes e vá ela mesma preparar o seu café. Por enquanto ela somente abriu os olhos, está meio sonolenta e ainda obedece algumas ordens, repete algumas vozes, mas acredito que para acordar é preciso primeiro abrir os olhos, e isso ela já conseguiu.

Ricardo Mezavila.





sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Impizzament

internet


Nunca entendi bem o que foi o “Junho de 2013”. As ruas tomadas por uma geração apartidária, que parecia cansada do “tudo do mesmo”, e decidida a mudar as estruturas do poder. Não eram representados por ninguém, eram índios e estudantes; professores e black blocs cativando as pessoas, convencendo-as a saírem do conforto de suas casas e lutarem por seus direitos.  O que foi aquilo? Com certeza não regrediram e se tornaram essa gentalha da classe média que foi às ruas gritar “fora Dilma.”

Não tenho dúvidas de que, se o movimento tivesse crescido com responsabilidade, que se fosse construtivo e carregado de propostas positivas e concretas, o governo federal, através de seus representantes nas casas legislativas, teria acolhido suas reivindicações populares. Porém, parece que houve infiltração de grupos opositores, reacionários e conservadores, que preferem o país dos ignorantes e despolitizados.

E, de repente, não mais que de repente, as coisas vão retornando aos seus lugares. A Lamborghini e a Ferrari voltaram, sem arranhões, à garagem da Dinda; as portas da Papuda reabriram para receber Pizzolatto, o italiano paraguaio; os dólares das contas suíças de Cunha estão retornando pelo esgoto de onde saíram; a oposição, cansada de destilar ódio, começa a aceitar que as eleições terminaram; os inocentes úteis que faziam selfies nas manifestações e os paneleiros de plantão foram descartados, não lembram de nada, estão no silêncio de seus mundos individuais.

O pessoal do “impizzament” sucumbiu ao fato de que no governo tem uma mulher forte, que sofre discriminação e a rejeição por usar saias em um cargo que, até então, só vestia calças; que venceu um câncer em pleno mandato; que foi torturada fisicamente quando lutava pela liberdade que temos hoje, que mantém ilibada sua figura pública, e que, apesar de todas as manobras, não vai desistir de cumprir a legitimidade de seu mandato até o fim.



Ricardo Mezavila

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Está na hora de formatar o planeta?




Há poucos dias os chineses ficaram apavorados quando viram uma cidade flutuante no céu, sobre nuvens. Os cientistas tentaram explicar dizendo que a hipótese mais provável do fenômeno, é que seja uma miragem causada por uma ilusão de ótica chamada Fata Morgana, quando uma camada da atmosfera é aquecida pelo sol, mas a camada de baixo permanece fria, e que essa diferença de temperatura gera diferentes densidades. E que quando o raio de luz solar passa de uma densidade pra outra ele é refratado, fazendo com que seu ângulo mude.

Alguns acreditam que a cidade foi vista porque houve uma rachadura na parede invisível que nos separa de um outro universo. Seria algo parecido com o Nosso Lar, colônia espiritual, onde espíritos se reúnem para aprender e trabalhar entre uma encarnação e outra, segundo livro psicografado por Chico Xavier. No Nosso Lar os espíritos são submetidos à lei de causa e efeito do que viveram na Terra.

Outra provável especulação sobre o fenômeno é mais tateável, porém absurda. Alguns conspiradores elaboraram a tese de que a NASA desenvolve um projeto chamado blue beam, algo como Projeto Feixe Azul, que pretende criar uma nova ordem mundial. Para isso eles preparam hologramas, que se assemelham à cidade flutuante, e criarão uma nova religião de onde surgirá o anti-cristo, que governará o mundo. O que os chineses viram, supostamente, seria um teste do projeto.

O fato é que estamos caminhando para um universo cada vez mais virtual, do ponto de vista dos entretenimentos e até das relações. Não acredito em nenhuma dessas hipóteses, mas também não me admiraria se uma delas fosse real. Vivemos em um tempo onde tudo pode acontecer, nada pode ser desconsiderado. Desde o surto de uma ilusão coletiva que enxerga a silhueta de edifícios nas nuvens, à arquitetura de uma cidade de rios azuis, pássaros brancos e campos verdes, como sugere o clássico da literatura espírita.

Ricardo Mezavila








segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Meus noventa anos

Sta M. Madalena



Aos noventa anos ainda me sinto como se tivesse cinquenta e seis, ainda tenho cabelos, desço e subo escadas correndo, sem a menor dificuldade. Hoje, só hoje, eu tenho noventa anos, amanhã eu volto para a minha insignificante casinha dos cinquenta. Mas é que hoje, o meu velho estaria completando nove décadas de vida. Quase chegou lá, ficou por míseros quatro anos, que são infinitos quatro anos.

Eu estaria ao seu lado hoje, não tenho a menor dúvida disso, estaria na varanda conversando sobre... Tudo! A gente conversava sobre qualquer coisa, mas é claro que família, futebol e política eram nossas preferências. Sobre família, a nobre preocupação patriarcal; sobre futebol, a velha choradeira alvinegra; sobre política, os velhos: Getúlio, Jango e Brizola. Meu pai era assim: um pai amado, um torcedor sofrido e um político astuto.

Modesto, era um poeta que não escrevia, preferia a palavra molhada por Antarctica ou Brahma, não nessa ordem necessariamente, mas era adepto do bom papo, da reflexão cautelosa, do carinho quando olhava seus filhos, netos, bisnetos e a nora, que ele me aconselhava em off: -“Casa com essa aí”!

Meu velho foi embora na calma de uma manhã ensolarada, foi na carona de uma nuvem rebelde que passou arrebanhando os melhores quadros para o utópico desfile da velha guarda socialista.

Hoje eu tenho noventa anos e não estou sentindo o peso das pernas, nem a dor da saudade, estou sentindo o amor derretendo para fora dos meus olhos, molhando as lembranças de dias em que um abraço era maior do que uma coleção de poemas.


Ricardo Mezavila

sábado, 17 de outubro de 2015

Os últimos dias de um Zé ninguém



passaporte E.Cunha


Já se pode observar o cadáver político, do quase ex-presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha, passeando pelos corredores da Casa em Brasília. Trôpego e sem encontrar oxigênio puro para acalmar seus pulmões, o “pau mandado” do PSDB, que também é jagunço e responsável em sujar as mãos na tentativa de jogar lama na história, Eduardo transita e exala o cheiro inerente aos que não tem mais viço no corpo e energia na alma.

A sua trajetória, pelos cargos que ocupou nas estatais, até se eleger deputado e presidente da Câmara, é de deixar qualquer família orgulhosa, mas ele conseguiu os feitos sem o suor dos honestos, sem a insônia dos que se preocupam com o bem-estar do próximo. Eduardo chegou aonde chegou porque foi capaz de dizer sim à corrupção e servir de instrumento em negócios espúrios e perversos ao coletivo.

Freqüentador da Congregação Assembléia de Deus, planta as sementes de seus votos nas igrejas com apoio dos pastores. Descobri que seu hobby é a fotografia e que vai inaugurar uma exposição em um salão em Brasília. Isso mesmo, Eduardo também é um artista e sua obra vai estar exposta para todos que admiram fotografia. Será que a fotografia na abertura da exposição vai ser ele e sua família, cada um dentro de um dois oito carros de luxo adquiridos com a propina da Petrobrás? Suponho que a foto da madame treinando tênis na academia da Flórida esteja por lá também.

Por falar em madame, lembrei da famosa frase de PC Farias para o ex-presidente Collor: - “A madame está gastando muito!” A jornalista virou “madame ostentação”. Seu rosto sorridente, seus olhos arregalados, assim como a falsa peruca de Eduardo, virou uma ofensa a todos nós. Ao invés de expor fotografias, ele devia expor os números de suas diversas contas na Suíça e nos EUA.

Eduardo está desaparecendo aos poucos, logo vai estar fora da batalha e não deixará legado algum positivo. Vai ser mais um Zé ninguém que a política, através da casta podre de alguns políticos, manobra nos bastidores para fazer valer atos sem decoro e legitimidade. Eduardo deu ao impeachment a sua cara, deu ao golpe sua voz, mas agora, na iminência de sua morte pública, sairá de cena para viver a vergonha que foi a sua trajetória. Mesmo que sobre uma conta em algum paraíso fiscal, Eduardo foi, é e sempre será um Zé ninguém para os brasileiros.

Ricardo Mezavila



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Missiva ao companheiro do Ministério Público suíço


internet


Companheiro do Ministério Público da Suiça. Espero que esta lhe encontre bem com sua consciência, o que é dever dos homens que ocupam o cargo que V.Sa. ocupa. A justiça no Brasil nunca esteve no pódio das instituições consagradas, longe disso, ela é instrumento de violação de direitos primários em nome da plutocracia abastada e, por vezes, é impiedosa. A impunidade operou um milagre e a justiça enxerga oportunamente quando necessário.

Tenho um sentimento meio provinciano, acho que é vergonha, de dizer que o malandro brasileiro, aquele que esconde dinheiro nos bancos de seu país, ainda ocupa o terceiro cargo mais importante da república. Inacreditavelmente, o sonegador contumaz, ainda fala com o dedo em riste como se sobrevoasse no balão da moralidade. A mulher, e cúmplice do sujeito, que também tem contas escusas e nada no mar de lama do dinheiro público, é uma jornalista conhecida e é representante, literal, da mídia parcial que dissemina e sustenta o ódio em cidadãos inocentes, porém politicamente analfabetos.

Espero que não consideres inútil as investigações, nem todo o aparato disponibilizado para encaminhar para o nosso Ministério Público as provas que incriminam o ladrão, que se diz evangélico, mas que é apoiado pela bancada da bala, uma gente perigosa que se elege na mira das armas milicianas, e pelos ruralistas, fazendeiros e usineiros que desapropriam e dizimam tribos de índios e escravizam pobres camponeses.

Como somos um povo que, apesar de enganado, bem humorado, abro parêntese para um pequeno chiste e envio inbox meus dados, candidatando-me a herança de uma dessas contas bancárias que, pelo visto, não possuem titularidade.

Falando sério, apesar de a realidade se confundir com brincadeira, o deputado citado continua sentado na cadeira da presidência da Câmara apoiado por seus pares, a maioria com investigação em curso, esperando o momento de dar o bote contra a representante principal do país, eleita democraticamente, que não teve seu nome envolvido em nenhuma das centenas das operações da polícia federal e das delações, que aqui chamam de “premiadas”. Aqui o ladrão é quem julga a pessoa honesta e fica tudo por isso mesmo. Sem falar que os que dizem combater os corruptos, são os que apoiam a raiz e a mãe da corrupção: O financiamento privado de campanhas políticas.

No mais, companheiro Ministro, deixo meu agradecimento à sua contribuição à nossa justiça e ao governo da Presidenta. No plano internacional desejo que seu governo continue a ser solidário ao êxodo de pessoas que vivem em situação de guerra na Líbia, Síria, Iraque, e nos países em que a situação econômica faz refugiados se atirarem no oceano com suas famílias em busca de paz e trabalho.

Atravessamos sim uma crise econômica, o mundo todo, aliás, mas aqui a crise é inflada por uma classe política desmoralizada perante a opinião pública mundial, mas que por aqui calça as sandálias de um famigerado foro privilegiado que é a rubrica para atos ilícitos e crimes sociais contra a nossa gente. Au revoir.


Ricardo Mezavila

sábado, 3 de outubro de 2015

É a lama, é a lama





A sociedade vive seu momento de “pau e de pedra”, de direitos violados, de desrespeito às instituições legalmente constituídas. Vive seu momento de ódio ideológico e de intolerância religiosa, desportiva e de gênero. O fim do caminho não é um factóide, ele é real, como a lente da câmera do celular da moradora do morro da Providência, que registrou um cadáver segurando uma arma e atirando.

As imagens remetem a um thriller, mas é só mais um corpo caído no chão, forjado, mais um Amarildo, um Max, um Eduardo qualquer das “quebradas”, que se estivesse dentro de um ônibus seria revistado porque tem o perfil do excluído, e que se parece com aqueles que promovem os supostos arrastões nas areias de Copacabana.

Não foram as chacinas da Candelária, de Vigário Geral; nem o despreparo do policial que atirou em Sandro quando ele se rendeu no seqüestro do 174, capazes de trazer um olhar crítico, profissional, técnico e humano para as questões da violência urbana. Para haver ordem e progresso é preciso privilegiar a educação.

Enquanto isso, o Congresso contraditório, se agarra às unhas ao financiamento privado para suas campanhas, que é a raiz da corrupção; a cidade do Rio vive o caos com as maquiagens para sediar as Olimpíadas e Paralimpíadas de 2016, nas polêmicas águas da Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas. Penso que se o projeto das escolas de horário integral, como eram os CIEPS, tivessem o mesmo tratamento, muitos jovens que hoje são tratados como excluídos, seriam professores, médicos, engenheiros, como os filhos da classe média.

Vivemos a síndrome do jardineiro que, muito cuidadoso com a exuberância do jardim, esquece de tratar o terreno. Então, numa manhã, ele percebe que as borboletas sumiram, que as folhas com fungos, que até então não incomodavam, secaram; que o jardim, agora árido, virou depósito de lixo e que atrai roedores. Ele culpa o dólar, o Dunga e a imigração. Sem autocrítica, não contextualiza, sua passividade coletiva não deixou que percebesse que a terra se contaminava bem debaixo de seu nariz.

Ricardo Mezavila