O
rescaldo dos dias de vergonha indômita que a política tem nos proporcionado nos
últimos meses entrará para a história, com todas as vênias, como o Golpe dos
‘coxinhas’. Lastimável, depois de tanta luta pela manutenção da democracia, perceber
que o conservadorismo conseguiu tirá-la de nossos braços.
O
julgamento no senado não expressa aquilo que as coisas são, mas o valor que
elas têm em relação a um grupo. Julga-se
o mandato conquistado democraticamente pelo sufrágio popular, pelo viés
corporativo de um Congresso desqualificado e corrupto que articula apear do
cargo uma mulher inocente e honesta. E, o pior, com apoio de uma parcela da
população passiva, alienada e conivente.
Um
jornalista português, chocado com o Golpe institucional que se consolida no
Brasil, disse que um presidente, em
Portugal, não ficaria quinze minutos no cargo se fosse crime de
responsabilidade os decretos assinados por Dilma Rousseff. Todos os governantes
fizeram e fazem o que a Presidenta fez, mas o Tribunal de Contas, de uma hora
para outra, decidiu que agora é crime.
O
TCU foi, como ficou claro nos depoimentos de seus auditores, a casamata do
Golpe. A principal testemunha de acusação, membro do Tribunal, foi um dos
organizadores do evento “vem pra rampa”, que visava a rejeição das contas da
Presidenta. Foi desqualificada e prestou depoimento como informante. A outra
testemunha, também do TCU, orientou e instruiu os autores da peça que deu corpo
ao pedido de impeachment. Foi o mesmo que um juiz orientar o advogado a redigir
a petição que ele próprio iria julgar.
Os
senadores pró-Golpe já estão vendidos faz tempo, trocaram seus votos por
indicações e cumprem, vergonhosamente, a triste agenda protocolar de entrarem
para a história como Golpistas.
Os
principais jornais do mundo denunciam o que vem acontecendo, alguns com piada.
O analfabetismo político transformou o Brasil em galhofa mundial. Na Rio 2016,
os mesmos que debocham da justiça quando apoiam o Golpe, vestiram-se das cores
nacionais e destilaram nacionalismo inútil, e ainda cantaram aquela
indefectível musiquinha de gente cheirosa, nas arquibancadas.
Está
tudo do jeito que a mídia fascista e a FIESP gostam. A audiência cresce,
o’pato’ é adorado, Chico Buarque é desmistificado, Lula é indiciado e o PT
demonizado. Como diria Walter Franco,
antigo compositor que a mídia fez sucumbir no ostracismo: “É uma dor canalha
que te dilacera/ é um grito que se espalha, também pudera/ não tarda nem falha,
apenas te espera/ num campo de batalha/ é um grito que se espalha/ é uma dor
CANALHA”.
Ricardo
Mezavila