Ela
circula disfarçada em todos os níveis e em todos os lugares, nas residências,
nas escolas, nas ruas, no clero, nos esportes, nas estatais, nas empresas
privadas, em qualquer lugar, como se fosse onipresente. Essa senhora idosa se
alimenta desde os pequenos, mas não menos gordurosos sanduíches, que ela engole
sentada no meio-fio, até as mais diversificadas e ricas ceias em uma mesa para
duzentos convidados.
Poliglota
e de nível social múltiplo, a senhora reúne todas as premissas para participar
de qualquer reunião, de frequentar qualquer ambiente sem ser reconhecida, ou
melhor, protegida para que sua identidade não seja revelada. Apesar de
hedionda, essa senhora consegue o carimbo da liberdade porque também é “arroz
de festa” na justiça e por lá, tem eterno habeas corpus preventivo.
Por
onde passa deixa sua pecha na alma de quem morre de amores por ela, de quem não
sobreviveria sem sua tutela e seu chicote. É muito solicitada e, às vezes,
confundida com uma santa, porque pode operar pecados milagrosos sem que o
pecador passe pelo confessionário. Quando se instala em uma relação de trabalho
ou pessoal, trata de envernizar os chifres e perfumar o rabo, para que os
acordos sejam favoráveis e não deixem rastro de seu cheiro nas mãos sujas que chancelam
o crime.
Agora
ela anda ameaçada, a senhora idosa e secular está sendo perseguida no âmbito
público e seus ascetas, nada austeros e espirituosos, vão caindo pelo caminho
com o peso de seus atos vis, suas imagens bem sucedidas vão dando lugar ao
desprezível. Que sirvam de exemplo de como não agir, que suas penas sejam
longas para que o aprendiz pense dez segundos antes de sujar as mãos.
A
senhora idosa está quase nua! Ela é gorda e tem celulites por todo o corpo,
suas pernas têm dobras horrendas, seus braços desajeitados parecem duas
serpentes, suas mãos são profundas crateras e, mesmo assim, com parte do corpo
exposto e com as ruas gritando que ela seja executada, a senhora idosa e gorda
solta uma gargalhada cavernosa. Ela sabe que é imortal, que pode perder peso
agora, mas que vai continuar mordendo um pescoço aqui e puxando um tapete ali.
Vivemos
um momento histórico, as pessoas estão mais articuladas e menos omissas, o clima
é favorável, mas corremos sempre o risco de acontecer o conveniente “caça às
bruxas” tão cultuado pelos políticos. O congresso não pode ser um poder
afastado do executivo e vice e versa, a hora é de dialogar e buscar as soluções
em comum. O monstro está amarrado e a sociedade com as armas apontadas. A
senhora idosa vai continuar passeando por aí, ninguém é bobo em achar que não,
mas com uma silhueta menos obesa, chifres cerrados e o rabo entre as pernas.
Ricardo
Mezavila.
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