Lendas urbanas contam
que Jorge era filho de um pedreiro de Austin. Sua mãe morreu ao dá-lo à luz
e o recém nascido Jorge foi adotado pela Dama da Poesia para que pudesse, mais
tarde, fazer poemas com suas palavras. Ao crescer e adquirir idade adulta escreveu
seu primeiro poema e, depois de caminhar durante muitos meses por rodovias
brasileiras, foi parar em Ourém, uma cidade do estado do Piauí.
Nesta cidade, Jorge
encontrou um velho ator que disse que toda a cidade estava triste, pois lá
existia um teatro em ruínas, e a população vivia em função das representações,
e que todos sentiam saudades do tempo em que grandes espetáculos eram
apresentados ali. O velho lhe disse que com a ociosidade as pessoas tem deixado
a cidade com seus grupos a procura de oportunidade em algum outro lugar.
Jorge indagou porque de
o teatro estar naquelas condições. O velho ator contou que, um feiticeiro havia
roubado a inspiração das pessoas e que, desde então, não havia nada de novo que
pudesse ser apresentado. As pessoas, desorientadas pela repentina perda da
inspiração, perambulavam pela cidade a procura do que fazer, sem perspectivas e
norte.
Ao ouvir a história,
Jorge ficou determinado em salvar a cidade daquela depressão. Passou a noite na
cabana do velho ator e quando amanheceu partiu para um vale próximo e, fechando
os olhos, intimamente, fez um pedido à Dama da Poesia. Abriu os olhos quando
sentiu uma brisa balançar o seu cabelo e viu uma linda moça vestindo trajes
coloridos. Era a Dama da Poesia, conduzida por um cortejo de imagens envoltas
em névoas e sons de palavras.
O feiticeiro que estava
escondido em uma caverna próxima, surgiu na frente de Jorge, que sem sentir
medo apenas o encarou, e de seus olhos uma grande luz brilhou fazendo com que o
feiticeiro entrasse no cortejo de imagens e desaparecesse na névoa. A Dama da
Poesia, então, apontou para uma montanha e pediu que Jorge a subisse e que de
lá fizesse um poema que falasse de cores, sons, música e de alegria, e que
depois de pronto o poema tinha que ser lido lá do alto, no outono, na alvorada
de uma manhã de abril.
Tendo feito tudo como
pedira a Dama da Poesia, Jorge declamou o poema e as pessoas, mesmo aquelas que
já andavam por alguns dias longe da cidade, ouviram e sentiram a inspiração
percorrer seus pensamentos e voltaram para casa. Naquela tarde recuperaram o
teatro e à noite, do mesmo dia, a cidade iluminada, como nunca deveria ter
deixado de estar, renasceu.
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