Garapa : Documentário |
Hoje
parece que o mundo acordou mais justo por conta da campanha #somostodosmacacos
que uma agência de publicidade tinha preparado para o jogador Neymar Júnior, mas
que teve de ser antecipada porque o Daniel Alves comeu a banana antes do
ex-jogador do Santos. Acordamos hoje com sentimento de dever cumprido e de alma
lavada na luta contra o racismo, estamos fazendo história, estamos aqui para
vencer, entramos na guerra com nosso exército de bananas em punho.
O
gesto de solidariedade das celebridades repercutiu muito bem e já fazem a
diferença nas escolas no Taiti; a generosidade dos endinheirados comoveu as famílias
que vivem em estado grave de insegurança alimentar no interior do Ceará; a
grandeza dos bem-aventurados foi suficiente para diminuir os maus tratos e torturas
sofridas pelos trabalhadores rurais no sertão baiano.
Enquanto
descascamos essas bananas virais no mundo virtual das camisetas, das mídias
imbecis e das campanhas oportunistas, o mundo real perde cada vez mais a sua importância.
Cada banana atirada equivale a uma atitude concreta a menos dentro do contexto do
que acontece com pessoas desassistidas. Talvez a melancia fosse a fruta que melhor
representasse a ocasião. Artistas, esportistas e políticos aproveitam o incidente
no estádio espanhol para aparecer, fazer campanha, carimbar e vender a imagem
do politicamente correto.
Fiquemos
atentos, porque com tantas bananas sendo consumidas por aí, podemos escorregar
em uma casca mal intencionada e cair no engodo de que realmente somos todos um
só. Não se iludam porque a elite só é igual quando precisa de uma escada para
subir mais um andar na escala econômica. Na nossa frente são macacos tímidos comendo bananas,
mas por trás são cobras que engolem primatas com casca e tudo.
Ricardo
Mezavila.