Vivemos
em uma sociedade onde nada mais surpreende, nada é novidade, qualquer coisa
pode acontecer com qualquer um, em qualquer lugar e o tempo todo. Resta-nos
então, já que não há novidades no reino, refletir e entender o momento para
que, ao menos, nossa existência faça algum sentido.
Reflito
sobre o gênero na política e de como deve ser enriquecedor, mas difícil e
atormentador, para uma mulher, exercer o cargo mais importante da república. Em
meio à crise fomentada e alimentada pela oposição, a presidenta Dilma, na falta
de bigodes para torcer e de culhões para enfrentar os adversários machos e
bigodudos, vai perdendo o jogo em um campo onde historicamente as mulheres
nunca bateram um bolão.
Na
política também não há novidades. É notório que o diálogo entre os partidos sai
dos gabinetes gelados e terminam nos copos gelados e nos charutos importados.
Em qualquer empresa, de qualquer porte, muitos problemas são resolvidos, ou
minimizados, fora do ambiente comum de trabalho, na penumbra de um happy hour,
na inspiração de um crooner e seu banquinho e de uma dançarina no pole dance.
Cresci,
obliquamente, convivendo mais com mulheres, desde minha mãe, duas irmãs,
amiguinhas das irmãs, primas e tias. Do outro lado tinha meu pai, coleguinhas,
primos e tios. A falta de um irmão fez com que a balança tivesse mais peso do
lado feminino. Nos constantes encontros da família, no intervalo de uma
brincadeira e outra, eu parava ao lado do meu pai na cozinha, os pés sempre
sobre barris de chopp, e ficava ouvindo a conversa dele com meus tios e ria
quando eles riam. Não era notado.
Dando
mais um intervalo nas brincadeiras, eu entrava no quarto onde conversavam minha
mãe e minhas tias, todas sentadas sobre a cama, e ficava ouvindo a conversa e
ria mais ainda. Só que eu era notado e, invariavelmente, elas pediam que eu
voltasse a brincar, que saísse do quarto e fechasse a porta.
Eu
lembrei disso quando vi esta semana, pela televisão, a presidenta Dilma
discursando quase que pedindo para que os homens da oposição saíssem do quarto
e a deixassem governar, quando devia abrir a porta e exigir comprometimento.
Tive a impressão de que vi uma guerrilheira abatida e cansada, uma militante
insegura com os rumos que seu partido tomou. Em uma coisa os homens ganham das
mulheres: são mais solidários.
O
congresso machista não deixa de colocar seus pés sobre barris e tramar suas
estratégias adornadas por luzes vermelhas e sofás de couro, enquanto o país vai
seguindo no quarto, sentado na cama, de portas fechadas, costurando suas meias
rasgadas. Cabe às mulheres, mais do que os homens, apoiar a presidenta nesse
momento de dificuldade onde se nota, claramente, um viés preconceituoso, meio migué,
meio de través.
Ricardo
Mezavila