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domingo, 29 de abril de 2012

Olhando o trem passar





Ontem, passando em frente ao hospital Salgado Filho, flagrei uma cena que me provocou e, quando provocado, tenho por hábito escrever para responder a provocação. Vamos realizar a cena: (câmera lenta... som de um coração pulsando alto, TUM-TUM). Estou caminhando, passando em frente ao hospital, vejo um homem sendo retirado de uma ambulância na maca. Olho e percebo que o homem semi-abriu um dos olhos quando ouviu o barulho de um trem que passava na estação ferroviária, que fica em frente ao hospital. Acompanhei aquele olhar moribundo e quando me voltei, homens de branco o levavam para a emergência. Corrrrta!

Isso seria corriqueiro se não tivesse sido observado com poesia. De pronto interpretei a situação como a de alguém que, debilitado e imóvel, faria qualquer coisa para estar viajando em um daqueles vagões. Alguém que se arrependeu tardiamente, quando as palavras perderam voz. O olho semi-aberto do homem permitia que ele visse as coisas do tamanho que ele as atribuía. Mesmo com os dois olhos abertos, algumas pessoas só enxergam miniaturas turvas captadas por olhos quase fechados.

Ao ouvir o barulho característico do trem, o homem, talvez em uma vã tentativa, tentou experimentar com alegria aquilo que sempre fez parte de sua vida. Talvez tenha se sentido em uma sinfônica, e o barulho do trem fosse o som do instrumento que tocava, assim como um violino. A maca talvez fosse uma espécie de tapete que voava baixo antecedendo o seu voo definitivo.

Voltando a cena inicial, penso que dentro dos vagões daquele trem em movimento, possam estar viajando as mágoas entre os irmãos, a falta de atenção dos pais por seu filhos e vice-e-versa, a desunião entre os casais, os lares desestruturados. As pequenas coisas que não são boas para nossas vidas, deviam ser despachadas em uma estação, para que o trem as leve para bem longe. A gente precisa olhar a vida com os olhos abertos enquanto ainda é possível, e valorizar o cotidiano com a alegria que ele tem.

Ricardo Mezavila

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Jorge, um Poeta!



Lendas urbanas contam que Jorge era  filho de um pedreiro de Austin. Sua mãe morreu ao dá-lo à luz e o recém nascido Jorge foi adotado pela Dama da Poesia para que pudesse, mais tarde, fazer poemas com suas palavras. Ao crescer e adquirir idade adulta escreveu seu primeiro poema e, depois de caminhar durante muitos meses por rodovias brasileiras, foi parar em Ourém, uma cidade do estado do Piauí.
Nesta cidade, Jorge encontrou um velho ator que disse que toda a cidade estava triste, pois lá existia um teatro em ruínas, e a população vivia em função das representações, e que todos sentiam saudades do tempo em que grandes espetáculos eram apresentados ali. O velho lhe disse que com a ociosidade as pessoas tem deixado a cidade com seus grupos a procura de oportunidade em algum outro lugar.
Jorge indagou porque de o teatro estar naquelas condições. O velho ator contou que, um feiticeiro havia roubado a inspiração das pessoas e que, desde então, não havia nada de novo que pudesse ser apresentado. As pessoas, desorientadas pela repentina perda da inspiração, perambulavam pela cidade a procura do que fazer, sem perspectivas e norte.
Ao ouvir a história, Jorge ficou determinado em salvar a cidade daquela depressão. Passou a noite na cabana do velho ator e quando amanheceu partiu para um vale próximo e, fechando os olhos, intimamente, fez um pedido à Dama da Poesia. Abriu os olhos quando sentiu uma brisa balançar o seu cabelo e viu uma linda moça vestindo trajes coloridos. Era a Dama da Poesia, conduzida por um cortejo de imagens envoltas em névoas e sons de palavras.
O feiticeiro que estava escondido em uma caverna próxima, surgiu na frente de Jorge, que sem sentir medo apenas o encarou, e de seus olhos uma grande luz brilhou fazendo com que o feiticeiro entrasse no cortejo de imagens e desaparecesse na névoa. A Dama da Poesia, então, apontou para uma montanha e pediu que Jorge a subisse e que de lá fizesse um poema que falasse de cores, sons, música e de alegria, e que depois de pronto o poema tinha que ser lido lá do alto, no outono, na alvorada de uma manhã de abril.
Tendo feito tudo como pedira a Dama da Poesia, Jorge declamou o poema e as pessoas, mesmo aquelas que já andavam por alguns dias longe da cidade, ouviram e sentiram a inspiração percorrer seus pensamentos e voltaram para casa. Naquela tarde recuperaram o teatro e à noite, do mesmo dia, a cidade iluminada, como nunca deveria ter deixado de estar, renasceu.

Ricardo Mezavila

domingo, 22 de abril de 2012

Tocando o Barco




A ideia de envelhecimento, para mim, é interessante. Vou tocando e meu barco, vai se aproximando do cais, de onde partimos para a ilha da saudade. Envelhecer é um processo não só cronológico, mas de conhecimento e incorporação do tempo. O passado deixa de ter importância prática e vira arrependimento crítico. As lembranças vivem em um baú de cortinas, cada uma com uma cor, um cheiro, um som, um truque, e são abertas e fechadas conforme as datas, as estações e o tempero do sonho.

O envelhecimento está guardado dentro de um quarto de portas fechadas, a gente passa e percebe o mistério. As chaves estão no saguão da luz do amadurecimento, sob a guarda dos dias. As luzes apagadas aumentam o segredo. Envelhecer é crescer para dentro, tornar as coisas maiores, enquanto o corpo disfarça com seus toques invencíveis e seu excesso de presença.

Hoje fui acordado com o meu neto assobiando em meus ouvidos os seus primeiros acordes, como um pequeno pássaro que salta do ninho e se reconhece ave. Abrindo as asas percebe que voar é atingir além do que seus olhos veem; enquanto um pequeno e triste príncipe  passeando pela aldeia descobre um menino sorridente, brincando com um pedaço de papel que voa. O menino que ri, atinge.

Vou tocando e meu barco, vai se distanciando do agora, com alegria e festa. O inevitável é a fonte da vida. Saber o final da história é uma vantagem que temos de explorar com mais sensibilidade. Não importa o que e como voce vive, a história do rei e do vagabundo vão ter o mesmo fim. Os capítulos é que fazem toda a diferença. Por enquanto vou seguindo com meu barco pelos rios das páginas até encontrar o epílogo, quando a obra será concluída e irá para a estante da biblioteca das minhas gerações.

Ricardo Mezavila

sábado, 21 de abril de 2012

Guarda pra ti!



Vai uma dica para quem está começando uma vida compartilhada e ainda tem dificuldades em se relacionar. Quando eu digo começando, não é necessariamente a primeira vez, pode ser a segunda, terceira, enfim, começar é o mesmo que recomeçar. O recomeço remete imediatamente ao “começar de novo”, mas se naquele período não houve nenhum crescimento, então, recomeçar será sempre um novo começo.

Vou pedir auxílio ao “seu” Paulino, figura folclórica dos bares de onde moro, que já não pisa mais pelos chãos daqui, juntou-se a um bando de pássaros e migrou para o céu em uma tarde triste do subúrbio. Seu Paulino, na sua sabedoria etílica costumava dizer quando ia aconselhar: - Guarda pra ti!  Eu ouvi, várias vezes, essa frase.

Então, vamos lá. Guarda pra ti! A vida em comum não é nada fácil se voce entrar nela sem desprendimento. Se tiver formiga no açucareiro e o outro chegar comentando algum fato ou notícia, não reclame dos pequenos insetos sociais, ouça primeiro o que ele tem a dizer, finja que ouviu e depois reclame e ensine que se o açucareiro estiver aberto, as formigas vão entrar. Isso evita um desconforto desnecessário e voce vai ganhar um bônus para poder reclamar mais adiante, quando o chão do banheiro estiver molhado, ou o gás do aquecedor estiver aberto.

Outra dica “Pauliniana”: o diálogo nunca deve ser evitado sob nenhuma hipótese. O melhor da relação, além do sexo, é poder conversar dentro do mesmo universo intelectual do outro. Inevitavelmente essa relação vai render muitas risadas e cantorias nas manhãs em que os dois não tiverem compromisso. A cama não é só para dormir e para as relações sexuais, a cama tem funções que poucos exploram. Para mim a cama também é lugar de cantar, rir e filosofar.

Guarda pra ti! Assim voce vai poder extrair o melhor que a vida partilhada pode proporcionar.

Ricardo Mezavila

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Perguntas e Estátuas




Reminiscência da minha infância, quando estava na primeira série do primário, atual ensino fundamental, eu tinha medo do ponto de interrogação. Tímido e magro, quando ao final de uma frase escrita pela professora no quadro negro, aparecia a interrogação e a professora se virava para a turma, eu ficava tenso e apelava para o “homem invisível”. Era como se eu fosse derrapar na “curva”, em formato de gancho de cabide do ponto e caísse dentro do “buraco” embaixo dele. O buraco está embaixo, estrategicamente, como uma punição. Ou voce atende ao ponto, ou vai para o buraco. As perguntas são o motor das pesquisas, do conhecimento. Li em algum lugar: “voce conhece a inteligência de alguém, não pelas respostas, mas pelas perguntas que faz”.

Pensando assim eu estou tentado a sair por aí perguntando. Primeiro vou perguntar a quem não pode me responder: as estátuas. Vou sentar ao lado de Carlos Drumond de Andrade, no calçadão da praia de Copacabana, e saber se ele tem alguma obra inacabada que eu possa ajudar, ou coisa assim; Tenho vontade também de fazer algumas perguntas à estátua de Darcy Ribeiro, não sei se existe uma, mas preciso saber o que ele tem mais a dizer sobre educação e as comunidades indígenas; Na estátua de Noel Rosa, em Vila Isabel, além de acompanhá-lo no happy hour, vou querer saber sua opinião sobre a atual música que se faz por aqui.

Para acrescentar conteúdo a esta crônica vou colocar algumas perguntas sem respostas: Como é zero em algarismo romano?  Por que quando ligamos para um número errado nunca dá ocupado?  Quando inventaram o relógio como sabiam as horas para poder acertá-lo?  Para que o Pato Donald amarra toalha quando sai do banho se ele não usa calças? Se o vinho é líquido, como pode existir o vinho seco? Como a placa “É proibido pisar na grama” foi colocada lá?

Em tempo: O Governo do Rio de Janeiro resolveu enviar para o hospício qualquer cidadão que conversar com a estátua de Carlos Drummond de Andrade, que fica no calçadão da praia de Copacabana, na capital carioca. Uma câmera ficará filmando e as imagens serão monitoradas ao vivo de um manicômio, que enviará agentes para capturar algum louco que converse com a estátua. Há informações de que muitas pessoas sentam ao lado da estátua e conversam sobre todos os assuntos, inclusive seus problemas pessoais e até pedem dicas para encontrar um par perfeito. O governo também pretende instalar um microfone na estátua para saber os assuntos mais abordados pelas pessoas durante as conversas com a estátua de Carlos Drummond de Andrade. (Fonte: G17 – sem compromisso com a verdade.)

Ricardo Mezavila

sábado, 14 de abril de 2012

Um homem com história




Até há uns dois minutos eu andava preocupado com a protuberância da minha íntima e nativa barriga. Protuberância gradativa é verdade, mas adquirida com meu total consentimento. Aos poucos as camisas foram ficando arredondadas, os retrovisores dos carros foram diminuindo e substituídos pelas vitrines das lojas para “aquela” olhadinha de perfil.

Fui percebendo que, com a idade, a gente começa a crescer para frente e para os lados. É inevitável isso. Talvez esteja ocorrendo um fenômeno “demográfico” com as cadeiras, elas estão por todos os lugares e a gente acaba passando grande parte do dia sentados; as escadas rolantes estão por toda a parte. Alguém imaginar, há algumas décadas, que até nas estações da antiga “RFFSA” haveria escadas rolantes, seria o mesmo que acreditar em Chat, MSN e Educação à Distância.

Mas o fato é que a barriga continua querendo aparecer mais do que os diálogos quando começo a filosofar sobre a existência. Se bem que ando filosofando muito ultimamente e, quase sempre, na companhia de um copo e dos amigos. Se o perímetro abdominal fosse referência no estudo da filosofia, haveria disciplina cursada dentro do botequim.

Eu disse que estava preocupado com o evolução da barriga, mas já não estou, porque ouvi meus vizinhos discutindo sobre imposto de renda. Se eu fosse pagar imposto pela aquisição de barriga, estava ferrado e o governo saltitante. O contador teria que incluir a barriga como bem “imóvel”? E como seria minha barriga caindo na malha fina?  Minha barriga,  portanto, é indeclarável, quer dizer, era até a dois minutos.

Pois é, filosofando vou construindo a minha pedra “filosofal” e , aos poucos, vou entendendo que um homem sem barriga é um homem culturalmente vazio, sem história.

Ricardo Mezavila


quinta-feira, 5 de abril de 2012

A CARTA DA TERRA


A CARTA DA TERRA


PREÂMBULO
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

Terra, Nosso Lar
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

A Situação Global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

Desafios Para o Futuro
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais, não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano.
Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes.

Responsabilidade Universal
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa comunidade local. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual a dimensão local e global estão ligadas. Cada um compartilha da responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida, e com humildade considerando em relação ao lugar que ocupa o ser humano na natureza.

Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA


1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos.
b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.
a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas.
b. Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder implica responsabilidade na promoção do bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.
a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem a cada um a oportunidade de realizar seu pleno potencial.
b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a consecução de uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.
a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.
b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem, em longo prazo, a
prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.

Para poder cumprir estes quatro amplos compromissos, é necessário:
II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.
a. Adotar planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.
b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.
c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçadas.
d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos.
e. Manejar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e vida marinha de forma que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos ecossistemas.
f. Manejar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e combustíveis fósseis de forma que diminuam a exaustão e não causem dano ambiental grave.

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.
a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais mesmo quando a informação científica for incompleta ou não conclusiva.
b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmarem que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental.
c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas globais, cumulativas, de longo prazo, indiretas e de longo alcance.
d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.
e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.
b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursos energéticos renováveis, como a energia solar e do vento.
c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias ambientais saudáveis.
d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas sociais e ambientais.
e. Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.
f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material num mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a ampla aplicação do conhecimento adquirido.
a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada a sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.
b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuam para a proteção ambiental e o bem-estar humano.
c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA


9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.
a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não-contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e internacionais requeridos.
b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência sustentável, e proporcionar seguro social e segurança coletiva a todos aqueles que não são capazes de manter-se por conta própria.
c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem, e permitir-lhes
desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.
a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das e entre as nações.
b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e isentá-las de dívidas internacionais onerosas.
c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.
d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem com
transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de suas
atividades.

11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de saúde e às oportunidades econômicas.
a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas.
b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de decisão, líderes e beneficiárias.
c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a educação amorosa de todos os membros da família.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, concedendo especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.
a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas em raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.
b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.
c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.
d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.

IV.DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ


13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de decisões, e acesso à justiça.
a. Defender o direito de todas as pessoas no sentido de receber informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tenham interesse.
b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões.
c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica, de associação e de oposição.
d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela ameaça de tais danos.
e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.
f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde possam ser cumpridas mais efetivamente.

14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.
a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.
b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, na educação para sustentabilidade.
c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no sentido de aumentar a sensibilização para os desafios ecológicos e sociais.
d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los de sofrimentos.
b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento extremo, prolongado ou evitável.
c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas.

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.
a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.
b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.
c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não-provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.
d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa.
e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção ambiental e a paz.
f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte.

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.

Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca
iminente e conjunta por verdade e sabedoria.

A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida.