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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

26 de outubro, o incêndio que não apaga. (borboleta, preta-preta-preta)

borboleta preta


O segundo turno das eleições deste ano está fazendo um mês, trinta dias exatos, mas parece que ainda estamos em mil novecentos e sessenta e quatro, pior, parece que estamos no século dezenove. Para muitos o país é dividido em antes e depois do PT. Isso não anula essa tese, só que nunca como ela é conjugada. Quem ainda critica o PT parece que vivia em um bálsamo de honestidade, de democracia e de liberdade. Veio o PT e tudo isso foi minguando até chegar “aonde chegamos”.

Antes do PT o Brasil era um país próspero, a educação e o emprego eram prioridade, as famílias eram constituídas e mantidas com o salário que os trabalhadores recebiam justamente. Não havia injustiça social e nem corrupção, tudo era transparente, a perestroika brasileira. Mas aí o operário organizou um movimento que paralisou a indústria, foi aconselhado pela igreja progressista e por intelectuais de esquerda e, sem dar nenhum tiro, sem ameaçar nenhum privilégio, elegeu o Presidente da República com a maioria dos votos de seus pares.

Hoje mesmo ouvi ecos cavernosos do dia vinte e seis de outubro, ouvi gemidos estúpidos de dor vindo dos lados de um regime autoritarista e repugnante, sem falar camuflado, que saem das bocas pequenas e reprodutoras de alguns fascistas instantâneos. Querem anular a eleição, pedem impeachment da PRESIDENTA sem nenhuma justificativa, eles querem e ponto, a PRESIDENTA eleita tem que desocupar o cargo e descer a rampa como desceu aquele presidente que a direita, os empresário e esses bobalhões elegeram.

Se houver algum revés na democracia só se for iniciada pelas forças armadas, mas covardes, que podem atender esses alucinados e tentar depor a legitimidade, fazer com que se aprofundem mais ainda as injustiças no nosso território. O judiciário julga para si próprio e a população acredita que o supremo e as organizações judiciais são cegas, surdas e mudas. Na verdade são deficientes para os nossos anseios e nossa realidade. A nossa parcela de culpa é enorme, somos nós que elegemos os legisladores, e são eles que votam as leis que os “deuses” vão julgar. Tudo certo se não elegêssemos deputados e senadores despreparados para sequer assinar seus nomes.

Hoje brinquei com uma criança de “pic-pic-picolé”, no início não entendi muito, mas fui me agigantando do tamanho do menino de seis anos que eu era, e achei semelhança com “borboleta-preta-preta-preta” e percebi que ainda somos jovens o suficiente para segurar a barra desse início de milênio, somos nós que temos de evoluir e, como um cometa, carregar em nossa cauda os sonhos do velho novo mundo e que todas os equívocos sejam indeferidos dos nossos dias e que sejam apenas insumos de discussões perdidas, de opiniões divergentes de idéias, nada mais.

Ricardo Mezavila.



sábado, 22 de novembro de 2014

Manual do pequeno escritor



internet


Quando me preparava para escrever uma crônica o telefone tocou, era minha tia passando a conta da loja de materiais de construção referente a kitchenette que estou construindo em Unamar. Apesar de estar organizado para a empreitada, estou distante da obra, mas tenho o conforto e a confiança de ter tudo sobre o controle de minha tia, a quem carinhosamente me refiro como “a testemunha viva” da história, quando atravessamos a madrugada discutindo na varanda de sua casa. Isso me deixa tranquilo para refletir sobre um certo livro que devorei na juventude: “As veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano. Este livro era obrigatório para quem iniciava a vida política e era simpatizante do socialismo, tendo o sentimento anticolonialista e anticapitalista como pano de fundo para todas as mazelas do nosso continente.

Hugo Chávez, presidente da Venezuela, em seu primeiro encontro com Barack Obama, presidente dos EUA, presenteou-o com um exemplar do livro a que chamava de: “Um monumento na história latino-americana”.Mais de quarenta anos após o lançamento do livro, o escritor uruguayo Eduardo Galeano, renegou o livro afirmando que não estava preparado para tratar do tema e que o texto era ruim. Eu, imigrante literário, sei que quando uma obra é terminada e divulgada, deixa de pertencer a quem a concebeu, vai viver livre dentro de cada interpretação e se o criador quiser revisá-la, nada vai fazer com que a essência deixe de existir, está consumado e pronto. Assim, como no livro “A poesia de Brecht e a história”, de Leandro Konder, a quem cito aqui para prestar minhas homenagens e reverência.

Tomara que Zuenir Ventura nunca tenha uma dessas crises existenciais e arrependimentos que acometem algumas personalidades, fazendo com que reneguem aquilo o que pregavam. Mas podemos ficar tranqüilos porque o autor de “1968, o ano que não terminou” está muito lúcido com o passado e permite que viva em suas páginas personagens como o estudante Edson Luis assassinado no Calabouço pela ditadura militar; Carlos Lamarca, “o capitão da guerrilha”; o compositor de “Pra não dizer que não falei das flores” Geraldo Vandré e até a atriz italiana Claudia Cardinale, esquerdista, envolvida nas questões das mulheres e homossexuais.

Os mitos e as lendas costumam tomar formas nas reuniões em volta de uma fogueira, onde seus feitos são superlativados e ganham a proporção e o agigantamento dos deuses inventados. A mitologia latino-americana é muito rica, nos foram passadas pelos Incas, Maias e Astecas. A literatura não-ficção retrata um período da humanidade que não é lenda e nem mito, nem tem como ser alterada, é preciso ser estudada como o livro “Essa escola chamada vida”, uma delícia de leitura dos depoimentos que Frei Beto e Paulo Freire deram ao jornalista Ricardo Kotscho, o livro é pequeno, mas abriga o conhecimento, assim como a kitchenette, é pequena, mas do tamanho exato para abrigar “uma meia-dúzia” de pessoas boas de conversa.

Ricardo Mezavila

Escritor

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Desapego não é faxina (aos meus pais)

internet


Impressiona a forma de como nos acostumamos a surfar uma onda e depois pular para outra totalmente diferente. As coisas não fazerem sentido é saudável em algumas ocasiões, porque existem coisas acéfalas que não acrescentam absolutamente nada em forma e conteúdo, mas devemos ficar vigilantes para não cairmos nas armadilhas da sedução fútil e da subliminaridade do que nos fazem ver e ouvir.

Por vezes somos atraídos para um novo conceito de comportamento, estilo, estética e tantos outros apelos. O homem é consumista por essência e aí está o “queijo da ratoeira”, é por aí que podemos nos vender ou sermos vendidos inconscientemente, e termos nossos funcionamentos cognitivos alterados.

A onda do desapego está por aí como tsunami, tem gente se desapegando de tudo, até de livros. Como pode alguém sentir desapego por um livro? O adjetivo está mal empregado, porque só existe desapego onde antes havia apego, mas a propaganda quer vender que nos libertemos do que amamos, desfaçamos daquilo que nos deu prazer, repugnemos o passado e renovemos nossos armários internos com aquilo que amanhã vai sair voando pela janela sem deixar saudades.

Quando nos desfazemos de algo estamos simplesmente limpando as gavetas das coisas que estão ali, mas poderiam estar em outro lugar que não faria a menor falta. Isso não é desapego, é faxina. É como rasgar as contas que foram pagas há mais de cinco anos e encontrar um antigo poema em meio a tinta das máquinas registradoras, a gente o separa para ler e se apegar, enquanto o resto vai para a lixeira sem culpa.

Desapegar não é se livrar, não pode ser confundido com recomeço e nem com transação financeira. Desapegar talvez tenha algum significado quando a gente perde alguma coisa, mas não esquece, quando somos obrigados a nos despedir de quem nos amou em vida, que vai embora para sempre sem que possamos fazer nada. O desapego é involuntário, profundo e lento como a dor, mas passa, a gente se habitua com a folha em branco e escreve para que a tristeza seja só uma nuvem que o vento logo leva para longe.


Ricardo Mezavila.



segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Somos todos heróis

heróis da marvel



Acabamos de atravessar uma das eleições mais disputadas dos últimos tempos, tanto nas urnas quanto nas divergências de opiniões. O que vimos foi o fenômeno das mídias sociais nesta eleição se transformar em palco de debates, e até de batalhas entre amigos.  Muita gente saiu ferida e magoada, sentindo-se ofendida indiretamente por opiniões um tanto “pesadas” e amizades foram desfeitas.

Muitas balas perdidas foram disparadas e encontraram a quem acertar do outro lado do  teclado. Acontece que a maioria não estava acostumada em discutir política, não participa de atividades de militância, talvez nem gostem de falar sobre isso, mas como as chamadas mídias sociais foram tomadas pelas opiniões, não tinham como deixar de se apresentar para a guerra, foram arbitrariamente convocados para o front e tiveram que deixar seus memes de animaizinhos de lado e partiram para o confronto.

Depois de passado o dia D, ainda vemos alguns comentários por aí, meio parecido com a quarta-feira de cinzas, quando ainda encontramos alguns foliões caminhando perdidos pelas ruas, ou dormindo nas areias das praias de ressaca. O ato da avenida paulista, no sábado, foi a demonstração de que as pessoas foram tocadas pela necessidade de atuar mais, de gritar suas inconformidades, mas é claro, sem os excessos que cometeram e sem desejar que o país caia nas mãos de fascistas.

O lado positivo que fica do rescaldo é a certeza de que, pelo menos, as pessoas estão falando sobre política, estão se instruindo para os debates, acompanham com interesse os rumos que o país pode tomar. Isso por si só, como diria um amigo, vale sacrificar algumas amizades, tem quem sacrifique a vida, e numa “guerra” sempre haverão feridos e mortos. Se for pelo bem de uma nova consciência e se for o primeiro passo para uma iniciativa baseada na democracia, então saímos todos como heróis.


Ricardo Mezavila.