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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Enquanto passo o café



você não está bêbado

  • A crise hídrica já era prevista há décadas, mas tratar das causas iria prejudicar a economia dos estados. Todos apostaram em São Pedro e deixaram de prevenir uma “morte anunciada”, se é que podemos considerar que há um defunto para ser enterrado, ou é só alguém se fingindo de morto. Muitas contradições são detectadas nessa crise. Colocam a culpa na estiagem, no aquecimento global, na falta de racionamento e outros. Existe água subterrânea, como o aquífero Guarani, capaz de resolver o problema dessa previsível seca, mas o custo para sua utilização é alto e o estado não tem interesse em investir nisso. As indústrias teriam que diminuir o ritmo e, conseqüentemente, seus lucros. O racionamento de água será inevitável no país que detém a maior reserva de água doce do planeta.

  • É notória a importância das Organizações-Não-Governamentais nas parcerias que fazem com os governos na ampliação do trabalho social em lugares de menor favorecimento. Não existiriam em abundancia, se não fosse o governo omisso nessas questões. As Ongs são importantes, mas algumas são absurdamente privilegiadas em detrimento de outras. O Viva Rio há poucos anos, era a menina dos olhos dos cofres públicos. Tinha verba para “abraçar” a Lagoa, o parque da Catacumba;  verba para grafiteiros desenharem as paredes da cidade e só faltou fazer campanha por mais areia na praia do Leblon. Hoje o AfroReagge é a nova menina dos olhos dos cofres públicos, recebe verba para tudo, e sem licitação. Sempre desconfiei dessa farra quando subia as ladeiras da Glória, depois de participar de licitação, para retirar  meia-dúzia de bolas e uniformes para os meninos do nosso projeto, na sede da entidade “âncora”, em um projeto federal. Questionada sobre os R$ 9,5 Mi repassados pela prefeitura para o AfroReagge, a Secretaria Municipal de Cultura disse que a organização possui uma “metodologia específica”. Ah, tá!

  • Nada pode ser mais original no carnaval do que máscara de político corrupto. Chega a ser redundante, é como se fosse uma máscara sobrepondo outra. O ex-diretor da Petrobrás, o Cerveró, esse nome me atrai porque sempre tenho a impressão de que li Cerveja, disse que vai processar quem fabricar uma máscara sua. Concordo com o desonesto cidadão, as crianças merecem mais respeito, não podem ficar expostas à visualização de rostos corruptos de homens bem criados, formados nas melhores universidades, que desviam verba que poderiam estar na educação delas. E, por outro lado, seria um benefício às avessas carnavalizar esses escândalos que de folia e de Graça não tem nada, talvez “Foster” melhor deixá-los com suas rugas originais à mostra.

  • Não entendo como ainda tem gente que se surpreende com a beleza das atrizes, algumas só são atrizes porque são bonitas. Chega uma hora em que elas dizem a que vieram e mostram suas belas credenciais. Não é o caso de outras que são capazes de superar eventuais surpresas, no decorrer do trabalho, com talento. Enquanto isso, na falta de água, as nuvens estão chovendo balas. A operação Lava Jato tem que usar o método de lavagem a seco, eu sei que dói, mas em tempo de crise... O café está pronto. Valeu, valeu; Vai lá, vai lá.   
          Ricardo Mezavila





quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

“Esse pessoal dos Direitos Humanos”

internet



Fazendo uma rápida busca na Internet, encontrei essas opiniões simplistas sobre “esse pessoal dos direitos humanos” que reproduzo aqui: “Direitos humanos só existe para vagabundo. Para trabalhador não existe. Por isso que apoio em parte uma intervenção militar”. / “Esses esquerdistas de merda só sabem é defender direitos humanos pra bandidos, passar a mão na cabeça de bandido” /“O pessoal dos direitos humanos culpa o "sistema" pela violência e isentam assassinos e criminosos de suas culpas, atribuindo tudo à desigualdade social"

Afinal: quem é esse “pessoal dos direitos humanos” que tanta gente fala? Será lenda urbana? Não. As pessoas se habituaram a utilizar esse clichê para desabafar contra um estado social falido em que todos somos responsáveis. Com pouca ou nenhuma leitura sobre quem atua na área dos Direitos Humanos, as pessoas vão desfiando a colcha e atirando fiapos para todos os lados.

Vou citar um exemplo clássico: Existe uma ONG aqui no Brasil, fundada por artistas que se intitulam “Humanos Direitos”, que se aproveitam da notoriedade para aparecer na mídia. Como vivem da imagem, alguns artistas manifestam-se em temas polêmicos como: o massacre no Carandiru, na Candelária, em Vigário Geral, para citar alguns. Surgem como defensores dos direitos humanos, contrariando boa parcela da sociedade que é de opinião de que quem morreu foi bandido. Talvez isso deixe uma marca negativa e explique a razão da descrença da população.

Os Direitos Humanos são assegurados pela Constituição Federal e por diversos tratados internacionais em que o Brasil é parte. No âmbito governamental existem diversos órgãos como: Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República; Conselhos Nacionais e Estaduais; Comissões de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados; das Assembléias Legislativas; Câmaras Municipais; Defensoria Pública e Ministério Público. Todos esses órgãos estão à disposição do cidadão que sentir seus direitos ameaçados ou feridos.

Em um campo ainda maior, eu acredito que garantir e proteger os Direitos Humanos é um dever de todos nós. “Esse pessoal dos direitos humanos” é uma expressão idiomática desgastada, cansativa e não cria nenhum efeito positivo. É uma reação pronta para eximirmos a culpa de sermos apolíticos e passivos, além de se tornar uma peça de marketing para quem quer a intervenção militar utilizando um outro velho chavão: “Isso é coisa de  subversivos.”


Ricardo Mezavila

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A crise hídrica e o reservatório etílico

gigantes de aço


Infelizmente estamos chegando ao início da previsão feita em 1995, por um funcionário de FURNAS, em palestra na Casa do Menor Trabalhador, ONG onde eu lecionava informática; ele disse que em alguns anos faltaria água no planeta. Disse que o elemento com a fórmula química H2O, composta por um átomo de oxigênio e dois de hidrogênio, seria disputado pelos continentes mais até do que é o petróleo e foi o ouro no passado.

A falta de chuva tem colaborado, mas a causa pela falta da chuva não é natural, é antrópica, é resultado da atuação humana, que pensa que os recursos naturais são infinitos.  Especialistas dizem que a falta de água é inevitável, que era cenário anunciado. Li que Noé foi alertado por Deus para que construísse uma arca e salvasse as espécies das consequências do dilúvio.

Muitos escritores de auto-ajuda têm o mote certeiro de que o presente, o dia de hoje, deve ser vivido como se fosse o último, aquele dia que a gente tem para fazer tudo o que não fez. Eu acho que ainda dá tempo de verificar se tem alguma torneira aberta inutilmente, se há desperdício de água pela vizinhança, se estamos no controle do consumo exacerbado de água. Assim não precisamos adotar essa literatura para manter a espécie viva.

A carência, ou a total inexistência de água potável é motivo para o fim da raça humana. Mas, eis que surge uma dúvida no botequim e que ainda não tenho a resposta: “Se faltar água vai faltar cerveja também?” Sinceramente não sei responder. Até onde eu sei a cerveja tem a água como ingrediente indispensável. Não consigo imaginar alguém com o cotovelo no balcão do bar pedindo um pedaço de cerveja para mastigar como se fosse rapadura.

Ainda sobre a luta pela sobrevivência, assisti ao filme “Gigantes de Aço”, que parece um filme sobre vídeo games, robôs e lutas futuristas e decadentes. A sinopse não me levaria até ele, mas Dindi, minha irmã, assistiu e disse que eu deveria dar uma chance, mesmo sabendo que não era o tipo de filme que me atrai. Comecei a assistir por educação, mas no final acabei emocionado.

Obrigado Dindi, bela película! Charles, o boxeador fracassado no ringue e na vida, que já tinha desistido de tudo, encontrou apoio em quem acreditava que ele seria capaz e venceu o “poderoso” Zeus, o imbatível robô lutador. Isso me remete ao incrível Fernando Pamplona e às metáforas de Joãosinho Trinta. Sugiro, carnavalescamente falando, que nesse carnaval, o enredo de Momo seja um remaker da Mocidade de 1991 para que, quem sabe, tudo volte ao normal e Paulinho Mocidade volte a cantar: ”É no chuê chuê/ é no chuê chuá/ não quero nem saber/ as águas vão rolar.”

Ricardo Mezavila

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A dor física de Cristo





Tudo começou quando fui à casa de Geneci contratá-lo para limpar o terreno ao lado da minha casa. Terminada a obra o local ficou entulhado de tábuas, tijolos, sacos de cimento rasgados, recortes de pisos, azulejos e pregos espalhados pelos escombros presos às tábuas e escoras. Geneci não estava se sentindo bem, sua pressão estava alta e sentia uma devastadora dor de cabeça. Desejei melhoras ao guerreiro e resolvi eu mesmo fazer o serviço.

Já fiz parte da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA - quanto trabalhei em uma metalúrgica, mas não foi o suficiente para lembrar dos apetrechos que os operários usavam para prevenir acidentes e que eu fiscalizava. Enxada e pá em mãos fui para o terreno com a disposição necessária que faltou ao bravo trabalhador hipertenso, temporariamente fora de combate.

Cava aqui, espalha terra ali, o trabalho seguia bem até um prego surgir “no meio do nada”, quer dizer, no meio da minha segurança de que tudo estava sob controle. A peça metálica constituída por uma haste delgada, achatada num dos extremos e pontiaguda no outro, cravou na sola do tênis, perfurou a sola do pé e saiu do lado de cima , próximo do dedão.

O primeiro uso da palavra dor, segundo a bíblia, explica a dor do parto como conseqüências pelos pecados cometidos por Adão e Eva. A dor não é agradável, mas ela nos alerta de que alguma coisa não vai bem com o nosso corpo. Por mais que a dor tenha uma mesma origem, é diferente para cada uma das pessoas, ou seja, ninguém consegue sentir a dor do outro.

Personagem hipocondríaco da peça “Doente imaginário”, de Molière, Argan indignava-se com os médicos que queriam revelar-lhe a origem da sua dor: “Vosso alto saber, vãos e insensatos médicos, é uma pura quimera. Não podeis saber com vossos grandes nomes latinos a dor que me desespera”.

Fui para a Unidade de Pronto Atendimento e, como diz o termo, fui prontamente atendido e vacinado. Ficou a dor da perfuração e a lição de que preciso comprar botinas. Estou me sentindo um quadro torto na parede, um Cristo mal pregado na cruz, um leitor ocasional de Freud que acabou de ler que “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda”.

Ricardo Mezavila

Unamar, janeiro de 2015.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Nihil obstat

internet


O Vaticano concedeu o “nihil obstat” – nada impede - ao surfista carioca Guido Shaffer, morto enquanto surfava nas águas do Recreio dos Bandeirantes, no Rio. O rapaz morreu aos trinta e quatro anos, em 2009, às vésperas de se tornar padre. O candidato a santo tem uma legião de fiéis que garantem que ele realiza milagres. A igreja católica está reforçando seu time para suportar tempos de intolerância, desrespeito étnico e religioso; assim como a badalada “liberdade de expressão”.

Há uns dias um outro rapaz, candidato a biólogo, também às vésperas de sua formatura, foi morto por outros dois rapazes, esses já formados no crime. Alex Schomaker estava no ponto de ônibus, em Botafogo, no Rio, e foi barbaramente assassinado por não responder pacificamente ao já banal: “perdeu, perdeu”.

As duas famílias sofrem a perda de seus filhos. A de Guido tem o conforto de uma eventual beatificação; a de Alex vai ter de conviver como tantas outras que são vítimas da incapacidade governamental de combater a violência na raiz. Parece que a justiça celestial é mais rápida que a justiça humana. Se tornar santo, aqui no Brasil, tem menos impedimentos do que o fortalecimento das leis sociais, educacionais e de segurança pública.

O processo de beatificação investiga a vida do candidato para verificar seu testemunho de santidade. Para se tornar beato, é necessária a comprovação de um milagre por sua intercessão. Em caso de martírio essa condição é dispensada. Não tenho nenhuma pretensão, mas de martírio nós entendemos. Quem mora na cidade do Rio de Janeiro, como em outras capitais, quase que completamente dominadas pelo poder paralelo, vive sob a égide do medo e da perda. Haja santo!

As águas do mar do Recreio levaram o jovem Guido para surfar uma onda no céu; as ruas do Rio levaram o jovem biólogo Alex, para o céu também, mas não em uma onda azul e cheia de poesia. A mãe de Alex disse que não perdoa os que cometeram o crime, não tem perdão mesmo, não somos santos e não fazemos milagres. As leis divinas não valem nos tribunais. Enquanto isso vamos assistindo mártires aos borbotões sendo tirados de nossos convívios, deixando de completar seu ciclo, seja no seminário,  na faculdade e na vida.

Ricardo Mezavila,
Unamar, janeiro de 2015.


domingo, 11 de janeiro de 2015

Nas pautas do silêncio



Sempre que ouço a primeira versão da música “Espanhola” de Flávio Venturini e Guarabyra, interpretada pelo músico de Minas Gerais, percebo que, além de conhecer a letra, também conheço todo o arranjo. Todos aqueles instrumentos que se sobrepõem na canção estão na minha memória como se meu cérebro guardasse uma orquestra inteira. As cordas se misturam, se perdem e se encontram em movimentos constantes dentro de uma viagem quase impossível. 

Acho que a vida seria menos complicada se a solfejássemos em sustenidos e bemóis, se cantássemos seus acordes e variações sonoras em afinação com as outras vozes, como em um coro bem executado, regido por um maestro simples, de havaianas, camiseta e bermuda.

Nas pautas da canção a vida segue em eterna transposição, passando de um compasso a outro, seguindo o tempo e pausando para a respiração alcançar notas mais altas, relacionamentos agudos e graves, dependendo da tonalidade.

Na tablatura do tempo precisamos descobrir onde ficam as linhas dissonantes, aquelas que atravessam o ritmo e deixam os ouvidos desprotegidos e vulneráveis às canções que saem da boca do homem frio, sem música nos olhos e de coração descompassado.

“Sempre assim, cai o dia e é assim, cai a noite e é assim”. Pare para ouvir a música que toca dentro de um silêncio e ouça como os instrumentos conversam, caminhe pelas partituras se equilibrando como um bêbado e desça lentamente sobre um jardim de notas musicais segurando uma clave de sol. “Eu preciso lhe falar, eu preciso, eu tenho que lhe contar”.


Ricardo Mezavila


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Je ne suis pas Charlie




O ato de violência praticado pelos terroristas de livrinhos de bolso e Internet, pode ter sinalizado ao ocidente que as ações humanitárias precisam respeitar as diversidades culturais e religiosas. Periga todo o esforço da igreja e dos pacifistas virarem charges nas páginas dessas revistas aparentemente inocentes, mas que manifestam nas entrelinhas um forte odor de racismo e etnocentrismo.

Não é porque na minha rua a maioria ri das minhas gracinhas, que eu vou sair pelas ruas dos outros contando as mesmas gracinhas, ainda mais quando eu sei que na vizinhança tem alguém que odeia esse tipo de coisa e, além de tudo, é violento e não faz cerimônia em apontar uma metralhadora e apertar o gatilho.

Aqui no ocidente e, principalmente, no lado desenvolvido deste ocidente, a cultura predominante é a do capitalismo, do ego e do sucesso. Nesse caldeirão nem todos conseguem afirmar essa máxima e sustentar um eventual fracasso, o que leva os “derrotados” a formarem novos grupos, ou seja, o ocidente está expulsando quem não consegue atingir a fórmula perfeita criada pelo homem branco e rico.

Eu não sou Charlie e acredito que os muçulmanos não fizeram a barbárie na sede da revista na França, isso foi um ato terrorista independente e que não tem nada a ver com a comunidade muçulmana. Os que cometeram o atentado são franceses, os mesmos que foram “expulsos” pelo ocidente, como alguns jovens brasileiros que combatem na Síria.

O mundo editorial perde excelentes criadores, as pessoas estão nas praças manifestando legitimamente seu repúdio e segurando cartazes solidários. Lamento o fato, mas não acho graça do profeta Maomé no corpo de um cachorro, por exemplo. A linha da revista no início era anticlerical e denunciava a ordem burguesa, com o tempo foi intensificando suas ironias e caricaturas para o Islã, tendo sofrido várias ameaças.

Ouvi alguns comentaristas dizendo que aqui no Brasil a charge é um elemento que nem ofende mais, que é usada todos os dias nos jornais, revistas e até nas paredes das grandes cidades e ninguém reclama, até Jesus é ridicularizado am algumas delas. Se nós não respeitamos nossos símbolos e mártires, não nos dá o direito de desrespeitar os dos outros. E, para terminar, a gente não pode cutucar com lápis quem está habituado a responder com bombas.


Ricardo Mezavila