Alguns
livros a gente lê em seqüência, página por página, tendo lido primeiro a
contra-capa, as orelhas, apêndice, prefácio e dedicatória. Existem livros que
atraem pela capa, pelo título, pela textura e pelo brilho. Já li um livro só
porque gostei de tê-lo nas mãos, tive a impressão de que lia com os dedos, alguma
coisa a ver com alfabeto braillle. O livro é a expressão do ser humano, é a
extensão da conversa, um amigo que fala quando lemos e que ouve quando paramos
para refletir.
Outros
livros a gente não sente a necessidade da cronologia, começa a ler de onde ele
foi aberto; às vezes pelo epílogo mesmo, então começamos a retroceder nas páginas,
decrescendo até o início para saber se valeu a pena começar pelo fim, ou se
aquela primeira página foi suficientemente alicerçada para receber os
pavimentos até que a construção esteja concluída.
Algumas
pessoas são como livros prontos para a leitura inicial, sem erros de gramática,
mas com erros de concordância; com verbos bem flexionados, mas com ineficiência
narrativa; com boa impressão, mas com incoerência textual; com boa introdução
no parágrafo, mas com conclusão desarmônica; que no discurso inicial usa a
primeira pessoa do plural, mas que durante o desenvolvimento da leitura passa a
cuspir na primeira do singular.
Outras
pessoas são como livros sem títulos, sem autores, sem páginas numeradas. Podem
estar em uma estante da biblioteca ou na prateleira de um sebo, mas sempre
estarão abertos para que possamos ler a partir de onde quisermos. Não se
assemelham aos livros politicamente corretos, que passam pela revisão técnica e
são atrelados à ditadura do mercado. Algo assim como a democracia e a
liberdade, a primeira diz sim quando é permitido, a outra é livre, pensa a
partir daquilo que observa e nunca será escravizada.
Ricardo
Mezavila.
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