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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Eu não quero ser Prissípkin




Matéria da Folha de São Paulo diz que: Manter o corpo congelado após a morte na esperança de um dia voltar a viver é uma prática que tem ganhado novos adeptos pelo mundo. Atualmente, há mais de cem corpos congelados e cerca de 600 clientes filiados em duas das principais clínicas especializadas dos Estados Unidos, as quais têm, nos últimos meses, registrado aumento da procura.

O interesse pela criogenia, o estudo dos sistemas em baixas temperaturas, foi despertado após a morte de Ted Williams, um dos mais importantes jogadores de beisebol da história, que teve seu corpo enviado pelo filho a uma clínica de congelamento. Na Inglaterra, a revista britânica de divulgação de ciência e tecnologia "New Scientist" lançou um concurso em seu site, que dava como prêmio um "vale-criogenia".

O poeta Vladimir Maiakovski escreveu uma peça, em 1929, O Percevejo, onde um personagem de nome Prissípkin é congelado pelo jato d´água dos bombeiros num incêndio. Cinqüenta anos depois ele descongela e encontra-se sozinho, numa sociedade asséptica e puritana. Prissípkin, tendo como companhia um percevejo, congelado e descongelado com ele, o violão, o cigarro e a vodca, acaba sendo exibido, num jardim zoológico, para os curiosos. O poeta, na peça, já previa o conservadorismo que se converteu a Revolução de 1917.

Fico imaginando como seria ser descongelado cinqüenta anos a partir de agora. Em 2062, abriria os olhos e não reconheceria ninguém. Será que a memória resiste ao gelo? Os sentimentos e as emoções vividas estariam registrados em minha memória degelada? Ou só de interrogações seria meu desibernar? As aflições que o mundo vive hoje, com previsões catastróficas sobre o futuro do planeta se confirmariam?

O homem, segundo as religiões, é feito de matéria e espírito. Teríamos uma sociedade de zumbis, homens sem alma, saindo de suas covas geladas para viver à margem de nós. Leis teriam que ser criadas para amparar essas criaturas. Seriam levados para os orfanatos a espera de adoção, se não aparecesse nenhum herdeiro que os levassem para casa. Vejo com uma certa tristeza e piedade o futuro de quem, por vaidade e arrogância, imagina que isso possa ser útil para a sua vida e para a humanidade.

Fico com uma frase de um poema que escrevi em 1995, sobre o que penso sobre o que seja o futuro: O futuro é alguém que nos ressuscita. É assim quando alguém lembra da sua existência. Quando lê aquilo que voce escreveu, seus poemas, crônicas e cartas; olha suas fotos sentindo uma saudade boa; suspira e fica com os olhos perdidos nas lembranças do passado, ouvindo sua voz cantando as eternas músicas.

Eu não quero ser como o personagem do poeta russo, não quero mudar o curso da história, não quero interferir na obra d’Ele.

Ricardo Mezavila

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Tem pessoas que te fazem mal quando te fazem bem





Tem pessoas que te fazem mal quando te fazem bem. Paradoxo, irônico, incoerente e nada a ver. É isso o que esta frase me passa, lendo assim, na lata, à vera. Com o corpo sujo da rua, sem ter lavado as mãos para abrir a geladeira e beber 1 ½ de água, no gargalo. Não absorvi a poluição sonora, o lixo, a pobreza (primeiro estágio da miséria), o analfabetismo (o último grau da pobreza). Mas o “pulso ainda pulsa”.

E a gente ainda consegue viver morrendo a vida de quem ainda não morreu, mas está à beira da morte de quase morrer. É mais ou menos como não viver a vida vivida de quem está vivo para morrer. Como alguma coisa viva dentro da necessidade incoerente de “além vida” e “pós-morte”.

Aí você se depara, no meio da estrada, com pessoas que te querem mal e te fazem bem, ao mesmo passo, com pessoas que te querem bem e te fazem mal. É uma lua ao meio dia tentando convencer a noite, mesmo sem estrelas, que os sinos e as missas das igrejas, bem antes da Ave Maria, já anunciaram o cântico da missa do sétimo dia.

O maior dos enigmas é descobrir onde estão as velas. Podem estar nas gavetas, nos balcões, nas esquinas. As velas podem estar dentro do seu bolso. As velas do conteúdo da sua história podem ter sido apagadas lá atrás, quando ainda voce nem sabia que elas estavam acesas, quando voce nem imaginava que, um dia, elas pudessem acender.

Tem pessoas que te fazem bem quando te fazem mal. Quem nunca precisou de um empurrão para descer uma ladeira? E quando desce percebe que a descida foi tranqüila, poética e produtiva. Depois voce volta ao topo e salta sozinho, seguro e completo, pronto para descer e fazer tudo de novo.


Ricardo Mezavila

sábado, 9 de junho de 2012

Mug, Vick e Garganta




Operar a “garganta”, amígdalas como se escreve, ou amídalas como se fala, quando eu era criança, era tão certo quanto um dente de leite cair. Meus amigos todos operaram e depois, não sei se por recompensa dos pais ou recomendação médica, deliciavam-se com sorvetes o dia inteiro. A minha garganta era “toda inflamada” como dizia minha mãe quando eu reclamava de dor. Ainda hoje tenho que ter algumas precauções quando há mudança de temperatura.

Ter conseguido passar toda a minha infância e adolescência sem ter operado as amigdalas, talvez tenha sido a minha maior vitória. Chegar aos treze anos, todo mundo tinha treze anos em 1972, sem ter operado, equivale a um soldado voltar da guerra sem ter levado um tiro; é o mesmo que nunca ter sido assaltado no Rio. Eu atravessei no meio da guerra e recebi a minha medalha de herói.

Hoje estou com a amigdala direita doendo um pouco, desconfortável, eu acho. Mas tenho a esquerda em bom estado ainda, por enquanto. Vou a um churrasco daqui a pouco e está chovendo e a temperatura deve estar mais ou menos 20°. Não como churrasco, não que não coma carne, mas sinto mais o “gosto” da fumaça do carvão do que o da carne. Mas isso não impede que eu coma a farofa com molho à campanha.

Falando em infância na década de sessenta, lembrei de um boneco que fez muito sucesso: O MUG. Era um boneco de pano preto e de roupa xadrez. Foi criado para uma campanha publicitária, vários artistas ganharam de presente e fizeram do boneco um amuleto, diziam que trazia sorte, sua influência positiva foi um fenômeno no meio da juventude.

Outra recordação, associada à dor de garganta, era o uso do vick vaporub, sempre que eu sentia qualquer dorzinha, minha mãe aplicava o unguento na minha garganta e o alívio era certo. Li, em algum lugar, que existe uma planta que tem o cheiro do vick, vou procurar saber sua origem para trazer aqui para casa e plantar. Tem uma latinha de vick por aqui, vou passar antes de sair para o churrasco e, claro, tenho que saber onde está o Engov.

Ricardo Mezavila