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domingo, 22 de junho de 2014

Bom é o velho!


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Quem nunca disse: “bom mesmo era naquela época”, que atire o primeiro tomate, sim tomate, pedra machuca e o velho e bom tomate é companheiro diário nas minhas refeições. Bem, o velho sempre é cultuado, quer dizer, o tempo, infelizmente as pessoas “velhas” são meio que descartadas do convívio social. Assim como a cadeira de estimação que foi da vovó, a velha cama de desarmar que foi do vovô, ficam no quarto dos fundos enfeitando o vazio do silêncio e o escuro que da porta não se enxerga.

A noite é uma velha camponesa que cuida da terra para a plantação; é também a pastora responsável pelo rebanho, a operária que passa o café enquanto a família ainda dorme. O dia é um velho pescador destemido que trabalha de bermudas e camisa de botão aberta; é um xamã invocando espíritos da natureza para voar para “outros mundos”, um pedreiro dormindo dentro de um trem com a marmita na bolsa e um pente flamengo no bolso.

O novo é um velho repaginado, uma calça pantalona com a boca estreita, uma música de Chiquinha Gonzaga na releitura de Maria Gadu. A beleza existente no novo é a recuperação do vigor do velho, como a água que sai do mar e vira chuva e vira água do mar, mas nunca deixa de ser ela mesma. As coisas deixam de ser elas mesmas quando não possuem consistência e a alma não permite capturar-se no acaso de uma lente.

A lembrança é quando o novo respeita o velho puxando a cadeira para que ele sente, então algumas coisas renascem de dentro do tempo: Assistir pica-pau com o neto, fazer o sanduíche que a mamãe fazia, a emoção de um primo ao encontrar os antigos botões perdidos na casa da sua infância, ouvir as músicas das festinhas e beber hi-fi, admirar uma rural willys vermelha de capota branca. Lembro de uma luminária em formato de cacho de uva que ficava na casa da minha tia, achava aquilo lindo, era enorme e preenchia toda a sala, hoje em dia não passa de um objeto pequenino e imperceptível.

Hoje é o dia mundial do Fusca, o velho e bom fusquinha. Eu tive um azul 1963 em 1981, carinhosamente batizado pela minha irmã de “Maestro”, um “conCerto” em cada esquina. Ainda hoje seu dia é lembrado e comemorado por milhões de admiradores. O carro faz parte da história de uma família, assim como objetos e pertences. De vez em quando é saudável e aconselhável recordar momentos bons ao lado das pessoas que amamos, chorar de saudade é antídoto contra a solidão, algo a ver com o ciclo das águas que falei ali em cima.

Vamos celebrar o velho, abrir as gavetas, os álbuns de retrato, as cristaleiras, oxigenar o dia com os ares positivos do passado, ligar para um amigo de infância, rir sozinho, dançar bolero, ballet, rumba, disco, soul, rock, twist, samba. Olhe para você com um sorriso maior do que a sua boca, depois faça o almoço de domingo em uma panela velha.

Ricardo Mezavila.
à minha irmã Deise, meu primo Sérgio e minha tia Avany




quinta-feira, 19 de junho de 2014

Os Stewards e a invasão hermana





Uma semana do início da copa e alguns fatos registrados e de domínio público, e outros não, ficarão nas páginas da história. O mais emblemático tem sido a “invasão” dos hinchas vecinos: argentinos, chilenos, colombianos e uruguaios. Tem sido uma festa nos estádios e, principalmente, nas ruas e praias. Alguns estão dormindo no aeroporto, como no filme “O Terminal”, só que com liberdade para circular livremente pela cidade, outros dentro de home bus, casas sobre rodas.

Outro momento interessante é quando a torcida presente nos estádios consegue o que os torcedores brasileiros não conseguem pela seleção, eles cantam o tempo todo músicas de incentivo. Os mexicanos conseguiram calar os brasileiros no Castelão, em Fortaleza, mesmo sendo minoria. Detectei que os torcedores brasileiros não têm música exclusiva para apoiar a seleção, não cantam nada além daquela insuportável música da seleção de vôlei que ecoava nos ginásios anos atrás.

A eliminação da atual seleção campeã, a Espanha, que disputava com a Holanda nas apostas, quem seria a primeira e a segunda da chave, foi um sinal de que o tic-tac espanhol já não é eficiente. A seleção chilena brilhou no mais brilhante estádio de todos, o Maracanã. Fez valer alguns comentários de quem a indicava como uma das surpresas da copa. Os torcedores é que vacilaram quando tentaram entrar sem ingressos causando tumulto na sala de imprensa e levando os Stewards à loucura.

Aliás, Stewards são aqueles camaradas com colete que estão por toda parte fazendo a segurança desarmada dos jogos. Uns ficam sentados dentro do campo de frente para a torcida, já vemos isso nos jogos de nossos campeonatos, são os seguranças, mas achei esse legado bacana, tomara que pegue o nome.

No mais, os torcedores da antiga como eu, não consegue se identificar com a seleção porque não vemos nosso time representado, não dá para torcer por uma seleção que convoca um jogador que joga no Al-Gharafa, da Arábia. Se o torcedor for botafoguense então... Vai lembrar que em 1962, no Chile, o alvinegro tinha cinco titulares na final e a seleção foi bi campeã e que esse feito é único na história das copas. Hoje é torcer para que a Celeste enjaule os Three Lions e os deportem para Buckingham.


Ricardo Mezavila.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

"Que o TCC lhe seja leve"

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Que o Trabalho de Conclusão de Curso lhe seja leve, é isso o que eu desejo para quem está passando por essa fase. Estou tabelando com o TCC nas últimas semanas, a tabela é por conta de não ser sobre o meu curso, mas o da Sue, biologia na veia. Os detalhes da estrutura, o tema, fontes bibliográficas, fundamentação teórica, normas técnicas, relevância científica, e os inquisidores esperam que tudo seja entregue no prazo para a banca examinadora final.

A fonte inesgotável da vida está em aprender, estudar, mesmo que seja para depois da cronologia oficial, aliás, aí mesmo é que o despertar pelo novo tem que ser uma pílula diária, mais ou menos como aquelas que compramos com receita médica para aliviar as dores na coluna, ou quando o esfigmomanômetro entra em contato com a sistólica e diastólica e entrega um placar 14 x 9, por exemplo.

Paulo Freire em um sentido sócio-político-pedagógico disse que: “autonomia é a condição sócio-histórica de um povo ou pessoa que tenha se libertado, se emancipado das opressões que restringem ou anulam sua liberdade de determinação”. Nós nos libertamos quando temos autonomia para adquirir conhecimento e reconhecemos a necessidade da luta, quando saímos da passividade e decidimos por ser ativos e autônomos nas decisões que nos emanciparão.

Nesse contexto, estar em atividade intelectual permanente é extremamente necessário. A prostração física interfere nas habilidades de raciocínio, é como se o cérebro fosse uma escuna que não consegue dar a partida porque tem uma rede presa à hélice. Parodiando Pessoa: “Estudar é preciso”.

A zona de conforto é estressante, mais do que as pesquisas acadêmicas, é uma não-força  travestida de estabilidade. O que nos move é o motor que alimentamos quando estamos em contato com o conhecimento, com a informação e com a capacidade de fazer um monte de coisas, se forem de uma vez só, parabéns, mas não precisa tanto, uma coisa de cada vez está valendo, mas com o tempo sempre fora do lugar senão podemos cair na armadilha da idade. O estresse produtivo se transforma em energia para o corpo, então a gente pode se aposentar e continuar jovem.

Ricardo Mezavila.
(para Suelee)


domingo, 15 de junho de 2014

Eu penso comigo...

walt whitman



Tem coisas que nunca vamos conhecer, lugares que nunca iremos andar, pessoas que ficarão longe para sempre, pássaros esquisitos e animais marinhos que viverão como se não existissem para nós, e nós para eles. Será que não há muito mais do que imaginamos vivendo no universo? Será que hoje é somente uma data no calendário e não um milagre que deveríamos estar comemorando? Tudo que fizemos ontem além de virar memória, também deixa suas marcas e vai virar história.

Tem frases que nunca vou escrever, ventos que nunca irei sentir, mares e oceanos que existirão para sempre sem que eu tenha molhado os pés neles. Uma vida inteira não é suficiente para que a gente sinta o paladar de todas as frutas, ouça todas as músicas. Quantas pessoas poderiam ser nossas amigas e não sabemos nem onde vivem! Quantos livros interessantes repousam em uma estante e nunca serão recomendados!

Quantas cenas não serão gravadas? Como a do casal sentado em um banco em frente ao mar, ela o está deixando, ele quer impressioná-la com um poema de Walt Whitman, escrito em um papel, começa a chover, ele não quer ler o poema rápido, quer que cada palavra seja lida com doçura; as palavras apagam com a água e ele improvisa um poema fingindo que está lendo, enquanto ela observa, carinhosamente, seus dedos manchados pela tinta que escorre do papel. Ela pergunta, ironicamente, quem é o autor do poema e ele, atrapalhadamente, diz que encontraram o poema junto ao corpo de um jovem que havia morrido de amor.

Tem coisas que aconteceram quando ainda não tínhamos consciência de quem éramos, mas mesmo assim chegam sem cerimônia, como uma brisa pela janela, a fumaça de um cigarro, e permanecem durante todo o tempo. Como seria viver com a ausência de What a Wonderful World na interpretação de Louis Armstrong?


Ricardo Mezavila.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A Dama de giz



Dilma


O xingamento que a presidente ouviu no estádio, no jogo de abertura do  campeonato   mundial de futebol, foi a demonstração irrefutável de que a educação é a base de uma sociedade desenvolvida. Resolver essa questão é mais complicado do que uma equação com mais de uma incógnita e,  ao mesmo tempo, é muito fácil de ser compreendida. Os governos nunca, em nenhum momento no país, tiveram a preocupação por uma educação de qualidade, só fazem acumular riqueza e desfrutar das mordomias que seus cargos propiciam e que eles mesmos criam.

Ao povo deseducado só resta a linguagem do xingamento, o desespero por uma ascensão a qualquer custo, as gambiarras sociais penduradas na constituição e o cumprimento de leis etiquetadas e com preços. O ciclo parece não ter fim, os esquemas são muito arrumados, não há espaço para o erro, a gente sempre sai perdendo nesse jogo. Às vezes temos o sentimento de que “agora vai”, mas nada se movimenta em uma direção que não seja aquela de antes, a estrada é reta e não tem nenhuma via paralela por onde trafegar.

“Ei, Dilma, vai tomar no cu”!  Foi isso o que a mandatária máxima do país ouviu na Arena Corinthians de pessoas que, provavelmente, devem desfrutar de condição financeira razoável, haja vista o valor do ingresso, sendo assim, foram beneficiadas pela política comandada pela presidente.

A presidente, ao melhor estilo moradora de cortiço, abriu a porta, colocou as mãos na cintura e disse que já passou por agressões físicas quase insuportáveis e sobreviveu, não seriam os xingamentos que a intimidariam. Lamento o fato, ver uma presidente eleita em votações democráticas ser xingada daquela forma, me faz desacreditar que um dia aprenderemos a cobrar e fazer valer nossos direitos. Enquanto não houver comprometimento os governantes continuarão a ser xingados, e nós, os iludidos, nos satisfaremos em explanar para o mundo todo a nossa falta de educação.

Ricardo Mezavila.


terça-feira, 10 de junho de 2014

Com as mãos cheias de pedras

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Para quem pensava que aqui era o templo do futebol, um recado: Nós gostamos de futebol, mas não somos idiotas. A república das "bananas", definitivamente, não é aqui. Se a imprensa alemã divulga imagens de seus jogadores dançando com índios e diz que somos todos índios, VIVA, somos todos índios, mas não somos alemães, não executamos seis milhões de pessoas por discordância étnica; se a imprensa inglesa desdenha a cultura das nossas favelas, VIVA, somos todos favelados, mas não somos ingleses, não fomos nós que guardamos o tesouro que os nazistas roubaram da Checoslováquia.

Estou de tocaia nos aeroportos, daqui a pouco a comitiva portuguesa vai chegar com suas armas, seus jesuítas e seus piolhos. Vão procurar por nossas virgens e nosso ouro, VIVA, nós somos ricos e nossas mulheres são lindas, mas não somos portugueses, não expropriamos terras de nativos e nunca fomos covardes para fugir de nossas próprias divisas; Os franceses vão desfilar racismo e deixarão suas pegadas “français de souche” (puro sangue), pelas ruas, VIVA, nossa cultura é diversificada, não somos franceses, não discriminamos marroquinos, argelinos e tunisianos.

Vou preparando a pontaria para quando os holandeses chegarem, eles irão para o Leblon e se disfarçarão de surfistas, trocarão idéias em sua língua nativa e tentarão formar gangues, VIVA, somos todos surfistas, mas não somos holandeses, não embebedamos meninas com vodka e as colocamos nas vitrines para o sexo; com o mesmo cuidado separarei algumas pedras para os italianos, eles gostam de queimar cientistas, professores e artistas na fogueira, podem querer incendiar nossas religiões afro-brasileiras, VIVA, somos todos ecumênicos, não somos italianos, não causamos banho de sangue em Jerusalém.

Ainda tenho pedras, as maiores estão guardadas para quando o Tio Sam pisar por aqui, não quero que conheça a nossa batucada, prefiro que fique longe da nossa cultura, que dance na chuva sozinho; aqui não é depósito de armas químicas, não escondemos terroristas, não temos ogivas nucleares apontando para nenhum país; não nos metemos em brigas alheias, respeitamos a constituição e a bandeira do vizinho; eles podem querer nos convocar para a guerra fria, VIVA, somos todos antiimperialistas, não somos como os yankees, não plantamos guerra e nem abastecemos de armas os dois lados do front.

Sem pedras nas mão, mas com a consciência ainda percorrendo todos os lugares, olho para dentro de casa, faço mea culpa, ainda podemos melhorar muito, restaurar as mobílias velhas e deixar a casa arrumada; algumas coisas estão pendentes e não há inocência no silencio, sinto falta de vozes mais agressivas, vozes que saiam de dentro de uma nota menor para estragar o concerto, desafinar a orquestra e derrubar o maestro. Podemos começar por esclarecer se há corpos enterrados na cabeceira da pista da base aérea de Santa Cruz; e se Stuart Angel, Rubens Paiva e tantos outros tiveram tempo de atirar todas as suas pedras.

Ricardo Mezavila.



segunda-feira, 9 de junho de 2014

Dios me Libre (Somos mais bonitos que vocês)


intternet



Nós, cariocas, nos orgulhamos da beleza natural da nossa cidade, do privilégio que é viver em um lugar abençoado por deus. Realmente vivemos em um lugar lindo e cheio de belezas naturais, mas perdemos para outras cidades quando a ação do homem entra como quesito de avaliação.  Em ecologia damos o nome de antrópico, quando há interferência do homem sobre o habitat e suas modificações resultantes.

Isso explica porquê a maior cidade da América Latina, São Paulo, esteja em vexatório sexto lugar no ranking das cidades latinas, empatado com a mais linda, Rio de Janeiro. A pequena Pointe-à-Pitre no Caribe está à frente, seguida por San Juan em Porto Rico e Montevidéu no Uruguai, juntas cabem com folga dentro de Belo Horizonte.

Devido a grande exposição do Brasil no cenário internacional, por conta da copa do mundo, nossas deficiências serão vistas e analisadas por outros olhos. A distância social que há no Brasil é de envergonhar do oiapoquense no Amapá, ao chuiense no Rio Grande do Sul. E o vexame não tem uma justificativa simples que faça o estrangeiro compreender, somos um país democrático onde o povo elege seus representantes, quer dizer, por omissão ou ação, todos somos responsáveis.

Mas aí nossos craques vão lá e arrebentam, ganham a taça e tudo parece equilibrado. Somos ruins da cabeça, mas bons com os pés. Isso me remete há mais de trinta anos, quando meu time de pelada, disputando um torneio no Aterro do Flamengo, tomou uma humilhante goleada. Quando nos posicionamos  para as fotos depois do jogo, acho que foi o Leonardo, um menino ruim de bola que não sabia bater nem lateral, soltou a frase bisonha e infantil: “Perdemos o jogo, mas somos mais bonitos que vocês!”.

Não sou especialista, mas se perdermos a copa, não vai ter jogador capaz de fazer  a patética afirmação daquele domingo ensolarado no campo de terra do Aterro. Talvez os holandeses e os italianos, pelo que tenho ouvido da torcida feminina nas ruas do Rio, tenham esse mérito. Pior de tudo e até mais bizarro do que os “humilhados meninos bonitos”, é aturar o Maradona gritando:”Ai,  mamita querida!”. Dios me libre!!!!


Ricardo Mezavila.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Ocorrências Evitáveis


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A responsabilidade pela morte do fotógrafo, que morreu com suposto problema cardíaco em frente ao Instituto Nacional de Cardiologia, não é dos médicos, mas do motorista da linha 422 que não o levou ao local apropriado: O Maracanã.

Se estivesse atualizado e acompanhando os últimos acontecimentos, saberia que estamos em época de copa do mundo, padrões e eventos FIFA; teria visto a entrevista do Fenômeno e saberia que hospitais não fazem parte do legado.

Pobre motorista, a culpa é sua que além de trabalhar em uma jornada desumana, a maioria cumpre dupla função, ainda tem que ser solidário com a população mal atendida, a culpa é sua que recebe um salário incompatível com o lucros das empresas que financiam campanhas e são beneficiadas pelos governos.

Por coincidência o motorista se chama Amarildo, não é o da Rocinha, que também não teve o atendimento adequado pelo poder público, ambos não estão em nenhum álbum de figurinhas, se estivessem ele nunca se completaria, as figurinhas estariam enterradas em algum cemitério clandestino.

O fotógrafo morreu do coração na calçada, em frente a uma unidade federal de referência em cardiologia, e talvez morresse lá dentro se tivesse sido atendido. Não custava um médico tentar socorrê-lo como fez o Amarildo, ninguém estaria indignado, a polícia não indiciaria os médicos por homicídio doloso.

No juramento de Hipócrates, o pai da medicina, está escrito: “Manterei o mais alto respeito pela vida humana”. Teria sido Hipócrates motorista de ônibus?

À família do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, ao lado da saudade e das lembranças boas ficam: a dúvida se haveria tempo para o socorro, a dor pela perda e o desgaste se houver processo.

Cabe lembrar que o maior erro quando se emite opinião é generalizar, o que não quero que pareça aqui, respeito todas as classes profissionais, mas as cenas urbanas estão aí para serem observadas e discutidas.


Ricardo Mezavila.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Pule algumas páginas


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Alguns livros a gente lê em seqüência, página por página, tendo lido primeiro a contra-capa, as orelhas, apêndice, prefácio e dedicatória. Existem livros que atraem pela capa, pelo título, pela textura e pelo brilho. Já li um livro só porque gostei de tê-lo nas mãos, tive a impressão de que lia com os dedos, alguma coisa a ver com alfabeto braillle. O livro é a expressão do ser humano, é a extensão da conversa, um amigo que fala quando lemos e que ouve quando paramos para refletir.

Outros livros a gente não sente a necessidade da cronologia, começa a ler de onde ele foi aberto; às vezes pelo epílogo mesmo, então começamos a retroceder nas páginas, decrescendo até o início para saber se valeu a pena começar pelo fim, ou se aquela primeira página foi suficientemente alicerçada para receber os pavimentos até que a construção esteja concluída.

Algumas pessoas são como livros prontos para a leitura inicial, sem erros de gramática, mas com erros de concordância; com verbos bem flexionados, mas com ineficiência narrativa; com boa impressão, mas com incoerência textual; com boa introdução no parágrafo, mas com conclusão desarmônica; que no discurso inicial usa a primeira pessoa do plural, mas que durante o desenvolvimento da leitura passa a cuspir na primeira do singular.

Outras pessoas são como livros sem títulos, sem autores, sem páginas numeradas. Podem estar em uma estante da biblioteca ou na prateleira de um sebo, mas sempre estarão abertos para que possamos ler a partir de onde quisermos. Não se assemelham aos livros politicamente corretos, que passam pela revisão técnica e são atrelados à ditadura do mercado. Algo assim como a democracia e a liberdade, a primeira diz sim quando é permitido, a outra é livre, pensa a partir daquilo que observa e nunca será escravizada.

Ricardo Mezavila.


domingo, 1 de junho de 2014

Cuidado com o vão

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Comumente fazemos uso, através de metáfora, para nos posicionarmos frente a algum projeto de vida. Costumamos criar uma alternativa de emergência caso algo não saia como   previsto. Para isso nos valemos do notório e cambeta “plano b”. A gente acredita que exista um “plano a” vigente, por onde caminhamos com segurança e sempre com atenção nas placas para não pisarmos fora da linha ou “mind the gap”.

O que acontece é que estamos sempre em um plano inferior àquele que queríamos estar, ou pelos menos, deveríamos pensar sempre em melhorar. Não acredito que um dia alguém viva dentro de um plano perfeito, mesmo que assim se sinta, mas a vida acontece o tempo todo e não há nenhum projeto capaz de chegar ao fim enquanto estamos com fome de crescimento. Às vezes o que parece seguro não passa de um abismo sem faixa amarela.

O meu amigo John dizia que: “a vida é aquilo que acontece enquanto você faz planos”. É isso aí, John! A gente faz planos e esquece que a vida é o agora também, viver logo faz parte dos maiores dos projetos que podemos querer. Os dias depois de hoje serão os mesmos de ontem, com todos os desejos agregados, com toda a carga emocional, como a que pude perceber nos olhos do casal de amigos “de idade” quando estavam no altar recebendo as alianças das mãos da menina.

Façamos nossos planos como se todos fossem um antes daquele, que ali na frente, vai nos surpreender com alegria e realização. Não dá para contar com o que sofre interferência invisível, fora do controle da ciência, da frieza e lógica da matemática. Então, um passo a frente e todo o seu corpo estará em outro lugar, e pode ser que ali, naquele pedacinho que você chegou porque teve a coragem de sair do estático, esteja o início de tudo o que você anda procurando enquanto perde tempo em só fazer planos.

Ricardo Mezavila.