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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Vomitando a cereja



Quando nos confortamos com o que temos, mesmo sendo insuficiente para suprir as necessidades intelectuais, afetivas ou materiais, é porque atingimos a zona de conforto perigosa. É como estar em uma correnteza e não tentar sair dela, como assistir ao leite derramado e não abaixar o fogo. A zona de conforto é uma espécie de cova rasa que a gente enfia o pé e depois sente que o tornozelo está sendo triturado.

É diferente de estar acomodado, porque enquanto o acomodado não tem ambição e prefere os barrancos para ficar encostado, a zona de conforto dá a falsa sensação de que estamos sentados em almofadas de penas de ganso, que tudo a nossa volta trafega dentro do perímetro das nossas expectativas, que o vento sopra balançando as cortinas para garantir qualidade à nossa estabilidade.

De certo as dificuldades e as armadilhas estão por aí nas entrelinhas, nas ante-salas, nas curvas, nas penumbras, nas frestas que estão espalhadas pelo campo minado quando escolhemos a hora de tirar os pés do buraco e partir para o ataque, seguir para o enfrentamento com a certeza de que, pelo menos, vontade de vencer é o que não falta.

O perigo da zona de conforto é o contentamento de não ter que exigir mais da vida, não desejar uma ceia mais variada, não curtir um pileque na segunda-feira. Se o ralo estiver entupido e a água estiver demorando em descer, não pare de lavar a cozinha, abra o ralo e enfie um arame por sua goela, lembre de quando voce sentava no chão do banheiro e vomitava a “cereja”.

É mais ou menos isso! Vamos vomitar as cerejas que nos fazem mal, as palavras que desalinham a nossa frase, os afetos que nos abraçam apertando o pescoço e nos fazem carinho com chutes. A zona de conforto não pode existir dentro de uma história que começou sabendo que no fim só o fim. A vida pode até ficar mais bonita com a cereja, desde que não faça mal à digestão.

Ricardo Mezavila

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

As cinzas de Roma na Quarta-Feira Pagã





Voltando do carnaval, depois de deixar a fantasia guardada na gaveta para o ano que vem, as coisas começam a entrar nos eixos, no formato natural, sem máscaras, quer dizer, máscaras carnavalescas, porque a falsidade e a trapaça continuam durante e depois de o rei deixar a folia e voltar à realidade da rotina barulhenta da cidade.

A grande notícia não partiu das ruas coloridas pelos blocos, ou da passarela do samba onde as escolas caminham passos largos para a indiferença popular se não ousarem a criar desfiles mais tradicionais com sambas de verdade e não metade samba e metade burocracia; enredos de verdade e não metade enredo e metade marketing; gente de verdade e não metade gente e metade silicone.

O grande destaque do reinado de momo veio de Roma, não a Roma Pagã que perseguia os cristãos e que os carnavalescos adoram como enredo, mas do enclave murado que fica dentro da cidade de Roma. O intelectual alemão Joseph Ratzinger, que foi ordenado padre após desertar do exército, no fim da segunda guerra, renunciou do cargo de sumo pontífice da igreja católica. O papa Bento XVI sucedeu João Paulo II com o objetivo principal de lidar com denúncias de abusos sexuais de sacerdotes.

Não é novidade que o alto clero encobre deslizes de seus pares, que se protegem de acusações irrefutáveis e constrangedoras. Não bastassem seus próprios infortúnios e escândalos, algumas polêmicas como a condenação do casamento entre homossexuais, a igreja católica vê o crescimento do protestantismo avançando, principalmente na América Latina.

De resto o de sempre, a televisão, com apoio da prefeitura, julga, condena e executa os desfiles das escolas de samba; repórteres fazendo perguntas sem nexo às celebridades bêbadas; jogadores de futebol assumindo relacionamento com atrizes; estradas com trânsito caótico e propagandas ameaçadoras sobre a lei seca.

Ah! Já ia esquecendo o pior dos delírios que eu já assisti em um desfile de escola de samba, com requinte de mau gosto e total ignorância histórica e política, a bateria do Salgueiro (a furiosa), “homenageou” Guevara em um enredo discorrendo sobre “fama”.  Quem conhece a história sabe que o Che tinha avesso ao culto de sua imagem. Escritores que estiveram com ele durante o período das guerrilhas disseram que a imagem de seu rosto estampado nas camisas foi sua segunda morte. Tenho que escrever aos camaradas para informar que Che Guevara foi metralhado novamente, em pleno carnaval carioca.

Ricardo Mezavila

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Voce cuidou de mim!





Charles nasceu em Fordlandia, vilarejo que fica no Pará, construída em  1920 por Henry Ford para ser fonte de látex para a indústria automobilística. Por não ter suprido as necessidades de produção, vinte e cinco anos depois foi abandonada. Dona América cuidava de Charles quando ele era bebê. Os pais de Charles, que eram americanos, com o fim do “sonho” de Ford, voltaram aos Estados Unidos quando ele tinha quatorze anos.

O tempo passou, cinquenta e quatro anos depois, Charles volta à Fordlandia, uma cidade fantasma. Onde havia construções, agora só ruínas e muita melancolia nas histórias daqueles que ficaram. Dona América ainda vivia lá quando Charles foi visitar o lugar onde nasceu. Ele a encontrou e disse: “Voce cuidou de mim!” E chorou.

Voltar ao lugar onde nascemos significa um encontro com nós mesmos, com a nossa história. É como experimentar a sensação do feto momentos antes do contato com o mundo externo.  A gente continua morando na casa em que nasceu!” Escreveu Mario Quintana. E é isso mesmo, a gente habita dentro da memória que temos desde sempre, desde as primeiras lembranças.

Comete erro aquele que ignora suas raízes e o seu passado; maltrata o espírito aquele que desdenha e maldiz o ninho que o abrigou; fere o coração do amigo a indiferença e o esquecimento daquele que virou a esquina sem uma despedida; suicida-se aquele que alimenta a mágoa, o rancor e despreza a alegria de quem só o quer ver sorrir; perde-se no caminho aquele que não reconhece os cuidados de quem ,um dia, guardou o seu sono com carinho.

O sexagenário Charles ao abraçar a octogenária América, não era só um bebê de fraldas agradecido, era um homem abençoado tendo a oportunidade de olhar para a cara do tempo e perceber que a vida vale muito a pena, que é um consentimento e uma graça, não podemos deixar que ela se perca em palavras mal entendidas e ressentimentos. Assim, dessa forma, a gente consegue um jeito de voltar para casa.


Ricardo Mezavila

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Os olhos vendados da verdade


rubens paiva


No Brasil existe uma tal ”Comissão Nacional da Verdade”, que visa investigar violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988 no Brasil por agentes do estado. Os membros dessa comissão atuam no esclarecimento dos fatos obscuros de tortura e mortes no período da ditadura. Ao final das investigações publicam um relatório dos principais achados, que podem vir a público ou ficar apenas na esfera governamental. Quer dizer, mesmo investigando os arquivos das trevas e trazendo luz ao caso, ainda vão sofrer algum tipo de censura.

Outra, a comissão é para convocar acusados e vítimas para depoimentos, mas sem caráter obrigatório; pesquisa todos os arquivos do poder público do período investigado, mas sem poder de punição ou mesmo de recomendar que os órgãos competentes o façam. O objetivo principal dessa comissão é colaborar com o poder público nas apurações, uma espécie de: “arruma uma vaguinha para o meu sobrinho!”.

A comissão foi criada em 2010, mas passou por diversas mudanças, principalmente para atender os militares. Eles se queixaram do termo “repressão política”, a comissão a retirou do dicionário. Outro termo que foi abolido foi “apuração de violação” e passou carinhosamente para “exame de violação”. Quando surgiu a ideia das investigações era para apurar fatos do período da ditadura militar entre 1964 a 1985, mas, atendendo aos anseios dos investigados e para dispersar a verdade, partiram do ano de 1946 e fizeram um “puxadinho” até 1988.

Para “surpresa” geral a comissão divulgou a óbvia e notória conclusão de que o deputado federal Rubens Paiva morreu em conseqüência de tortura, a qual foi covardemente vítima, nas instalações do Departamento de Operações e Informações (Centro de Operações de Defesa Interna – DOI-CODI). O relato foi feito pelos próprios assassinos, agentes da repressão que o prenderam.

Comissão Nacional da Verdade, os nomes dos assassinos estão na mesa de quem?


Ricardo Mezavila

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Eu, Tom e Bob






Fui assistir, na Lagoa, o campeonato mundial de Skate. Eu, ex-skatista orgânico, que descia a ladeira da rua Tenente Costa na década de 1970, uma das primeiras pistas de rua do Rio de Janeiro, segundo matéria do Globo Esporte e gostei muito do que vi. Com organização perfeita e pistas com rampas altíssimas, os meninos faziam acrobacias de tirar o fôlego.

Fiquei impressionado com a popularidade de Tom Schaa, um menino norte americano, de dezesseis anos, distribuía autógrafos nos skates de seus fãs que faziam enorme fila para conseguir a atenção do ídolo mirim. Outro famoso que estava lá era Bob Burniquist esse, brasileiro, experiente, trinta e sete anos, várias vezes campeão mundial.

No entorno da competição, vários jovens curtiam seus skates nas pistas da Lagoa, alguns não tão jovens faziam do domingo uma volta ao passado. Lembrei dos campeonatos que eram realizados na Quinta da Boa Vista. Notei algumas diferenças entre as épocas, os skates hoje são infinitamente superiores aos de antes, os designers facilitam os movimentos, são maiores e mais resistentes.

Outra diferença foi a música que embalava o evento da Lagoa: hip-hop. No “meu” tempo era rock’n roll pesado. Li em uma matéria que os praticantes de antigamente eram “grungers”, o que não é verdade. Não havia nada de “underground” no comportamento da rapaziada.

O sol brilhava o que fazia o momento ainda mais especial. Fiquei observando as pessoas e pensei de como é uma afronta, falta de respeito com quem morreu, as pessoas deixarem de ser felizes por mesquinharia. É indigna a pessoa saudável reclamar por coisa nenhuma e amiúde. Pensei nos jovens da tragédia de Santa Maria, e de como os que ali estavam se pareciam com eles.

Precisamos viver com alegria, aproveitando a doçura dos momentos, sentir-se vencedor por ter vivido e feito brilhar “aquele” instante. Como nesta frase de um skatista anônimo: “Andar de skate é tomar impulso, atravessar a rua, subir e descer calçadas, dropar de um lugar alto, improvisar, equilibrar, saber cair e depois levantar.”


Ricardo Mezavila

 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

E Sarney chorou...



   
               
Ele voltou! Cinco anos após ter renunciado à presidência do senado para evitar cassação, Renan é reconduzido ao posto por seus pares, mesmo tendo apresentado notas fiscais falsas, ter desviado verbas que poderiam estar na educação, ele está de volta, como um mártir ele vai presidir novamente o senado. Peculatos e falsidades ideológicas à parte, o Brasil está tendo o que merece. O senador Fernando Collor quer agilizar uma representação do senado contra o procurador que acusou Renan para que ele nunca mais acuse um senador. “O tempo é o senhor da razão” era a frase na camisa de Fernando em 1992. O tempo deve estar com Alzheimer.

A história tinha que resgatar outros vilões injustamente “demonizados”, eles teriam a oportunidade de mostrar que não eram tão maus. Aliás, o termo “vilão” na idade média era dado a uma pessoa que habitava em vilas, não pertenciam à nobreza. Hoje o termo é atribuído a quem é desonesto e indigno, só que agora pertencem às elites.

Adolf Hittler, o alemão que era austríaco e dublê de Charles Chaplin, se fosse julgado pelo senado brasileiro seria absolvido e seus perseguidores seriam cassados para que nunca mais o acusassem e o responsabilizassem pela morte de seis milhões de pessoas. O mesmo aconteceria se Átila, o Huno, fosse acusado de forjar documentos falsos, seria inocentado pelo corporativismo mesmo tendo o apelido de “praga de Deus”. Os senadores são tão bonzinhos! Diria Kate Lyra certamente.

O Partido dos Trabalhadores é como um menino que fica escutando conversa de adulto e aprende a fazer coisas que ainda não deveria fazer. De tanto encher o saco ganhou um brinquedo, a presidência da república, para se divertir e ficar distraído, enquanto os adultos continuam a conversa sem que o menino ouça, veja ou fale alguma coisa. Tenho saudades das inconveniências desse menino de macacão e atiradeira nas mãos.

Sarney, o “transparente” chorou ao se despedir do cargo de presidente do senado. “Tadinho”!

Ricardo Mezavila

Pra ler nas entrelinhas




Existem dois Ramalhos que me influenciaram distintamente. Coincidência ou não, os dois tem por nome José. O músico Zé Ramalho da Paraíba, “O Bob Dylan do sertão”, e o José Antonio Ramalho, autor de vários livros de linguagens para computador entre outros. O Primeiro José eu vi quando debutou no Teatro Ipanema, em um show onde tocou as músicas de seu primeiro disco Long Play, “Avôhai”, “Vila do Sossego” e “Chão de Giz”, ficamos todos “ligadaços” – nesse sentido mesmo que você está pensando.

O escritor dos livros, o segundo José, veio em uma época já distante dos acordes de “A peleja do Diabo com o dono do Céu”, longe dos shows e das visões coloridas dos palcos, das metáforas “ramalianas” e da poesia do xará mais famoso. Eram dias difíceis de desemprego e toneladas de sacos de responsabilidade para carregar nos ombros.

Mas, dias difíceis fazem parte da vida, nem tudo é só flores ou só espinhos. As rosas ficam mais desejadas e bonitas pela presença dos espinhos, na dificuldade de tocá-las sem ferir-se. Os perigos que rondam os dias também podem fazer com que eles sejam mais interessantes. Às vezes tratar um problema de frente, mesmo com a ameaça de uma grande ferida, pode valer mais a pena do que os pequenos arranhões que vão avançando lentamente, sangrando com o movimento do ponteiro do relógio.

A iluminação do show brilha mais quando os olhos aprendem a lição do escuro. Quando aprendem que na presença da luz a voz denuncia, na sua ausência se cala. O silencio do escuro não significa que não vai haver música, ou que a luz é necessária para que o artista suba no palco. O silencio só quer dizer que o momento do intervalo é quando realmente o show acontece.

Pois é, de Zé a Zé “Ramalhei” muito. O livro - Clipper 5, volume 1, release 5.2 -  foi meu “travesseiro” quando lecionava em cursinhos de informática para pagar as contas. As linhas melódicas de “Vida de Gado”, nesse contexto, encaixariam ritmicamente nas linhas dos códigos de comandos do livro do “Ramalhão”.


Ricardo Mezavila

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

“Vejo um espírito subindo da terra”


samuel aparece para saul


Em recente comemoração por ter feito gol, o jogador uruguaio Lodeiro, tirou a chuteira, levou-a ao ouvido e simulou estar falando ao telefone. Perguntado, após o jogo, o que aquilo significava ele respondeu que estava falando com seu pai, falecido há pouco mais de um ano.

É simbolismo, porém de grande valor sentimental. Podemos nos comunicar com nossos mortos através da ferramenta que utilizamos. Eu por exemplo posso me comunicar com meus pais através de uma caneta; o guarda de trânsito pode usar o apito; o açougueiro, a faca; o médico, o estetoscópio; o professor, o apagador; o juiz, o martelo; o pedreiro, a colher, e por aí vai...

A comunicação com os mortos é uma ideia antiga que consta em passagens na Bíblia: “Samuel tinha morrido. Todo o Israel participara dos funerais, e o enterraram em Ramá, sua cidade. De outro lado, Saul tinha expulsado do país os necromantes (quem fala com os espíritos) e adivinhos. Os filisteus se concentraram e acamparam em Sunam. Saul reuniu todo o Israel e acamparam em Gelboé. Quando viu o acampamento dos filisteus, Saul teve medo e começou a tremer.. Então Saul disse a seus servos:"Procurem uma necromante, para que eu faça uma consulta"

Saul se disfarçou, vestiu roupa de outro, e à noite, acompanhado de dois homens, foi encontrar-se com a mulher e disse: "Quero que você me adivinhe o futuro, evocando os mortos. Faça aparecer a pessoa que eu lhe disser.” A mulher perguntou: "Quem você quer que eu chame?" Saul respondeu: "Chame Samuel"

A mulher viu Samuel aparecer. “Vejo um espírito subindo da terra". Saul perguntou: "Qual é a aparência dele?" A mulher respondeu: "É a de um ancião que sobe, vestido com um manto". Então Saul compreendeu que era Samuel, e se prostrou com o rosto por terra.

Alimentar a saudade, apesar de parecer masoquismo, é uma atitude saudável que devia ser entendida mais racionalmente. Saudade nunca pode ser sofrimento, mas a busca da permanência do amor.

Ricardo Mezavila

Uma Estrela dentro da Estrela


BFR

A verdadeira transformação não está em mudar as coisas, sair da preferência comum e passar para o oposto, ter uma opinião por minuto, nadar contra a correnteza, organizar movimentos e resistir na trincheira. Transformar é muito mais do que somente discursos, mais do que dialética, não é uma guerra tradicional onde o inimigo defende outras cores.

A transformação está em ler um livro e escrever outro no mesmo livro, está em contar uma história dentro da própria história, fazer carnaval dentro do carnaval, compor uma canção no intervalo de outra, conversar com o espelho, ter um coração batendo dentro do coração.

Assim, transformando sem perder, atingimos o fundo de tudo e emergimos sempre com novidades. Desfrutando do que existe para ser desfrutado, amando o que é amado, vivemos intensamente a vida dentro da vida.

A intensidade como vemos e fazemos as coisas faz o sangue divertir-se pelo corpo, brincando com as artérias, aliviando as pressões. Faz brilhar um sol dentro do sol, um dia dentro do mesmo dia.

Assim é o Torcedor do Botafogo: uma paixão dentro da paixão, um Fogo dentro do Fogo, uma Estrela dentro da Estrela.

Saudações Alvinegras!

Ricardo Mezavila