Outro dia assisti uma propaganda oficial sobre as
próximas eleições com apelo infantil, onde aparecem os principais candidatos,
principais porque têm as campanhas mais ricas, em fotos de quando eram
crianças. O locutor pergunta diante de suas fotografias mais ou menos isso:
Você conhece essa criança? Depois vão aparecendo fotografias de crianças na
atualidade em estado de aparente desvantagem social. E a sonora pergunta: E
essas crianças, você conhece?
Nossos candidatos principais, se eu estiver equivocado
peço perdão, com exceção do neto de Tancredo Neves, não são herdeiros de
grandes fortunas ou de legados políticos. Foram crianças que cresceram em uma
ambiente comum à maioria das crianças brasileiras, tiveram uma infância tradicional.
Na juventude seguiram caminhos abertos pelas oportunidades que tiveram e, todos
eles, chegam nessas eleições em condições de assumir o cargo mais importante da
república.
Aécio cresceu em um ambiente político, conviveu com
personagens da nossa história recente e, principalmente, aprendeu na prática a
organização partidária. É uma pessoa preparada para os desafios do cargo.
Carrega o legado político de seu avô, a quem foi incumbida a responsabilidade
histórica da renovação da esperança no coração de todos nós, que vínhamos de
uma época cinzenta de incertezas e exageros.
Marina cresceu na dificuldade comum e própria de quem
não vive nos grandes centros. Morou em palafitas e conviveu com perdas
familiares e com doenças que ameaçavam constantemente sua existência. É uma
pessoa forte, de personalidade, conhece o que é a pobreza e os afazeres domésticos.
Acolhida pela religião encontrou um caminho por onde começar a refazer sua
história e afiliou-se à Central Única dos Trabalhadores onde iniciou sua
carreira sindical.
Dilma cresceu dentro de uma atmosfera literária, seu
pai era búlgaro naturalizado brasileiro e frequentava círculos literários, além
de ser filiado ao partido comunista da Bulgária. De classe média, frequentou
escolas tradicionais e, durante a juventude, era ativista do movimento
estudantil na luta contra a ditadura militar. Na organização operária ao qual
pertencia optou lutar ao lado dos que defendiam o socialismo através da luta
armada. É a história de uma jovem revolucionária que chegou à presidência da
República.
Os três candidatos reúnem qualidades suficientes para
governar o país. As crianças que eles foram nunca teriam chances de brincarem
juntas, mesmo que vivessem em épocas e locais próximos, porque cada um tinha
uma rotina diferente. Talvez Aécio estudasse na mesma escola que Dilma, mas não
participaria das lutas; Marina talvez fosse doméstica na casa da família de um
deles.
A polarização está bem diversificada, parece uma feira
de bugigangas de todos os gostos. Sem levar para o pejorativo, mas os
candidatos são na essência: um Mauricinho, uma Guerrilheira e uma Dona de Casa.
Em comum são vitoriosos, não escolheram
ficar na janela.
Ricardo Mezavila.
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