Lá
pelos idos de 1983 eu era bancário, trabalhava no tradicional Banco Boavista,
controlado pela família Guinle de Paula Machado, fui transferido da matriz na
Candelária, para a agência do Méier, na rua Frederico Méier. Nasci e cresci no
bairro e a transferência que seria uma punição pelos meus envolvimentos
políticos sindicais acabou se tornando um prêmio. Eu fazia atendimento no
balcão, o que proporcionou que eu conhecesse melhor os clientes, alguns até
suas particularidades. Foi o que ocorreu quando atendi um senhor vestido com um
terno verde escuro, o escritor Dante Guarino. Ele me presenteou com um livro
seu de 1954, era um livro de poesias. Eu disse que também escrevia e fui
convidado a visitá-lo em sua residência para que pudéssemos passar uma tarde
bebendo chá e apresentando nosso trabalho. Foi meu primeiro contato com um
escritor.
Através
dele conheci histórias de um outro escritor, amigo seu, que morou na rua Aristides Caire durante muitos anos,
Agripino Grieco, que eu só conhecia como praça, durante muitos anos o ponto
final dos ônibus 455 e 456 ficava na Praça Agripino Grieco. Dante Guarino me
disse que o Millôr Fernandes também era do Méier e isso me deixou ainda mais
orgulhoso por saber que o Méier abrigou escritores importantes, mesmo que em
outra época. Eu já sabia de um sambista
importante morador do bairro, o cantor e compositor João Nogueira, mas mesmo
sendo da minha época, existia uma grande distância entre quem ainda não havia
completado vinte e cinco anos, do grande artista e idealizador do clube do
samba, muitas cervejas nos separavam.
Agora
tomei conhecimento que o não menos brilhante músico e compositor Moacyr Luz,
nasceu e morou no Méier. Esse sim, da minha geração, mais rodado e mais “bebido”
por causa das ilustres amizades que fez por conta de seu talento, mas é
personagem real do bairro e próximo do tato e parceiro de Aldir Blanc e Paulo
César Pinheiro. Como em Saudades da Guanabara “eu sei que o meu peito é lona
armada, nostalgia não paga entrada”, por isso ainda há tempo de o Méier
saber que, um outro filho seu, recentemente, ganhou Diploma de Escritor, mas
tem o reconhecimento diluído no anonimato do cotidiano das plataformas de trem,
no abrir e fechar das portas controladas da cabine do condutor.
Praças
e clubes à parte, saúdo todos os artistas nascidos no subúrbio da Central e
Leopoldina, da Zona Oeste, Norte e da Baixada. Diferente da Zona Sul, onde
existem fronteiras entre bairros, quem é do Leblon é do Leblon e nunca de Ipanema;
nas outras regiões os bairros são continuação um dos outros, são fraternos e
vivem de mãos dadas. Com um largo abraço de Agripino a Moacyr estou abraçando a
plêiade, seus ícones afortunados, mas também os anônimos e seus infortúnios, porque
a arte tem várias caras, cores, letras, tons e sons, o Samba do Trabalhador que
o diga.
Ricardo
Mezavila.