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sábado, 28 de março de 2015

A ejaculação precoce dos anjos

Jorge Loredo



Talvez o personagem Zé Bonitinho seja a representação do homem nacional embalado e etiquetado. Todos já fomos um pouco Zé Bonitinho pelo menos uma vez na vida. O personagem do ator Jorge Loredo, tinha o lado exibicionista como seu traço principal, mas também tinha a dose exata do cafajeste, do conquistador, do malandro, do sedutor que todo homem tem, ou se não tem, devia ter.

Não adianta o cara se vestir bem, ser educado, bonito, ter dinheiro, se não souber conversar. Zé Bonitinho não tinha nenhuma dessas qualidades, mas tinha “lábia”, toda mulher gosta de ouvir indiretas sedutoras, gosta de atitude e de confiança. O que torna o homem atraente não é o perfume do “Ralph Lauren Polo Blue Eau” ou um jantar no “Shin Zushi”. O que o torna atraente é fazer tudo isso e ainda tomar uma Brahma no balcão do botequim, sem perder a atenção da mulher.

Às vezes a assepsia traz embutida um traço sociopata, um transtorno de personalidade que, com certeza, é melhor manter distancia. O copiloto alemão da Germanwings, que sonhava com aviões caindo, tinha um comportamento parecido. O que seria um voo romântico pelos Alpes Franceses para os marroquinos recém-casados, se transformou em tragédia. É preciso cautela em avaliar alguém pela aparência, não existe um padrão de comportamento perfeito, os anjos também têm ejaculação precoce.

O borogodó da questão está na seqüência, na evolução do conjunto, nem para mais nem para menos, está na dosagem da bobagem com o comprometimento. Não conheço ninguém feliz sem ser bobo. Ser mocinho e bandido é importante para que a mulher se sinta protegida pela lei e pelo poder paralelo na falta dela. Não concordo com Nelson Rodrigues quando disse que “mulher gosta de apanhar”, nem com Vinícius de Moraes que falou que “beleza é fundamental”. Prefiro acreditar que não há fórmula, a coisa flui sem que se saiba como, se é gostoso e faz bem, então é bom.

Se por acaso a estrada estiver cansativa e longa, se está difícil achar o Zé Bonitinho, recicle. Faça como os artistas fazem quando estão no ostracismo, comece tudo de novo, mas de outro jeito. Gal Costa, por exemplo, está gravando só Lupicínio; Frejat está mostrando versão acústica de seus sucessos e Baby do Brasil lança DVD que repassa sua carreira. Mas se quiser radicalizar, faça como a Elba Ramalho, que disse que está cansada de se “autoplagiar”.



Ricardo Mezavila.

terça-feira, 24 de março de 2015

A Lei Simonal


Maitê


Impressionante como o tempo realmente tem a capacidade e o poder de transformar a história. O que era culpa vira inocência, o castigo vira perdão, a condenação vira indulto, a acusação vira defesa. Parece que existe uma entidade divina ou profana, que se encarrega de riscar o que estava escrito para atender oligarquias.

Recentemente o Brasil assistiu ao documentário “Ninguém sabe o duro que dei”, sobre o cantor Wilson Simonal. Para quem ainda não sabe, Simonal fez muito sucesso nas décadas de 1960/1970, emplacando um sucesso atrás do outro. Era assumidamente debochado e mascarado. Negro, em uma época onde brancos e militares comandavam as artes e a política, ironizava sua condição de novo rico com ironia e arrogância.

Acreditando que tinha sido vítima de um esquema financeiro e iludido pela fama e pelo dinheiro, Simonal abusou das bravatas, usou seu prestígio de artista para se aproximar dos órgãos de opressão da época para dar um “corretivo” violento em seu contador nas dependências do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), órgão repressor perseguidor de artistas e intelectuais da esquerda.

O excepcional showman foi acusado, por conta do episódio, de trabalhar para o regime militar, a mídia e a esquerda o tratavam como dedo duro da direita. Seus colegas artistas o crucificaram e o abandonaram, não fechava contrato para shows e viveu no ostracismo até o fim de sua vida. Foi torturado, não com a tortura física dos porões, mas a tortura de ter que conviver com o erro imperdoável da delação.

Antes de morrer, já doente,  conseguiu provar sua inocência, que nunca foi reconhecida pelo público. No documentário aparecem artistas, que na época se calaram permissivamente, quase pedindo perdão ao artista injustiçado. Simonal foi vítima do seu despreparo, por não saber fazer a leitura de um contexto adverso socialmente, pensou que sua origem pobre tinha sido riscada da história, e se valeu da prepotência e da “prata”, suas armas insustentáveis.

Hoje no país, com as investigações indo a todo o vapor, os intocáveis artistas, protegidos por uma rede de interesses, começam a aparecer em listas de bancos suíços. Até agora não surgiu nenhum nome com o perfil social do cantor de “País Tropical”. Alguns conseguiram bons financiamentos através da Lei Rouanet e do Fundo Nacional de Cultura para justificar meia dúzia de cenários pintados com guache.

Por conta disso, pelo peso e pela medida, peço a criação informal da Lei Simonal, para punir com o ostracismo todos os artistas e intelectuais corruptos, que vão a público pedir transparência e fazer selfies, mas que no privado são beneficiados pelo esquema, sem a arrogância quase ingênua do Simonal, mas com as unhas grandes e afiadas  das piores rapinas.

Ricardo Mezavila.


segunda-feira, 23 de março de 2015

Jango e a Bela

Maria Tereza Goulart


Tentando retardar o envelhecimento as pessoas estão antecipando seus fósseis. Com tantos exemplos de plásticas mal sucedidas, algumas fatais, a vaidade continua superando o bom senso e a prevenção de riscos e danos à saúde.

Exemplo disso é uma das mais lindas primeiras-damas do mundo na década de 1960, Maria Tereza Goulart, esposa do presidente João Goulart, a musa dos brasileiros. Rivalizava em beleza com a primeira-dama norte-americana, Jacqueline Kennedy. A revista Time chegou a classificar Maria Tereza como uma das nove “belezas reinantes” do mundo.

Modelos que trabalham exclusivamente com o corpo justificam o excesso de plástica pela necessidade de ficarem dentro do perfil exigido para conseguir trabalho. Continuo achando que o exercício ainda é o melhor método para se ficar em forma. Além de fazer bem ao corpo, é excelente para o cérebro, mais eficaz do que ler, fazer contas, palavras cruzadas ou montar quebra cabeças. O exercício físico melhora a performance cerebral e os afazeres intelectuais são mais aproveitados.

Em um site que mostra o antes e o depois de pessoas que passaram pela intervenção plástica mostra o preço que o tempo cobra, parece passar em dobro para elas, a pele perde o viço, os lábios aumentados com botox ficam deformados. As plásticas até podem surtir um efeito positivo quando são feitas, mas não se brinca com o organismo desse jeito. A naturalidade do desenvolvimento físico precisa atravessar suas fases sem sofrer intervenção química.

A musa entre as primeiras-damas brasileiras, Maria Tereza Goulart, se não tivesse passado pelas cirurgias, teria tudo para continuar reinando no mundo fashion, seria a rainha da beleza natural. Ela conseguiu em 2008, depois de um processo judicial, receber anistia política junto com Jango, primeiro ex-presidente brasileiro anistiado por perseguição política. Justo para quem foi a mais bela, e belo para quem foi o mais justo.


Ricardo Mezavila.

Pra não pensar mais em guerras



internet

Tem gente que vive em permanente estado de guerra. Guerra à balança, celulite, queda de cabelo, rugas e ao envelhecimento. Defende sua propriedade privada, o seu corpo, como uma nação deveria proteger suas fronteiras. Normalmente o QG é o quarto e o banheiro, é lá que planeja sua estratégia, em reunião com o espelho.

O tempo, nesse caso, é o inimigo que deve ser derrotado. No afã da vitória, o exército da vaidade caminha bravamente para a inevitável derrocada. Apesar de refletir algumas batalhas vitoriosas, não percebe que tudo é temporário, daqui a pouco o “inimigo” vai sair das trincheiras e, numa virada épica, vai deixá-lo com a espada na cabeça.

A vida passa como um sopro, perder o sagrado tempo é blasfemar contra o milagre do nascimento, é como apagar as luz natural do Pacífico, descarrilar o trem pras estrelas, rasgar a partitura de “What a Wonderful World”, borrar a aquarela do arco-íris, pisar na grama do paraíso.

Já deu um beijo em quem você ama hoje? Já deu um beijo em quem você ama, hoje? A vírgula, em se tratando de amor, não produz efeitos da má interpretação e dos resultados duvidosos. O amor é o maior amigo do tempo, ontem, hoje e amanhã. E, como na canção: “eu penso comigo mesmo, mas que mundo maravilhoso”.



Ricardo Mezavila.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Corrupção: Uma senhora idosa.



internet

Ela circula disfarçada em todos os níveis e em todos os lugares, nas residências, nas escolas, nas ruas, no clero, nos esportes, nas estatais, nas empresas privadas, em qualquer lugar, como se fosse onipresente. Essa senhora idosa se alimenta desde os pequenos, mas não menos gordurosos sanduíches, que ela engole sentada no meio-fio, até as mais diversificadas e ricas ceias em uma mesa para duzentos convidados.

Poliglota e de nível social múltiplo, a senhora reúne todas as premissas para participar de qualquer reunião, de frequentar qualquer ambiente sem ser reconhecida, ou melhor, protegida para que sua identidade não seja revelada. Apesar de hedionda, essa senhora consegue o carimbo da liberdade porque também é “arroz de festa” na justiça e por lá, tem eterno habeas corpus preventivo.

Por onde passa deixa sua pecha na alma de quem morre de amores por ela, de quem não sobreviveria sem sua tutela e seu chicote. É muito solicitada e, às vezes, confundida com uma santa, porque pode operar pecados milagrosos sem que o pecador passe pelo confessionário. Quando se instala em uma relação de trabalho ou pessoal, trata de envernizar os chifres e perfumar o rabo, para que os acordos sejam favoráveis e não deixem rastro de seu cheiro nas mãos sujas que chancelam o crime.

Agora ela anda ameaçada, a senhora idosa e secular está sendo perseguida no âmbito público e seus ascetas, nada austeros e espirituosos, vão caindo pelo caminho com o peso de seus atos vis, suas imagens bem sucedidas vão dando lugar ao desprezível. Que sirvam de exemplo de como não agir, que suas penas sejam longas para que o aprendiz pense dez segundos antes de sujar as mãos.

A senhora idosa está quase nua! Ela é gorda e tem celulites por todo o corpo, suas pernas têm dobras horrendas, seus braços desajeitados parecem duas serpentes, suas mãos são profundas crateras e, mesmo assim, com parte do corpo exposto e com as ruas gritando que ela seja executada, a senhora idosa e gorda solta uma gargalhada cavernosa. Ela sabe que é imortal, que pode perder peso agora, mas que vai continuar mordendo um pescoço aqui e puxando um tapete ali.

Vivemos um momento histórico, as pessoas estão mais articuladas e menos omissas, o clima é favorável, mas corremos sempre o risco de acontecer o conveniente “caça às bruxas” tão cultuado pelos políticos. O congresso não pode ser um poder afastado do executivo e vice e versa, a hora é de dialogar e buscar as soluções em comum. O monstro está amarrado e a sociedade com as armas apontadas. A senhora idosa vai continuar passeando por aí, ninguém é bobo em achar que não, mas com uma silhueta menos obesa, chifres cerrados  e o rabo entre as pernas.

Ricardo Mezavila.






terça-feira, 17 de março de 2015

Corrupção: Atire a primeira pedra.



Gerson


Para ocupar as terras brasileiras e montar suas instituições, quando da colonização portuguesa, a coroa, que não queria vir para cá, permitiu que fidalgos viessem para o Brasil sem nenhuma vigilância. Eles vieram e fizeram o que bem entenderam, senão não viriam, abrindo as portas para a corrupção. Antes disso, o escrivão da frota de Cabral, Pero Vaz de Caminha, ao final da carta ao rei D. Manoel, pediu emprego para um parente. O nepotismo e a corrupção são estruturais, estão na base da sociedade.

O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, imputou ao executivo o embuste de ser o único responsável pela corrupção. Disse o parlamentar que, se houver entre seus pares algum envolvido, culpe-se o executivo por permitir que a corrupção tenha entrado no governo. Tomados por cinismo repugnante, os políticos usam a estratégia do corporativismo para se defenderem, e ainda usam a população como escudo.

A sociedade desorganizada vai à luta perdida, toma ruas e avenidas com cartazes de frases estranhas. Tem grupo pedindo o retrocesso da ditadura; tem os que querem o impedimento da presidenta; tem quem ironiza e pede intervenção alienígena; tem quem peça o fim da democracia, e há os que não estão nem aí e vão só para fazer “selfies” mesmo.

O momento não é do “quanto pior melhor” como quer a oposição, a hora é de fortalecer a sociedade organizada, construir meios de cobrar positivamente das instituições para que prevaleça o princípio constituinte. O que percebo é uma massa manobrada pedindo “cabeças” aleatoriamente, reproduzindo um discurso inoperante e fora do contexto, sem leitura política e aprofundamento institucional.

 A corrupção é uma pedra que apanhamos no chão para atirar na vidraça do governo, mas têm questões relevantes que dão origem a essa ilegitimidade. Existe uma pedreira de onde saltam essas pedras, mas que nunca foi prioridade dessa mesma sociedade. A falta da educação é a mãe de todas as consequências, é com ela que desaprendemos a ser solidários e gentis, a sermos honestos e prestativos.

A lei de Gerson é exercida diariamente nos acostamentos das estradas, na tentativa de suborno, naquela “mentirinha” que não faz mal, no troco a maior que colocamos na carteira, nas ligações diretas de energia, na compra de produtos piratas, nos descontos da empresa que desvia sinal a cabo.

Quando os europeus “descobriram” o Novo Mundo, como as Américas eram chamadas, ficaram deslumbrados com tamanha beleza. Traficaram homens e mulheres africanos, tornando a escravidão a única relação de trabalho existente. Pois bem, a corrupção no Brasil teve seu início com a elite branca, que aqui encontrou terreno fértil para a exploração de riquezas e mão-de-obra. Pela primeira vez vemos essa prática nefasta combatida, os governantes estão atentos às ruas, privilégios estão sendo desconstruídos. Somos os protagonistas, mas não podemos virar índios e ter “nossas almas vendidas num leilão”.


Ricardo Mezavila.

sexta-feira, 13 de março de 2015

A Síndrome de Chapolin

chapolin



Oh! E agora, quem poderá nos defender? A resposta para essa pergunta é uma interminável incógnita. Para quem passou anos com as panelas vazias em cima do fogão, mas que agora as usam para cozinhar alimentos, há uma suspeita, mas para quem utiliza panelas para fazer barulho em varandas, essa pergunta ainda incomoda. No domingo haverá desfile de panelas pelas ruas, todas de grife, sendo conduzidas pelo olho cego da manifestação.

Se o olho é cego, a boca não é muda, o grito pode se espalhar por todo o país fazendo crescer o cordão retrô, que abalou as estruturas democráticas, meses antes de março de 1964. Se a boca não é muda, os ouvidos precisam estar divididos, um ouve as ruas e o outro ouve a consciência crítica. Nós temos dois ouvidos, separados pela cabeça, justamente para um não influenciar na audição do outro. É preciso refletir o contexto e não se deixar conduzir como ovelhas.

O Brasil República nunca experimentou uma mudança profunda em sua economia. Convivemos com planos econômicos instantâneos, gatilhos, medidas provisórias e decretos. A casa nunca foi arrumada de maneira que todos pudessem ter conforto, alguns poucos têm mais do que precisam, enquanto muitos têm de se satisfazer com um “puxadinho”. A solução está em processo e é simples, mas é impossível convencer quem tem muito ceder para quem tem pouco.

Um fato concreto e evidente é a falta de paciência de quem não aceita dividir aeroportos, estacionamentos e universidades com uma gente que, até pouco tempo, andava invisível na sociedade. O laborioso, o braçal, o tabaréu e o matuto perceberam que também podem formar seus filhos.

Outro fator que tem incomodado privilégios são as investigações nos patrimônios privados, nas contas públicas, nos convênios, nos acordos entre empreiteiras e políticos. O judiciário, mesmo com seus “juizes ostentação”, está atento e sem as amarras que o impedia de agir em governos anteriores. Isso é uma questão que precisa ser considerada, e muito, por quem anda acreditando que tudo está perdido.

O ato de desagravo ao presidente da Câmara em seu depoimento na CPI, deu a clara percepção de que o corporativismo é a arma contra o Planalto, ou seja, o demônio veste vermelho e os anjos usam gravata.

Portanto, vai haver sessão de descarrego nas ruas no próximo domingo, os artistas que se vestem de super-heróis devem comparecer para dar mais autenticidade, mais dramatização ao evento circense. Depois não chorem se a lona descer, as cortinas subirem e, no picadeiro, os palhaços surgirem fardados, usando tanques no lugar de bicicletas e fuzis de verdade no lugar de um efeito pirotécnico. Aí, meus caros, dos dias tristes e frios, ninguém poderá nos defender!


Ricardo Mezavila.

terça-feira, 3 de março de 2015

Parabéns, “Mermão”!



Hoje a cidade do Rio de Janeiro completa quatrocentos e cinquenta anos desde sua fundação, por Estácio de Sá. Mas muito antes disso, antes do aterro, do bondinho e do Cristo, já existia em território virgem e beleza natural. No tempo em que, parafraseando Caetano, “não tinha gente, nem parafuso”. Então, vieram para cá os homens brancos de negócio e, desde então, plantaram as sementes daninhas que destroem as verbas públicas, que naquela época ainda não existiam.

Apesar de você, como disse Chico, amanhã há de ser outro dia. As borboletas retornarão aos jardins; as nuvens que foram embora voltarão e encherão nosso céu de chuva benta; o palco de nossos teatros revelará uma safra de bons e populares artistas; as praias ficarão lotadas de sol e gente alegre, sem amigos virtuais para dividir a areia; nos gramados o anjo de pernas tortas iluminará uma camisa e essa gente, apaixonada pela bola, vai se sentir abençoada.

Nenhuma cidade é mais bonita do que o Rio em beleza e recursos naturais. Paris é a cidade luz, a mais badalada e considerada a mais bonita do mundo dentro de um contexto que leva em conta a história, as artes, o comportamento e a importância moderna na organização da sociedade contemporânea. Paris pode ser tudo isso, mas tem a tendência inóspita de São Paulo e a frieza dos estados do Sul, se comparada à Mata Atlântica da Floresta da Tijuca, da vista das Paineiras e da incrível e, eterno cenário da minha juventude, a Praia do Diabo.

Hoje essa jovem de quatrocentos e cinquenta anos desperta linda na apoteótica natureza de seu corpo, no deslumbrante balanço de suas meninas, moças e idosas que contornam as ruas com um passo congenitamente sambado. Do Leme ao Pontal, cantou Tim, não há nada igual. Eu canto que, de Santa Cruz à Central, também é igual. Sem falar, no Cachambi, Santa Tereza e Catumbi, Del Castilho, Bonsucesso, Ramos, Pavuna. Vou para o Irajá, ou para o Caju, Inhaúma ou Real Grandeza.

Parabéns minha Cidade Maravilhosa, coração do Brasil, majestosa estrela; cidade do cristo operário de braços fortes sobre a Guanabara. Deixo em ti meu carinho espalhado nos poemas, nos bares, na alegria de uma gargalhada que atravessa o Rebouças, circula no Santa Bárbara, estufa a rede do “Maraca”, desfila na Sapucaí, ajoelha na Candelária e sobe a Penha, dança no Estudantina, toma chopp na Lapa, visita o MAM e o Municipal, e explode no pôr do sol nas pedras do Arpoador, em pleno carnaval. O carioca é fera, mermão!



Ricardo Mezavilay