Nunca
tive medo de exame, ainda não tenho porque passei pela experiência, mas se
soubesse como era uma ressonância magnética de abdome total e pelve, eu não
teria saído de casa com tanta confiança em uma manhã de domingo. Tudo começou
dando errado na preparação para o exame, a enfermeira não conseguia colocar a
agulha em meu braço. Sou doador de sangue! – disse a ela, com a segurança de
quem está acostumado com “furadas” maiores. Ela disse que o procedimento era
diferente, trocou de braço e, depois de um tempo, conseguiu “achar” a veia e
aplicou soro, deixando a agulha ali pendurada.
Tranquilo
entrei em uma sala e respondi algumas perguntas, coloquei um roupão da clínica
e parti para a sala onde estava a máquina de ressonância. Entrei e fui logo
deitando, não fiquei assustado com o túnel porque já tinha visto antes quando
uma de minhas filhas precisou fazer o exame. Sem nenhum susto acompanhei toda a
rotina de preparo, fui preso à maca com um cinto, depois colocaram uma espécie
de prancha na região onde seria feito o exame, colocaram um fone em meu ouvido,
me deram uma campainha para eu tocar, caso sentisse alguma coisa e pediram que
eu ficasse com os braços esticados pra traz, por cima da cabeça.
Até
aí estava tudo tranquilo, sabia que ia entrar no túnel, mas ficaria com os
olhos para fora. Perguntei quanto tempo duraria e tive a resposta de que seriam
quarenta minutos. Tudo pronto e a maca me transportou para dentro do túnel e
parou. Percebi que os olhos não estavam tão para fora o quanto eu imaginava,
mesmo assim conseguia ver as lâmpadas no teto da sala, de repente a maca entrou
mais para dentro do túnel e a sensação foi horrível, já não via as lâmpadas e,
para piorar, o exame começou com uma sucessão de sons que parecia música
eletrônica, era como se David Guetta estivesse ali; depois outros sons altos
vieram, teve funk, samba, soul e até o BOPE parecia ter chegado, porque uma
hora ouvi uma seqüência de tiros de metralhadora.
Passado
vários minutos a maca retrocedeu e vi as lâmpadas novamente e os sons
continuaram; mas logo depois fui introduzido novamente para o túnel e fiquei
com o corpo todo “entubado”; o único contato com o mundo externo era a campainha
que eu segurava, se ela caísse... Não sei, não! É algo parecido com tortura,
cheguei a pensar em entregar os amigos que estavam comigo na reunião da CUT em
1982; pensei em confessar que em 1975, jogando futebol contra o time da minha
própria rua, a bola que bateu na minha perna debaixo da trave, teria sido
tirada com a mão, como eles me acusaram. O som era tão alto que quase gritei: -
Eu não engoli o MH-370 da Malaysia Airlines, vocês não vão encontrá-lo
dentro de mim! Acho que se mergulhassem a máquina de ressonância magnética
no oceano Índico achariam o avião.
Depois
de ter que segurar a respiração por vinte segundos dezenas de vezes, ainda
fizeram um contraste pela agulha que estava em meu braço, e uma voz disse que
eu já seria liberado.
Quando
cheguei na recepção da clínica fui recebido com um sorriso do meu neto e da
minha mulher, a responsável pela tortura, que disse ao ver minha cara enfezada:
- Relaxa, amor, isso é rotina! É, ainda bem que sim, vamos tomar uma cerveja.
Ricardo
Mezavila.
Nenhum comentário:
Postar um comentário