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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ressonância Magnética (eu não engoli o MH-370)





Nunca tive medo de exame, ainda não tenho porque passei pela experiência, mas se soubesse como era uma ressonância magnética de abdome total e pelve, eu não teria saído de casa com tanta confiança em uma manhã de domingo. Tudo começou dando errado na preparação para o exame, a enfermeira não conseguia colocar a agulha em meu braço. Sou doador de sangue! – disse a ela, com a segurança de quem está acostumado com “furadas” maiores. Ela disse que o procedimento era diferente, trocou de braço e, depois de um tempo, conseguiu “achar” a veia e aplicou soro, deixando a agulha ali pendurada.

Tranquilo entrei em uma sala e respondi algumas perguntas, coloquei um roupão da clínica e parti para a sala onde estava a máquina de ressonância. Entrei e fui logo deitando, não fiquei assustado com o túnel porque já tinha visto antes quando uma de minhas filhas precisou fazer o exame. Sem nenhum susto acompanhei toda a rotina de preparo, fui preso à maca com um cinto, depois colocaram uma espécie de prancha na região onde seria feito o exame, colocaram um fone em meu ouvido, me deram uma campainha para eu tocar, caso sentisse alguma coisa e pediram que eu ficasse com os braços esticados pra traz, por cima da cabeça.

Até aí estava tudo tranquilo, sabia que ia entrar no túnel, mas ficaria com os olhos para fora. Perguntei quanto tempo duraria e tive a resposta de que seriam quarenta minutos. Tudo pronto e a maca me transportou para dentro do túnel e parou. Percebi que os olhos não estavam tão para fora o quanto eu imaginava, mesmo assim conseguia ver as lâmpadas no teto da sala, de repente a maca entrou mais para dentro do túnel e a sensação foi horrível, já não via as lâmpadas e, para piorar, o exame começou com uma sucessão de sons que parecia música eletrônica, era como se David Guetta estivesse ali; depois outros sons altos vieram, teve funk, samba, soul e até o BOPE parecia ter chegado, porque uma hora ouvi uma seqüência de tiros de metralhadora.

Passado vários minutos a maca retrocedeu e vi as lâmpadas novamente e os sons continuaram; mas logo depois fui introduzido novamente para o túnel e fiquei com o corpo todo “entubado”; o único contato com o mundo externo era a campainha que eu segurava, se ela caísse... Não sei, não! É algo parecido com tortura, cheguei a pensar em entregar os amigos que estavam comigo na reunião da CUT em 1982; pensei em confessar que em 1975, jogando futebol contra o time da minha própria rua, a bola que bateu na minha perna debaixo da trave, teria sido tirada com a mão, como eles me acusaram. O som era tão alto que quase gritei: - Eu não engoli o MH-370 da Malaysia Airlines, vocês não vão encontrá-lo dentro de mim! Acho que se mergulhassem a máquina de ressonância magnética no oceano Índico achariam o avião.

Depois de ter que segurar a respiração por vinte segundos dezenas de vezes, ainda fizeram um contraste pela agulha que estava em meu braço, e uma voz disse que eu já seria liberado.
Quando cheguei na recepção da clínica fui recebido com um sorriso do meu neto e da minha mulher, a responsável pela tortura, que disse ao ver minha cara enfezada: - Relaxa, amor, isso é rotina! É, ainda bem que sim, vamos tomar uma cerveja.


Ricardo Mezavila.

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