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domingo, 27 de janeiro de 2013

Durma com um barulho desses! (Santa Maria)





Tem dias em que o que a gente mais quer é dormir e esquecer a música que tocou em nossa cabeça durante todo dia. Se for algo como Summertime, com Billie Holiday, não tem problema, o sono é até tranqüilo e calmo, mas se for um “batidão” ou “sertanejo”...

Às vezes não tem como evitar. Estamos caminhando desprevenidos e um carro passa com o som alto e a música entra na cabeça e fica ali, escondida. Até tentamos expulsá-la com pensamentos sobre a história da bossa nova, os poemas de Neruda , a biografia do Cartola, o filme sobre Heleno, o livro do Ricardo Kotscho, mentalizamos Georgia on my mind, mas não tem jeito.

Algumas vezes, não são as músicas que ficam latejando na nossa cabeça o dia todo. Barack Obama, em discurso, disse que todos são iguais nos Estados Unidos da América: Negros, Gays e Imigrantes. Então tá, Obama! Vou pensar que isso é verdade, assim posso acabar acreditando que José Genoino vai perder o mandato e Renan Calheiros não volta para o senado.

Enquanto vou tentando ouvir vozes amigas e agradáveis, ouvir as histórias do Tropicalismo, as influências musicais do Led Zeppelin, o som Delta Blues de Bukka White, fico sabendo de uma tragédia na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Duzentos e quarenta e cinco jovens morreram por asfixia em uma boate ironicamente chamada Kiss (beijo). Uma banda fez um show pirotécnico no palco e deu início a um incêndio.

Não há como dormir com um barulho desses. Antes fosse Michel Teló!



Ricardo Mezavila

sábado, 26 de janeiro de 2013

Estou criando meu "pai"






Coisas de avô! Com essa expressão vou entendendo, ou tentando entender alguns fatos decorrentes da patente. O convívio diário, agora nas férias, com meu neto, que tem imaginação fértil e ao mesmo tempo é crítico, tem me dado a impressão de que o tempo está “pirado”. Como explicar a vontade de sair por aí imitando um galo? Nunca fui convencionalmente adulto, tecnicamente sim. Desde sempre não tenho a formalidade cronológica ali, encaixada com a idade.

Lembro da minha avó, Vicentina, falando que meu pai era um menino exigente. – “Rivail era chato!” Era assim que ela falava. Dizia isso com orgulho, porque o “velho” era organizado. Hoje, o Guilherme, meu neto, é mais ou menos como ele. Então posso pensar que estou criando o meu “pai”. Imaginação é o que não falta quando começo a tocar as palavras.

Até agora ele aprendeu a andar de bicicleta, a pescar, andar na chuva e a gostar de comer alface. Eu aprendi a jogar plantas vs zumbis, sei a diferença entre um trem feio e um bonito, a cantar Amor de Chocolate, do Naldo e aumentei o repertório de imitações, agora eu sei imitar porco e sapo. E assim vamos ensinando e aprendendo um com o outro em sintonia com o tempo.

Antigamente os avós eram mais velhos, ainda são, mas vejo uma legião de vovôs e vovós fazendo coisas que os nossos não faziam. Eu não consigo imaginar meu avô soltando pipa ou jogando futebol. Quando eu nasci ele tinha mais de sessenta anos. Hoje vivemos mais e com qualidade superior, segundo pesquisas. Outro fator é que não temos como optar entre ser avô ou não. Então, um dia, aquele moleque ou aquela pirralha, com a cara de culpa chega para voce e anuncia que vai ter um filho.

Aconselho aos vovôs e vovós precoces a aprenderem com os netos, eles precisam ensinar, passar toda a sua “experiência” para nós. Assim a gente se aproxima, ludicamente, da nossa infância, acaricia a memória e desperta para o sonho.

Making off
No telefone:
Avó: Netinho venha me visitar, a vovó está com saudades.
Neto: Ok  vó, qualquer dia passo ai.
Vovó: Ta bom é para vir Hein! (sei que ele nunca passa)


Ricardo Mezavila

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Eu sou o punk dentro do museu do índio





Os índios, em 1500, foram expropriados por Cabral. Em 2013 os índios correm o risco de expropriação, por Cabral. Que sina a dos índios! Entre um Cabral e outro, quais foram os benefícios e direitos que eles conquistaram? Só se tem notícia de perdas. Seus territórios foram dizimados e as aldeias viraram guetos. O homem branco com sua cultura foi capitalizando a riqueza natural através da força das leis e, muitas vezes, das armas.

Muitos índios migraram para as cidades e tentam sobreviver como pássaros em cativeiro. A razão pelo qual chegaram até aqui está na desocupação de suas terras, que os empurrou para a margem da sociedade tecnologicamente desenvolvida.

Muitas organizações civis e governamentais, junto com os “avulsos” de plantão, sempre que podem aproveitar uma situação estão lá, como paladinos e porta-vozes das minorias desprotegidas e exploradas. É o caso, aqui no Rio de Janeiro, dos defensores dos habitantes da “Aldeia Maracanã”, localizada em pleno centro urbano em um antigo prédio onde funcionava o museu do índio (transferido para Botafogo).

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM) se coloca ao lado da comunidade que vide na aldeia e contra a demolição do prédio. O presidente da Fundação Darcy Ribeiro, afirmou que existe um documento de 1865, onde o príncipe Ludwig August de Saxe-Coburgo-Gotha (1845-1907) — conhecido como 'duque de Saxe',  exigiu, ad eternum, que o terreno deveria ser utilizado com finalidade de apoio 'à causa dos índios'.

Algumas aldeias indígenas têm como cultura e tradição comum o infanticídio, que é pouco conhecido por aqui, e que tem provocado polêmica no país. Ainda hoje é possível encontrar índios que sacrificam crianças gêmeas, deficientes ou até filhos de mãe solteira. No código penal brasileiro isso se chama crime.

Todos sabemos que a desocupação é por conta da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro. O espaço vem atender às exigências da engenharia para que, o complexo do Maracanã e adjacências, sejam reformulados e atendam as normas do projeto urbano e da Federação Internacional de Futebol (FIFA).

Eu considero essa polêmica bastante delicada porque, de um lado estão os indefesos índios historicamente usurpados, mas que possuem algumas crenças e práticas duvidosas e, do outro lado, o poder branco com sua riqueza e com o legado do desenvolvimento que os eventos trarão para toda a cidade. Eu sou aquele “PUNK” (ad eternum) que estendeu uma rede lá no prédio do antigo museu, que passa o dia escrevendo poesia, bebendo cerveja e olhando a cultura branca desfilando seus carros oficiais.

Ricardo Mezavila

domingo, 6 de janeiro de 2013

Em alguma frase desse texto


by internet


Todo mundo, um dia, esteve no topo e não teve consciência disso. Acontece que, quando a gente está no topo, nunca acredita que ali, diante daquelas coisas que acontecem, o reconhecimento notório e tapinhas nas costas possam significar que, finalmente, a gente chegou lá. Eu estive no topo e também não sabia.

Estive no topo das questões sociais, nas tomadas de decisões, na febre dos dias que nunca terminavam, das reuniões infindáveis e das polêmicas vazias. Eu estive no topo daquilo que queria e não me dei conta disso, não tive uma colocação prévia onde pudesse eternizar o momento, no máximo algumas comemorações festivas e nada mais. Isso acontece quando estamos no topo e acreditamos que isso não passa de uma ideologia, uma obrigação com a sociedade.

A gente está no topo quando está em paz, está com a família, com aqueles que a gente sente alguma coisa muito maior do que as palavras podem expressar agora; Estamos no topo quando dormimos e acordamos com um sorriso de integridade e digno; Estamos no topo quando concebemos chorar em uma cena de filme porque nos fez lembrar um momento de felicidade.

Eu estive no topo quando aprendia a cantar os sambas que minha cantava; quando esperava meu pai chegar em casa, à noite, para desejar boa noite e dormir com o paladar das balas que ele trazia; quando trocava o apelido de um colega pelo seu nome próprio para não constranger; quando peneirava a gaveta do quarto dos meus pais atrás dos recortes das trovas publicadas nos jornais, aos domingos, que minha mãe colecionava.

Eu, agora, neste momento, estou no topo, no auge da minha existência, no contexto do bordado em meio aos retalhos que escolhi para costurar a minha roupa nova, o meu texto engavetado, o grito que sai da minha boca e, como um solo, chega como música aos ouvidos de quem acaba de se encontrar em alguma frase desse texto.

Ricardo Mezavila