Tem pessoas que te fazem mal
quando te fazem bem. Paradoxo, irônico, incoerente e nada a ver. É isso o que
esta frase me passa, lendo assim, na lata, à vera. Com o corpo sujo da rua, sem
ter lavado as mãos para abrir a geladeira e beber 1 ½ de água, no gargalo. Não
absorvi a poluição sonora, o lixo, a pobreza (primeiro estágio da miséria), o
analfabetismo (o último grau da pobreza). Mas o “pulso ainda pulsa”.
E a gente ainda consegue viver
morrendo a vida de quem ainda não morreu, mas está à beira da morte de quase
morrer. É mais ou menos como não viver a vida vivida de quem está vivo para
morrer. Como alguma coisa viva dentro da necessidade incoerente de “além vida”
e “pós-morte”.
Aí você se depara, no meio da
estrada, com pessoas que te querem mal e te fazem bem, ao mesmo passo, com
pessoas que te querem bem e te fazem mal. É uma lua ao meio dia tentando
convencer a noite, mesmo sem estrelas, que os sinos e as missas das igrejas, bem antes da Ave Maria, já anunciaram o cântico da missa do sétimo dia.
O maior dos enigmas é descobrir
onde estão as velas. Podem estar nas gavetas, nos balcões, nas esquinas. As
velas podem estar dentro do seu bolso. As velas do conteúdo da sua história
podem ter sido apagadas lá atrás, quando ainda voce nem sabia que elas estavam
acesas, quando voce nem imaginava que, um dia, elas pudessem acender.
Tem pessoas que te fazem bem
quando te fazem mal. Quem nunca precisou de um empurrão para descer uma
ladeira? E quando desce percebe que a descida foi tranqüila, poética e
produtiva. Depois voce volta ao topo e salta sozinho, seguro e completo, pronto
para descer e fazer tudo de novo.
Ricardo Mezavila
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