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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Nihil obstat

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O Vaticano concedeu o “nihil obstat” – nada impede - ao surfista carioca Guido Shaffer, morto enquanto surfava nas águas do Recreio dos Bandeirantes, no Rio. O rapaz morreu aos trinta e quatro anos, em 2009, às vésperas de se tornar padre. O candidato a santo tem uma legião de fiéis que garantem que ele realiza milagres. A igreja católica está reforçando seu time para suportar tempos de intolerância, desrespeito étnico e religioso; assim como a badalada “liberdade de expressão”.

Há uns dias um outro rapaz, candidato a biólogo, também às vésperas de sua formatura, foi morto por outros dois rapazes, esses já formados no crime. Alex Schomaker estava no ponto de ônibus, em Botafogo, no Rio, e foi barbaramente assassinado por não responder pacificamente ao já banal: “perdeu, perdeu”.

As duas famílias sofrem a perda de seus filhos. A de Guido tem o conforto de uma eventual beatificação; a de Alex vai ter de conviver como tantas outras que são vítimas da incapacidade governamental de combater a violência na raiz. Parece que a justiça celestial é mais rápida que a justiça humana. Se tornar santo, aqui no Brasil, tem menos impedimentos do que o fortalecimento das leis sociais, educacionais e de segurança pública.

O processo de beatificação investiga a vida do candidato para verificar seu testemunho de santidade. Para se tornar beato, é necessária a comprovação de um milagre por sua intercessão. Em caso de martírio essa condição é dispensada. Não tenho nenhuma pretensão, mas de martírio nós entendemos. Quem mora na cidade do Rio de Janeiro, como em outras capitais, quase que completamente dominadas pelo poder paralelo, vive sob a égide do medo e da perda. Haja santo!

As águas do mar do Recreio levaram o jovem Guido para surfar uma onda no céu; as ruas do Rio levaram o jovem biólogo Alex, para o céu também, mas não em uma onda azul e cheia de poesia. A mãe de Alex disse que não perdoa os que cometeram o crime, não tem perdão mesmo, não somos santos e não fazemos milagres. As leis divinas não valem nos tribunais. Enquanto isso vamos assistindo mártires aos borbotões sendo tirados de nossos convívios, deixando de completar seu ciclo, seja no seminário,  na faculdade e na vida.

Ricardo Mezavila,
Unamar, janeiro de 2015.


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