Voltando do carnaval, depois de
deixar a fantasia guardada na gaveta para o ano que vem, as coisas começam a entrar
nos eixos, no formato natural, sem máscaras, quer dizer, máscaras
carnavalescas, porque a falsidade e a trapaça continuam durante e depois de o rei
deixar a folia e voltar à realidade da rotina barulhenta da cidade.
A grande notícia não partiu das
ruas coloridas pelos blocos, ou da passarela do samba onde as escolas caminham
passos largos para a indiferença popular se não ousarem a criar desfiles mais
tradicionais com sambas de verdade e não metade samba e metade burocracia;
enredos de verdade e não metade enredo e metade marketing; gente de verdade e
não metade gente e metade silicone.
O grande destaque do reinado de
momo veio de Roma, não a Roma Pagã que perseguia os cristãos e que os
carnavalescos adoram como enredo, mas do enclave murado que fica dentro da
cidade de Roma. O intelectual alemão Joseph Ratzinger, que foi ordenado padre
após desertar do exército, no fim da segunda guerra, renunciou do cargo de sumo
pontífice da igreja católica. O papa Bento XVI sucedeu João Paulo II com o
objetivo principal de lidar com denúncias de abusos sexuais de sacerdotes.
Não é novidade que o alto clero
encobre deslizes de seus pares, que se protegem de acusações irrefutáveis e
constrangedoras. Não bastassem seus próprios infortúnios e escândalos, algumas polêmicas
como a condenação do casamento entre homossexuais, a igreja católica vê o
crescimento do protestantismo avançando, principalmente na América Latina.
De resto o de sempre, a
televisão, com apoio da prefeitura, julga, condena e executa os
desfiles das escolas de samba; repórteres fazendo perguntas sem nexo às
celebridades bêbadas; jogadores de futebol assumindo relacionamento com
atrizes; estradas com trânsito caótico e propagandas ameaçadoras sobre a lei
seca.
Ah! Já ia esquecendo o pior dos
delírios que eu já assisti em um desfile de escola de samba, com requinte de
mau gosto e total ignorância histórica e política, a bateria do
Salgueiro (a furiosa), “homenageou” Guevara em um enredo discorrendo sobre
“fama”. Quem conhece a história sabe que
o Che tinha avesso ao culto de sua imagem. Escritores que estiveram com ele
durante o período das guerrilhas disseram que a imagem de seu rosto estampado
nas camisas foi sua segunda morte. Tenho que escrever aos camaradas para
informar que Che Guevara foi metralhado novamente, em pleno carnaval carioca.
Ricardo Mezavila
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