Quem
nunca disse: “bom mesmo era naquela época”, que atire o primeiro tomate,
sim tomate, pedra machuca e o velho e bom tomate é companheiro diário nas
minhas refeições. Bem, o velho sempre é cultuado, quer dizer, o tempo,
infelizmente as pessoas “velhas” são meio que descartadas do convívio social.
Assim como a cadeira de estimação que foi da vovó, a velha cama de desarmar que
foi do vovô, ficam no quarto dos fundos enfeitando o vazio do silêncio e o
escuro que da porta não se enxerga.
A noite
é uma velha camponesa que cuida da terra para a plantação; é também a pastora
responsável pelo rebanho, a operária que passa o café enquanto a família ainda
dorme. O dia é um velho pescador destemido que trabalha de bermudas e camisa de
botão aberta; é um xamã invocando espíritos da natureza para voar para “outros
mundos”, um pedreiro dormindo dentro de um trem com a marmita na bolsa e um
pente flamengo no bolso.
O
novo é um velho repaginado, uma calça pantalona com a boca estreita, uma música
de Chiquinha Gonzaga na releitura de Maria Gadu. A beleza existente no novo é a
recuperação do vigor do velho, como a água que sai do mar e vira chuva e vira
água do mar, mas nunca deixa de ser ela mesma. As coisas deixam de ser elas
mesmas quando não possuem consistência e a alma não permite capturar-se no
acaso de uma lente.
A
lembrança é quando o novo respeita o velho puxando a cadeira para que ele
sente, então algumas coisas renascem de dentro do tempo: Assistir pica-pau com
o neto, fazer o sanduíche que a mamãe fazia, a emoção de um primo ao encontrar os antigos botões
perdidos na casa da sua infância, ouvir as músicas das festinhas e beber hi-fi,
admirar uma rural willys vermelha de capota branca. Lembro de uma luminária em
formato de cacho de uva que ficava na casa da minha tia, achava aquilo lindo,
era enorme e preenchia toda a sala, hoje em dia não passa de um objeto
pequenino e imperceptível.
Hoje
é o dia mundial do Fusca, o velho e bom fusquinha. Eu tive um azul 1963 em
1981, carinhosamente batizado pela minha irmã de “Maestro”, um “conCerto”
em cada esquina. Ainda hoje seu dia é lembrado e comemorado por milhões de
admiradores. O carro faz parte da história de uma família, assim como objetos e
pertences. De vez em quando é saudável e aconselhável recordar momentos bons ao
lado das pessoas que amamos, chorar de saudade é antídoto contra a solidão,
algo a ver com o ciclo das águas que falei ali em cima.
Vamos
celebrar o velho, abrir as gavetas, os álbuns de retrato, as cristaleiras,
oxigenar o dia com os ares positivos do passado, ligar para um amigo de
infância, rir sozinho, dançar bolero, ballet, rumba, disco, soul, rock, twist,
samba. Olhe para você com um sorriso maior do que a sua boca, depois faça o
almoço de domingo em uma panela velha.
Ricardo
Mezavila.
à minha irmã Deise, meu primo Sérgio e minha tia Avany