Outro
dia assisti um “hangout” em que Danilo Gentili fazia julgamento político, com
base na experiência de seu pai, enquanto operário de uma das indústrias de
Santo André, à época das greves que levaram ao movimento de onde o Partido dos
Trabalhadores foi fundado. De forma simplista em um veículo de massa, o
apresentador parecia boneco de ventríloquo reproduzindo a voz que faz eco com o
grito de “terra a vista” desde mil e quinhentos.
Já é
de praxe fazermos julgamento de valor a partir de uma visão restrita, às vezes
porque temos que nos posicionar para não parecermos vazios de conteúdo, outras
vezes porque acreditamos que o outro não entende nada e fazemos de tudo para
fazer com que a “lacraia” da nossa língua coloque ovos na opinião alheia. Não
estou me eximindo de fazer o mesmo, sou consciente de que isso é inerente à
raça humana.
Desde
sempre a sociedade julga, a cada temporada da civilização os meios se
sofisticam. Hoje nós vivemos aquela sociedade futura que os séculos passados
acreditavam que existiria, assim como projetamos o desenvolvimento para daqui a
cem anos. Do jeito que as coisas andam podemos estar próximos do fim de toda
uma era, já diziam isso na idade média, estou só reproduzindo.
Ainda
bem que nem só de depoimentos simplistas vivemos, ontem ouvi pela primeira vez
a voz de Torquato Neto, quer dizer, eu e muita gente, até seu filho de quarenta
e quatro anos. Um repórter do Rio Grande do Sul entrevistou o compositor em mil
novecentos e sessenta e oito e, só agora, tirou a fita da gaveta, não havia
nenhum registro de sua voz até então. Ouvir Torquato é parecido como ouvir
Caetano pensando como Gil, isso tem a ver com a “Geléia Geral” que ele compôs
para o disco Tropicália. Metaforizando: A voz de Torquato saiu da gaveta e fez
com que as pedras que os fariseus atiraram em Madalena, atingissem a cabeça de Joe
Cocker quando cantava “Let’s Go Get
Stoned”, em Woodstock.
Descendo
para a tragédia cotidiana, fico observando, não só as estrelas de Bob Marley,
mas como têm gente frequentando excessivamente os tribunais de pequenas causas.
O telefone veio com defeito, pequenas causas; o plano de wifi não tem a
velocidade propagada, pequenas causas; o cartão de crédito cobrou em dobro a
taxa mensal, pequenas causas; a prótese dentária não corta o contra-filé no
meio, pequenas causas. Nada contra exigir os direitos, mas será que a lógica de
“pode demorar, mas um dia eu recebo”, não acaba por eliminar da luta a grande
causa, mesmo aquela que nunca será vencida? Como dizia Darcy: “fracassei em
quase tudo o que tentei, mas nunca queria estar do lado de quem me venceu”
Vamos
caminhando, passando por baixo da ponte dos dias, enrolados em nossos
cobertores Paraíba, fazendo coro e solando, dependendo da ocasião. Mas vamos
sempre no sentido futuro, deixando de lado as mudanças menores, temos é de
evoluir, estudar, adquirir conhecimento, conviver em harmonia e aprender com as
plantas que absorvem energia em forma de luz a partir do sol.
Ricardo
Mezavila