Todo mundo, um dia, esteve no
topo e não teve consciência disso. Acontece que, quando a gente está no topo,
nunca acredita que ali, diante daquelas coisas que acontecem, o reconhecimento
notório e tapinhas nas costas possam significar que, finalmente, a gente chegou
lá. Eu estive no topo e também não sabia.
Estive no topo das questões
sociais, nas tomadas de decisões, na febre dos dias que nunca terminavam, das
reuniões infindáveis e das polêmicas vazias. Eu estive no topo daquilo que
queria e não me dei conta disso, não tive uma colocação prévia onde pudesse
eternizar o momento, no máximo algumas comemorações festivas e nada mais. Isso
acontece quando estamos no topo e acreditamos que isso não passa de uma
ideologia, uma obrigação com a sociedade.
A gente está no topo quando está
em paz, está com a família, com aqueles que a gente sente alguma coisa muito
maior do que as palavras podem expressar agora; Estamos no topo quando dormimos
e acordamos com um sorriso de integridade e digno; Estamos no topo quando
concebemos chorar em uma cena de filme porque nos fez lembrar um momento de
felicidade.
Eu estive no topo quando aprendia
a cantar os sambas que minha cantava; quando esperava meu pai chegar em casa, à
noite, para desejar boa noite e dormir com o paladar das balas que ele trazia;
quando trocava o apelido de um colega pelo seu nome próprio para não
constranger; quando peneirava a gaveta do quarto dos meus pais atrás dos
recortes das trovas publicadas nos jornais, aos domingos, que minha mãe
colecionava.
Eu, agora, neste momento, estou
no topo, no auge da minha existência, no contexto do bordado em meio aos
retalhos que escolhi para costurar a minha roupa nova, o meu texto engavetado,
o grito que sai da minha boca e, como um solo, chega como música aos ouvidos de
quem acaba de se encontrar em alguma frase desse texto.
Ricardo Mezavila
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