Para
ocupar as terras brasileiras e montar suas instituições, quando da colonização
portuguesa, a coroa, que não queria vir para cá, permitiu que fidalgos viessem
para o Brasil sem nenhuma vigilância. Eles vieram e fizeram o que bem entenderam,
senão não viriam, abrindo as portas para a corrupção. Antes disso, o escrivão
da frota de Cabral, Pero Vaz de Caminha, ao final da carta ao rei D. Manoel,
pediu emprego para um parente. O nepotismo e a corrupção são estruturais, estão
na base da sociedade.
O
presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, imputou ao executivo o embuste de
ser o único responsável pela corrupção. Disse o parlamentar que, se houver
entre seus pares algum envolvido, culpe-se o executivo por permitir que a
corrupção tenha entrado no governo. Tomados por cinismo repugnante, os
políticos usam a estratégia do corporativismo para se defenderem, e ainda usam
a população como escudo.
A
sociedade desorganizada vai à luta perdida, toma ruas e avenidas com cartazes
de frases estranhas. Tem grupo pedindo o retrocesso da ditadura; tem os que
querem o impedimento da presidenta; tem quem ironiza e pede intervenção
alienígena; tem quem peça o fim da democracia, e há os que não estão nem aí e
vão só para fazer “selfies” mesmo.
O
momento não é do “quanto pior melhor” como quer a oposição, a hora é de
fortalecer a sociedade organizada, construir meios de cobrar positivamente das
instituições para que prevaleça o princípio constituinte. O que percebo é uma
massa manobrada pedindo “cabeças” aleatoriamente, reproduzindo um discurso
inoperante e fora do contexto, sem leitura política e aprofundamento
institucional.
A corrupção é uma pedra que apanhamos no chão
para atirar na vidraça do governo, mas têm questões relevantes que dão origem a
essa ilegitimidade. Existe uma pedreira de onde saltam essas pedras, mas que
nunca foi prioridade dessa mesma sociedade. A falta da educação é a mãe de
todas as consequências, é com ela que desaprendemos a ser solidários e gentis,
a sermos honestos e prestativos.
A
lei de Gerson é exercida diariamente nos acostamentos das estradas, na
tentativa de suborno, naquela “mentirinha” que não faz mal, no troco a maior
que colocamos na carteira, nas ligações diretas de energia, na compra de
produtos piratas, nos descontos da empresa que desvia sinal a cabo.
Quando
os europeus “descobriram” o Novo Mundo, como as Américas eram chamadas, ficaram
deslumbrados com tamanha beleza. Traficaram homens e mulheres africanos,
tornando a escravidão a única relação de trabalho existente. Pois bem, a
corrupção no Brasil teve seu início com a elite branca, que aqui encontrou
terreno fértil para a exploração de riquezas e mão-de-obra. Pela primeira vez
vemos essa prática nefasta combatida, os governantes estão atentos às ruas,
privilégios estão sendo desconstruídos. Somos os protagonistas, mas não podemos
virar índios e ter “nossas almas vendidas num leilão”.
Ricardo Mezavila.
Nenhum comentário:
Postar um comentário