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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Hello Crazy People!!



Nem sempre o barulho de uma explosão vem de um cilindro de gás, um bueiro, um molotov. Pode vir de um comportamento trinitrotolueno (TNT), ou de uma garganta puramente nitroglicerinica.

Esse é um breve perfil, traçado por mim, de Newton Duarte, o Big Boy. Disk jockey mais importante da história da música no Brasil, responsável por vários lançamentos de discos importados nas rádios, apresentador de programas de tv, animador de bailes, produtor de discos, colunista em diversos jornais e revistas. Big Boy pode ser considerado o primeiro profissional multimídia brasileiro.

Nascido na cidade de São Paulo sempre foi, desde criança, apaixonado por música, principalmente rock. Viajava para o exterior e trazia discos raros que eram chamados de “discos piratas” por terem tido edições limitadas, (hoje, os “piratas” são cópias).

Aos sábados, na Rádio Mundial, às dezoito horas, apresentava o programa “Cavern Club”, especializado em Beatles. Eu vinha correndo da “pelada” para ouvir o programa, enquanto tomava banho, antes de sair para “a boa” da noite.

Freqüentei vários bailes da equipe Cash Box com a presença de Big Boy, o som que rolava era Soul Music, tendo como ícone o exuberante James Brown, além de músicas inéditas no lado de cá do equador.

Big Boy deixou um acervo de cerca de vinte mil títulos, entre LPs e compactos, a maioria importados, que abrangem vários estilos de músicas como, rock, jazz, blues, rock progressivo, soul music, músicas francesas, trilhas sonoras de filmes, orquestrais,etc.

Como todo adulto que teve uma infância e adolescência saudável, sinto saudades ao lembrar daqueles tempos em que blacks e cocotas dividiam as pistas de danças, cada um no seu estilo, mas curtindo o que de bom era oferecido. Todos dentro da loucura discreta e inofensiva. E nada pode ser mais representante daquele tempo do que o bordão de Big Boy: “Hello Crazy People!”

Ricardo Mezavila

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Perguntas que meu neto fará




Tenho que estar preparado para responder as perguntas que meu neto fará quando perceber que o mundo não é governado pela turma do “Woody Cowboy”. Também tenho que estar preparado para perceber que as pernas de suas calças estão ficando mais compridas. Nos netos o crescimento é mais visível. A gente nota que eles cresceram assim que chegam na porta de nossas casas. Com os nossos filhos o crescimento é diário, não percebemos porque estamos com eles todos os dias.

Algumas perguntas que ele fará eu talvez não saiba responder, mas também não vou disfarçar, vou logo falando que não sei, mas podemos pesquisar juntos. Outras perguntas talvez eu saiba as repostas e não vou esconder nenhum detalhe. Acho que vou me surpreender quando ele vier me visitar e não fizer pergunta alguma.

Os nossos dias vão passando e muitas perguntas ficaram sem respostas. Onde estão os corpos dos desaparecidos pelo regime militar?  Se os responsáveis pelas barbáries cometidas achavam que faziam pelo bem da pátria, por que não mostram seus rostos e assumem o heroísmo? Assisti, há muito tempo, o compositor Taiguara em uma entrevista no programa do Jô Soares. Ele foi um dos artistas mais perseguidos pelo regime. Durante a entrevista, qualquer que fosse a pergunta, ele sempre voltava ao assunto da ditadura. Ao final, Jô comentou que ele não havia falado sobre o show que estrearia e que falou o tempo todo sobre o período em que foi perseguido. Taiguara respondeu que o que aconteceu no Brasil, naquele época, era um assunto que ninguém comentava, como se não tivesse acontecido nada e que ele sempre, quando tivesse oportunidade, falaria para lembrar as pessoas.

Só para “lembrar as pessoas” : A Justiça do Uruguai condenou nesta quarta-feira a 30 anos de prisão o ex-ditador Juan María Bordaberry pelo golpe de Estado que liderou em 1973 e por crimes envolvendo o desaparecimento e a morte de opositores. (Folha Online). Na Argentina os assassinos do regime militar também estão sendo julgados e condenados e aqui no Brasil eles sequer tem nomes e rostos, ou se tem, andam camuflados pelos votos que recebem.

Tenho que estar preparado para responder as perguntas que meu neto fará. Por enquanto vou tentando respostas para aquelas que foram rasgadas do nosso diário.


Ricardo Mezavila

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Comentarista da Palavra Fácil


Mario Vianna, Waldyr Amaral, Jorge Cury, João Saldanha e Luiz Mendes


Luiiiiiiiiiiiiiz Men-des! Após essa vinheta o comentarista Luiz Mendes, o da palavra fácil, iniciava as transmissões com o bordão: “Minha gente(...)!”. Seja como locutor ou comentarista. Sua contribuição para o meio esportivo e, comunicação em geral, marcou a história do rádio no Brasil.

Quem tem mais de quarenta anos deve lembrar de outros comunicadores contemporâneos do botafoguense Mendes: Waldir Amaral, Jorge Cury, Mario Vianna, João Saldanha e outros que contribuíram para que o futebol se tornasse popular nas conversas das esquinas e dos botequins.

No início dos anos setenta, quando eu voltava da escola ouvia com minha mãe, enquanto almoçava, programas esportivos nas rádios nacional e globo. Lembro dos bordões que os jornalistas soltavam nos microfones e os repetia quando narrava  jogos de botões nas doces tardes da minha infância.

Ainda hoje, quando estou dirigindo, tenho hábito de ouvir os comentários sobre o meu Botafogo nos programas de rádio (agora sem a suave presença da minha querida mãe), e sempre ouvia o da palavra fácil, suas colocações sábias e  sua surpreendente memória sobre fatos do futebol.

O ruim, segundo Zeca Pagodinho, é chegar aos cinqüenta e começar a ouvir: sabe quem morreu?

Das dezoito copas do mundo, Luiz Mendes participou de quinze, como locutor e comentarista. Escreveu livros de crônicas esportivas, foi um dos idealizadores dos programas de debates esportivos conhecidos como “mesa redonda” e fundador da rádio globo.

Hoje, muitos profissionais, jogadores e pessoas ligadas ao mundo esportivo farão justa homenagem ao grande jornalista que nos deu adeus. Esta é a minha.


Ricardo Mezavila

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A profecia que deu certo




Em 1559 a família real francesa celebrou dois casamentos no mesmo dia. Para comemorar o evento organizaram um torneio de “justas” (competição em que dois cavaleiros montados em cavalos combatiam). Ao pôr do sol, o rei Henrique II montou o seu cavalo para enfrentar o conde de Montgomery. A contenda terminou empatada, mas o rei insistiu em um novo ataque. A lança de Montgomery trespassou a viseira dourada do rei, penetrando-lhe o olho. O monarca morreu.

“Maldito seja o adivinho que predisse tão maleficamente e com total exatidão” alguém gritou em meio aos sussurros que se fazia após o trágico fim do rei. A identidade do homem contra quem foi dirigida a maldição era Michel Nostredame, ou Nostradamus. Desprezado e ridicularizado e, às vezes, temido. Após a morte do monarca o povo exigia que o profeta morresse na fogueira

A palavra profecia, de origem grega, significa “falar antes”. Nos tempos bíblicos, os profetas funcionavam como representantes diretos de um deus. Os profetas bíblicos serviam de conselheiros dos reis.

Michel de Nostredame era médico. Durante as epidemias de pragas que assolaram o sul da França, trabalhou incansavelmente no tratamento e cura dos acometidos pela doença. Também era escritor e isso facilitou que suas profecias fossem ambíguas e interpretadas de várias maneiras, de modo que nunca pareçam desatualizadas.

Após a profecia sobre a morte do rei Henrique II, Nostradamus se tornou o profeta mais conhecido da história. Durante seus sessenta e três anos publicou dez volumes de estrofes de quatro versos, ou quadras, proféticas num total de novecentos e quarenta e dois versos. O trigésimo quinto verso continha essa mensagem:

O jovem leão prevalecerá sobre o velho
Em campo de batalha num combate singular
Em jaula de ouro os olhos lhe trespassará
Duas feridas, e depois morrerá de cruel morte.


Ricardo Mezavila

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Teoria de Ugarte




Guillermo Ugarte (Peter Lorre): Você me despreza não é? Rick Blane (Humphrey Bogart): Se eu pensasse em você provavelmente o desprezaria. Diálogo do filme Casablanca, de 1942, em que, preso pela polícia francesa por ser responsável pela morte de dois alemães, Ugarte imaginou contar com a influencia de Rick, mas este o desprezou.

O ator Peter Lorre nasceu na Eslováquia em 1904. Bancário, foi descoberto por um diretor teatral e de 1929 a 1964 participou de mais de oitenta filmes, nunca como protagonista, tendo dirigido outros tantos. Seus papéis eram quase sempre vilões e até mesmo um vampiro psicopata que matava crianças em “M, o Vampiro de Dusseldorf”.

Desiludido em Holywood com a falta de bons papéis Lorre foi para a Alemanha escrever, dirigir e atuar em alguns filmes, que se tornaram fracassos comerciais. Fez seu último filme “O Otário” quando retornou aos Estados Unidos em 1964, tendo falecido no mesmo ano.

O desprezo surge a partir da avaliação de alguém como inferior. Talvez muitos de nós não sejamos plenamente felizes por não compreendermos a “Teoria de Ugarte”. Quando ele pergunta se Blane o despreza, ele sabia que sim, queria ouvir para ter certeza de sua submissão e fraqueza.

Tente levar essa teoria para a relação que você tem consigo mesmo. Faça para si a pergunta (você me despreza não é?), sempre que estiver na dúvida quando for tomar uma decisão sobre, por exemplo, emagrecer, casar, parar de beber, sair de casa, divorciar, mudar de emprego, voltar aos estudos, ter filhos, e verá que a resposta diverge do diálogo do filme. Você pode não usar o chapéu e fumar o mesmo cigarro de Bogart, mas tem muito mais talento para responder suas perguntas interiores.

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Ricardo Mezavila

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Pedra do Sal


pedra do sal


Nos séculos dezoito e dezenove o comércio escravagista no Rio de Janeiro, havia toda a infra-estrutura localizada no bairro da Saúde, lá havia os mercados de escravos. A Pedra do Sal, que fica no pé do Morro da Conceição, no mesmo bairro, era o local conhecido como a “Pequena África”.

Após a Lei Áurea, os negros fizeram ali seu ponto para rituais, cultos, batuques e rodas de capoeira. Sambistas e chorões como João da Baiana, Donga, Heitor dos Prazeres e Pixinguinha também se reuniam na Pedra do Sal.

A Pedra do Sal, assim chamada devido ao sal que ali era desembarcado e comercializado, foi o berço do Samba e do Chorinho carioca no final do século XIX. O ponto de encontro do ritmo carioca era um ambiente recheado de inspirações vivas de grupos de samba, ranchos e grupos carnavalescos.

Machado de Assis, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e um dos maiores escritores brasileiros nasceu no Morro do Livramento, na mesma localidade da Saúde.

Nas décadas de 1920 e 1930, os ranchos de carnaval atingiram o auge. Deixaram de ser a manifestação popular da Pedra do Sal e passaram a fazer sucesso nas camadas mais altas da sociedade.

De alguns anos para cá, com a revitalização da zona portuária, o local passou a receber eventos musicais com a presença de artistas. No período que antecede a grande festa do entrudo até seus dias de fato, a Pedra do Sal é uma opção para os foliões com seus blocos concentrados no Largo da Prainha.

A localidade é reconhecida como patrimônio cultural e seu tombamento deixa o legado da cultura negra carioca como herança.

Ricardo Mezavila

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Orgulho ou burrice?




As cenas da captura e morte do líder líbio Muamar Kadafi, nos remete às gravuras dos bárbaros que acostumamos a ver em livros e revistas. Dá até para questionar, vendo as imagens, se estamos no século XXI mesmo. Pior é constatar que o IDH (índice de desenvolvimento humano) da Líbia é mais alto do que o do Brasil.

O ocidente está em festa. Tio Sam comprou roupas novas e foi ao baile se divertir. Obama, o porta-voz das guerras, para mim todo presidente norte-americano tem essa função, subiu ao púlpito para receber os aplausos da platéia alienada. Aos poucos só vai restando o cargo dele na galeria dos ditadores. Nos Estados Unidos os ditadores revezam-se no comando para não levantarem suspeitas antidemocráticas.

Dentro do ônibus, ouvi alguns comentários engraçados, típicos dos Cariocas, sobre o conflito na Líbia. Uma senhora disse que o povo tinha que ir pra Brasília tirar o Sarney do senado, como fizeram com o Kadafi; um rapaz ria enquanto dizia  que nem sempre quem tira você do buraco é o seu melhor amigo (referindo-se ao esconderijo do ditador); uma moça disse que quando ligou a televisão e viu as imagens pensou que fosse o Cauby  bêbado sendo agarrado pelas fãs; outro disse que o nome do tirano agora era Muamar cadáver.

Realmente as cenas foram um misto de realidade fantástica com surrealidade extraordinária. Fica difícil para mim, homem comum, entender o porquê, se a situação era irreversível e desfavorável, de o Kadafi não ceder às exigências da população e assumir uma postura de “o grande líder atento à voz  das massas”. Depois dava uma de “migué”, por um tempo, e ia desfrutar de toda a sua fortuna em qualquer parte do mundo. Podia até vir para o Brasil e tentar uma vaga no senado. Definitivamente: Os ditadores são burros!

Ricardo Mezavila

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Poeta do dia




Em algum lugar neste mundo, ou fora dele, deve haver uma aldeia onde só poetas habitam. Famílias inteiras escrevendo suas poesias. Mães amamentado seus pequenos poetinhas, crianças brincando com livros, adolescentes trocando poemas apaixonados, adultos discutindo poesia nos bares e idosos contando, mais uma vez, quando e como escreveram seus primeiros versos.

Deve sim, haver um lugar, onde as palavras rimadas tenham valor; onde as pessoas tenham o patrimônio poético como herança; onde a preocupação do doente é saber quem escreverá o poema de sétimo dia caso venha a falecer.

Vou imaginar esse lugar e passar algumas horas por lá. Não posso ir de mudança, porque para viver lá tem que ser nativo e também não saberia viver sem a vulgaridade daqui. Mas vou aproveitar ao máximo essa oportunidade.

Consegui, estou na Aldeia dos Poetas! A primeira coisa que percebi foi o perfume suave que tem na atmosfera. Vou ter que tirar o All Star porque aqui tudo é gramado e muito bem cuidado. O céu é de um azul como nunca vi e as nuvens tem formas de animais. Vejo algumas montanhas, todas verdes.

Preciso encontrar alguém para saber como é a vida aqui. Ali, depois do jardim de miosótis azuis, tem uma pequena casa amarela com janelas e portas pintadas na cor cinza; as telhas são envernizadas e muito limpas. A casa não tem cerca ou muro. Um cãozinho está deitado no tapete em frente à porta.

Vou dar uma volta para conhecer melhor a aldeia. Vejo um lago, dois, três, são vários, parece um parque de lagos, onde as aves mergulham e brincam. Mas adiante vejo uma praça, com pessoas, consigo ler uma faixa: O POETA DO DIA. Parece algum tipo de homenagem, me aproximo e todos se voltam para mim quando percebem minha presença.

Estão pedindo para que eu me aproxime mais. Não acredito que isso esteja acontecendo! Uma menina pega em minha mão e caminhamos até um pequeno banquinho de madeira. Um senhor, de aparência agradável e simpático, diz que estavam a minha espera, que era para eu subir no banquinho e recitar um poema de minha autoria.

Recitei um poema que nem mesmo sabia que o tinha decorado. Fui aplaudido por todos e ganhei, das mãos da menina, uma flor de miosótis azul que também é conhecida por “não se esqueça de mim”. O anfitrião disse que aquele dia era o Dia do Poeta, e que nesse dia um poeta é inspirado e através das asas de sua poesia chega até a Aldeia.

Voltei de lá com a certeza de que a vida é uma benção e que nunca devemos sentir qualquer outro sentimento que não traga pureza para o espírito. A flor de miosótis acho que perdi na viagem, mas sei que posso encontrá-la nos olhos daquela menina.

Ricardo Mezavila (Pra Júlia)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Fechem as torneiras




Existem alguns sons, barulhos, ou ruídos que incomodam sem atingir o limite dos decibéis tolerados pelo ouvido humano que são de 50 db. Por exemplo, o som de uma torneira gotejando tem aproximadamente 20 dB; música baixa 40 dB; conversa tranqüila 50 dB; secador de cabelo 90 dB e um caminhão 100 dB.

Eu durmo com caminhões trafegando, secador de cabelo ligado, pessoas conversando, musica tocando, mas com a torneira aberta eu não consigo.

O processo do sono é comandado por um relógio biológico programado num ciclo de 24 horas. Todo esse mecanismo é adaptado geneticamente e seu desenvolvimento depende de alguns fatores externos, como tipos de colchões, hábitos e vida social. 

Em geral, um indivíduo adulto necessita dormir até oito horas por dia. Porém, não é estabelecido uma regra quanto à duração do sono. Cada pessoa tem seu próprio ritmo. Porém, se esse ritmo for alterado, alguns problemas surgem somo resposta a essa alteração.

Durmo aproximadamente 8 horas fragmentadas, ou seja, acordo de hora em hora e isso me remete ao primeiro estágio de sono pelo menos oito vezes. O primeiro estágio é a do adormecimento. Essa fase pode durar de alguns instantes até cinco minutos e funciona como uma espécie de zona intermediária entre estar acordado e dormindo.

Estou treinando para conviver melhor com a zona intermediária, nesse vácuo pode estar o grande mistério da vida. Talvez quando morrer eu não vá para sempre, fique com um pé aqui e outro lá. Pelo menos na memória daqueles para quem tive alguma importância.

Segundo Woody Allen : as pessoas boas dormem muito melhor à noite do que as pessoas más. Claro, durante o dia as pessoas más se divertem muito mais.

Ricardo Mezavila

terça-feira, 18 de outubro de 2011

me passa a salada...!


Torquato Neto


Há coisas que por dependerem de mais atenção, tornam-se pouco visíveis e audíveis, até mesmo invisíveis e mudas. É o caso de frases ditas dentro de algumas músicas que ficam abafadas pela harmonia e arranjo dos instrumentos. O pianista alemão Keith Jarrett costuma soltar algumas interjeições durante seus concertos, talvez algumas palavras, frases, mas a magia de sua música esfumaça qualquer tipo de verbete oral.

No disco Tropicália de 1968 na faixa Panis et circenses , no final da música, ouvimos o som de pessoas, como a própria letra diz “na sala de jantar”, falando ao mesmo tempo em que sons de pratos, copos e talheres abafam o que elas dizem.  Ouve-se uma voz, parece a de Caetano, dizendo: “me passa a salada...!”, e essa frase, para mim, resume todo o conteúdo do que representa: “as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer.”

Existem pessoas que também ficam um pouco nesse “limbo” de coisas colocadas de maneira a não serem facilmente percebidas. Estão no movimento, assinam os manifestos e depois vestem suas capas e vão conversar com a natureza como pólen fecundando óvulos que viram sementes.

Torquato Neto é um desses personagens que a cultura brasileira pouco reconhece. Poeta, letrista de música e ativista da contracultura, não viveu muitos anos , mas com a experiência de quem sabia passar mensagens nas entrelinhas. Defendia a brasilidade da cultura: Assumir completamente tudo que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra, ainda desconhecido".

O poeta viveu tempos de angústia e solidão quando seus amigos e parceiros foram exilados, no final da década de sessenta. Isolado e vigiado pelo AI-5 não podia mais defender suas posições vanguardistas, passando a ser perseguido pela “patrulha ideológica” de esquerda. Rompeu com os amigos e buscava a companhia de pessoas “esquisitas e estranhas” que viviam perambulando pelas ruas. "Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela.”

Torquato Neto suicidou-se dias depois de completar vinte e oito anos, em 1972. Depois de voltar de uma festa, trancou-se no banheiro e abriu o gás. Deixou esta nota: “Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar “. Thiago era seu filho de dois anos de idade.

Ricardo Mezavila

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Bagism





Quando pensamos na palavra paz, a definimos como um estado de calma e tranqüilidade, uma ausência de coisas perturbadoras que nos tira o sossego. No plano espiritual é estar bem consigo, com sua consciência, é a união entre o coração e a cabeça, um caminho calmo por dentro de si mesmo.

Em alguns lugares a paz é o calar da arma de fogo, mesmo de modo temporário. É “dar um tempo” na guerra, espantando-se com o tamanho da ignorância de quem a fomenta. Na cidade do Rio de Janeiro a paz vem sendo muito utilizada pelas autoridades governamentais quando falam sobre violência versus unidade de policia pacificadora (UPP).

Ao final dos anos sessenta, John Lennon e Yoko Ono, fizeram uma campanha pela paz onde recebiam repórteres deitados na cama de um hotel, o “Bed-in” ,como ficou conhecida a série de entrevistas, durou uma semana. O casal também iniciou uma série de happenings (forma de expressão visual) que chamaram de “bagism” onde ficavam dentro de grandes sacos brancos satirizando o preconceito. “Vivendo dentro do saco, outros não podem julgá-lo pela cor da pele, comprimento do seu cabelo, pelas roupas que você veste, por sua idade, ou qualquer outro atributo”. Justificou Lennon.

A paz utilizada como palavra é utópica e deveria ser suprimida de todos os discursos hipócritas e políticos. Paz é ação, não é verbo; é movimento, não é sonho; é euforia, não é letargia; é união, não é solidão; é agito, não é silencio.

Que a paz esteja conosco!


Ricardo Mezavila

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O dono da obra




Ao fim de toda obra ou acontecimento dão-se os créditos a quem esteve presente durante o exercício de fato. Mas é injusto que somente um nome seja o responsável por todo o conjunto.

Quem carregou as pedras para a construção do Farol de Alexandria foram os operários, mas quem levou a fama foi Ptolomeu, foi ele quem mandou construir a torre de mármore no porto da cidade, que do alto ardia uma chama que, através de espelhos iluminava até 50 quilômetros de distancia.

Ninguém constrói sozinho um jardim de aproximadamente cinqüenta metros de altura, em barro cozido, tendo terraços com grandes plantações e com uma escada de mármore por entre as folhagens. Mas ao rei Nabucodonosor foram dados os créditos pela construção dos jardins suspensos da Babilônia.

Quem construiu Brasília foram os trabalhadores, mas quem deixou o nome na história foi o presidente Juscelino Kubitschek. Jogador amador do América mineiro apreciava serestas e serenatas. Formou-se em medicina e serviu na polícia militar de Minas Gerais.

A convite do interventor federal assumiu a chefia da Casa Civil de Minas. Foi eleito deputado federal; prefeito nomeado de Belo Horizonte; governador de Minas e presidente da república. Era conhecido como o “tocador de obras”. Isentou de impostos de importação as máquinas e equipamentos industriais, facilitando assim o mercado interno.

Atualmente assistimos os governantes tocando obras para a realização da segunda copa do mundo no Brasil. Os operários não são como naqueles tempos em que se carregava pedras e dormia-se sobre elas. Não satisfeitos com a condições de trabalho na reforma do estádio do Maracanã, cruzaram os braços, e reivindicaram aquilo que consideram imprescindível para o bom andamento do trabalho.

Os donos das obras também não gozam do mesmo prestígio de épocas passadas. A política transformou-se, quase que exclusivamente, em um lago de tubarões, onde os peixes menores são perseguidos e engolidos, mas sabem que unidos ficam fortes e ficando fortes e unidos podem enfrentar os tubarões.


Ricardo Mezavila

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Vamos mudar o mundo




Você quer mudar o mundo sozinho? Prepare-se para a maior aventura que você jamais será capaz de realizar. Mas qual o mundo você quer mudar? Se for o seu mundinho apertado dentro de alguns metros de tecidos e linhas, esse é certo de você conseguir. Mas não será tão fácil assim,  pois há um código que identifica as pessoas pela cor da pele, tamanho do cabelo, pensamentos religiosos, etc.

Para muitos a possibilidade de “mudar o mundo” está associada a algumas mudanças como: um novo emprego, um penteado, uma casa, um regime e até um casamento. Embora pareçam bobagens, é por aí que se inicia a mentalidade positiva capaz de impulsionar a transformação desejada.

O mundo jamais será modificado se as pessoas não se modificarem em função disso. O que torna o mundo meio down é a tristeza que as pessoas atiram sobre ele. A medida em que nos tornamos mais felizes, através de ações diretas que reflitam essa felicidade em nós mesmos, estaremos contaminando de alegria a atmosfera e o universo será modificado.

É uma ação humanitária ser feliz! Assim estaremos salvando a Terra dos preconceitos, injustiças, radicalismos, etnocentrismos que levam o mundo inevitavelmente à guerra.

Lembro de um conto que li sobre um cientista que, preocupado com os problemas do mundo, buscava meios de melhorá-lo. Um dia, seu filho, uma criança ainda, resolveu ajudá-lo. O cientista, diante da insistência do menino, destacou de uma revista a figura do planeta Terra, recortou-a em pedaços com uma tesoura e deu ao filho: - Toma, senta ali e conserta o mundo!

O menino pegou os pedaços e em poucos minutos havia colado tudo exatamente como o original. O cientista ficou surpreso, como o menino conseguira juntar as partes de algo que ele nunca havia visto antes.

Ao perguntar ouviu como resposta: - Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem.  Virei os recortes e comecei a consertar o homem que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo.

Ricardo Mezavila

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Comece seu parágrafo



A vida é feita de histórias. Todos fazemos parte de uma. Por incrível que possa parecer, não damos a merecida importância à nossa própria. Além de vivida a vida também é um enredo. Tente parar um minuto e pensar em como começaria a sua história se fosse escrevê-la. Comece um parágrafo com suas lembranças mais distantes, dos tempos da sua infância. Coloque as mãos no queixo e respire fundo. Vamos, você consegue!

Até os atores que encarnam heróis em complexas histórias cheias de acontecimentos vivem seus scripits reais. Christopher Reever, o Super-Homem, representou no cinema vários personagens que alcançaram êxito de crítica e de público. Viveu, na vida real, um drama que se filmado, seria indicado pela Academy Awards para concorrer ao careca dourado.

Reeve ficou tetraplégico ao sofrer queda quando galopava em um cavalo, fraturando as duas primeiras vértebras servicais. A partir do acidente criou uma fundação e passou a lutar por pesquisas com células-tronco, visando melhorar a qualidade de vida de pessoas como ele, vítimas de algum tipo de paralisia.

O ator recebeu prêmios em seu país, Estados Unidos, por participar ativamente em várias ações humanitárias, como a defesa pública que fez dos atores chilenos durante a ditadura de Pinochet. Era casado com a atriz Dana Reeve, com quem teve um filho.

Em 2004, Christopher Reeve morreu de infarto e Dana em 2006, vítima de câncer. Seu filho, ainda criança, foi adotado pelo ator Robin Williams, o Peter Pan , que era o melhor amigo do casal, que o cria , até hoje, como se fosse seu próprio filho.

Essa história podia se encerrar aqui, mas a vida não é apenas uma narração. Ela continua fazendo com que cada segundo seja importante e valorizado pela eternidade.

Agora você pode começar o seu parágrafo sabendo que a sua história não terminará depois do ponto. Permita-se o prazer da descoberta da sua importância, do valor dos momentos , depois suba no palco que estamos prontos para ouvir.

Ricardo Mezavila

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Avarentos




Se você não valorizar cada centavo de troco que você deixa nas compras, nos transportes e até nas esmolas, você nunca valorizará o seu milhão, quando ele vier. Este tópico frasal faz parte do mandamento do pão-duro, pessoa que vive fazendo inventário de tudo o que possui para certificar-se de que nada foi gasto e de que precisa juntar mais coisas.

Famoso mão-de-vaca da literatura, o personagem Harpagão, o Avarento de Molière, que tem como lógica acumular dinheiro e nunca gastá-lo,  e acaba por passar necessidades financeiras pela “falta” de dinheiro. Decide casar seu filho com uma viúva rica e sua filha com um homem mais velho, porém igualmente rico.

Tio Patinhas, o pato mais rico do mundo, criado pelo cartunista Carl Barks dos estúdios Disney, tem a fama de ser sovina, além de explorar seus sobrinhos Donald, Huguinho, Zezinho e Luisinho em expedições e caças a tesouros no intuito de multiplicar ainda mais a sua fortuna.

O  escritor Fernando Sabino tem uma ótima definição do pensamento do “mão fechada”: Meu filho ouça bem o seu pai: Se sair à rua, leve o guarda-chuva, mas não leve dinheiro.
Se levar, não entre em lugar nenhum. Se entrar, não faça despesas. Se fizer, não puxe a carteira. Se puxar, não pague. Se pagar, pague somente a sua.

Não só nas personagens vivem os unhas de fome. Conheço pessoas que parecem carregar um escorpião dentro do bolso, mas que não fazem a menor cerimônia em ficar sentadas na aba de um chapéu.

Do seriado americano Everybody Hates Chris emerge o senhor Julius, representado pelo ator Terry Crews, pai do protagonista. Orgulha-se de trabalhar em dois empregos e saber o preço, centavo por centavo, de tudo aquilo que compra e o gasto de tudo aquilo que sua família consome dentro de casa. É dele a impagável frase: “Desliga o rádio relógio moleque, você não vê as horas enquanto dorme. São dois centavos por hora”.

Ricardo Mezavila

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A foto do perfil




Tem circulado nas redes sociais um movimento interessante contra a violência infantil: “Troque sua foto do perfil por um personagem de desenho animado”.Muita gente, inclusive eu, entrou na campanha com o compromisso de substituir a foto escolhida para ser nosso “marketing pessoal”, para colocar figuras de gibis e animações.

De acordo com a Unicef, muitos atos de violência cometidos contra as crianças continuam escondidos e chegam a ter a aprovação da sociedade. A violência contra as crianças inclui a física, psicológica, discriminação, negligência e maus-tratos. Vai desde abusos sexuais em casa a castigos corporais e humilhantes na escola, ou em qualquer outro lugar da convivência dos pequenos.

Toda e qualquer violência contra a criança deve ser denunciada. As marcas físicas, emocionais e psicológicas da violência podem ter sérias implicações no desenvolvimento da criança, na sua saúde e capacidade de aprendizagem (Fonte idest.com.br) .

O movimento contra a violência infantil na Internet vai até o dia doze de outubro, dia da criança, mas deveria continuar com a realização de debates, fóruns e elaboração de propostas que sejam apresentadas ao poder público.

Além da finalidade de protesto, esse movimento nos remete à infância, à criança que fomos um dia e cresceu. É interessante a existência da necessidade de ter que deixar de ser criança. A gente é criança por toda a vida. Eu, quando olho para as paredes da sala rabiscada pelo meu netinho, procuro achar nos riscos alguma mensagem que eu deveria lembrar, uma dica que a criança que eu fui quer me passar para que eu possa sorrir mais vezes. Imagino que ali tenha a senha de acesso ao elo perdido durante esses anos todos. É como se eu tivesse quebrado o pacto que fiz comigo mesmo quando usava calças curtas.

Espero que, pelo menos, esse movimento seja, para muitos, reflexivo e altruísta e que as crianças que nos habitam sejam eternamente felizes na pele dos adultos.


Ricardo Mezavila

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Big Apple



Das sementes, que fazem brotar as revoluções necessárias para a evolução da humanidade, nascem os líderes revolucionários, aqueles que tiveram a coragem de mudar o curso do rio para transformar a história, ou, atualizando o sistema, um upgrade para uma versão mais recente de mercado.

Invariavelmente os grandes líderes estão ligados às guerras como algozes ou mártires: Adolph, Mahatma, Benito, Che, Vladimir, Mao. Só para citar alguns do século XX. Esses líderes estão nos livros escolares. Tenho na estante: “Os grandes líderes da humanidade”, que trazem o pensamento desses personagens históricos e o que foram capazes de realizar.

Segmentos revolucionários que não são festejados como merecem, as revoluções científicas e tecnológicas são, para a humanidade, as mais importantes nos dias atuais. O planeta vem sendo agredido e em conseqüência reage com fenômenos e doenças cada vez mais terríveis.

Os “grandes líderes” trabalham no intuito de garantir ao homem mais qualidade de vida em tempos de alinhamento galáctico e tempestades solares.

Desde o final  do século XX até a primeira década do XXI (já pararam para pensar que a gente só se referia a século quando estudava história?), a mais significante revolução da humanidade foi a Internet. A globalização que estamos vivenciando é caracterizada pelo avanço tecnológico e ao acesso imediato que temos das informações.

Sem a Internet o mundo não estaria no mesmo estágio de evolução. A cada dia surgem novos recursos e aplicativos disponíveis gratuitamente para os usuários. Uma das responsáveis por essa evolução é a Apple. A empresa deixou de só fabricar computadores e investiu em acessórios como iPod, iPhone, Ipad etc. Antes, na década de 1980, popularizou o mouse tornando charmoso o Macintosh. Esses aparelhos facilitam a nossa comunicação, estudo, pesquisa e entretenimento.

Steve Jobs, foi o “gênio” criador da Apple (maçã), que também é o símbolo da New York City e também da gravadora dos Beatles. Existe uma disputa pelo uso do símbolo popularizado no éden (assunto encerrado), pela cobra.

Provavelmente todas essas ferramentas estarão obsoletas em algumas décadas e seus inventores estarão presentes nas antigas Forbes, apesar de terem revolucionado o comportamento da humanidade.

“Lembrar que eu estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que eu encontrei para me ajudar a fazer grandes escolhas na vida. Porque quase tudo – todas as expectativas externas, todo o orgulho, todo o medo de se envergonhar ou de errar – isto tudo cai diante da face da morte, restando apenas o que realmente é importante." (Steve Jobs).


Ricardo Mezavila

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A Lenda do Velho Barbeiro



Abram alas para o faz-tudo, Figaro, O Barbeiro de Sevilha. Abram alas pela cidade. Abram alas! (...) Vamos à loja que já é madrugada.  Ah, que bela vida, que belo prazer. Para um barbeiro de qualidade! (...) Ah, bravo Figaro! Bravo, Bravíssimo!  Figaro, personagem da ópera do compositor italiano Gioachino Rossini, baseado na comédia do dramaturgo francês Pierre Beaumarchais, é o barbeiro mais famoso da história.

Um outro barbeiro de descendência italiana, filho de Jacomo e Josefina, nascido em 1900, em Santa Maria Madalena, Estado do Rio de Janeiro, foi Florêncio, meu avô. Viveu noventa e cinco anos, muitos deles, dedicados ao ofício de barbeiro. 

Recordo as paredes da barbearia com algumas fotografias dos netos, todos usavam corte Príncipe Danilo. Esse corte era feito com máquina zero, deixando um topetinho ralo que não dava para pentear; depois fazia o pé da orelha dando a volta com uma navalha. Acho que era assim.

A profissão de barbeiro é muito antiga. Na Grécia, as imagens utópicas das divindades mitológicas assumiam um ideal de beleza e perfeição corporal, que necessitavam de um espaço exclusivo e adequado para o tratamento de beleza, incluindo o capilar. Surgiram assim os primeiros salões de beleza e a profissão de barbeiro.

As barbearias, na atualidade, quase não existem. Sucumbiram diante dos salões e dos aparelhos de barbear. Hoje em dia muitos homens preferem fazer a própria barba. Mas a perfeição e o capricho dos antigos barbeiros é incomparável.

Enfim, tive a felicidade de ter um virtuoso das tesouras e pentes como avô. Em sua modesta barbearia, no quintal da casa em Jacarepaguá, em frente à jabuticabeira, eu sentava na antiga cadeira e ouvia, como se fosse uma ópera regida pelo velho maestro, o som da tesoura assobiando em meus ouvidos.

Em câmera lenta, meus cabelos ainda voam pelo tempo e sinto, quase como uma lenda, o cheiro daqueles domingos de jogo de bicho, de Flamengo, das “negas” e da minha feliz infância. Bravo, Bravíssimo!

Ricardo Mezavila

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Magia do 7



Deus fez o mundo em sete dias. Nenhuma obra pode ser maior. Com o mundo, Deus fez também as estrelas. Nada pode ser mais brilhante. Dizem que se Deus fez “alguma coisa” melhor que a mulher, guardou só para ele. Isso é a pura verdade.

Com o mundo pronto, Deus não tinha muito a fazer, então começou a brincar com suas criações perguntando sobre o que gostariam de simbolizar na terra. A lua quis simbolizar os namorados, o sol as praias, as flores a primavera e as estrelas o céu. Milhões de anos depois uma estrela, entre todas as constelações, cansada de só ficar no céu, pediu ao criador para representar, sozinha, algo tão maravilhoso quanto o céu, as praias, o amor e a primavera.

Deus nem precisou pensar muito e a enviou para ser o símbolo do então Club de Regatas Botafogo. Para torná-lo especial e único, já que teria como símbolo uma criação sua, criou a “Magia do 7”. A estrela quis saber o que era a Magia do 7. Deus disse que em breve chegaria alguém, como um anjo, muito simples. Ele vestiria a camisa 7 e seria a Alegria do povo.

A estrela quis saber como poderia alguém assim, tão simples, ser a alegria de um povo? Por isso, disse Deus, criei a Magia do 7. Quando ele vestir a camisa ela será abençoada por mim e o mundo todo  se renderá ao seu talento, o clube já terá o nome modificado para Botafogo de Futebol e Regatas e você terá orgulho em ser o símbolo desta camisa e ainda será o escudo mais bonito do planeta.

E como identificarei o anjo? – perguntou a estrela. Colocarei nele uma marca que muitos vão olhar como “deficiência”, mas na verdade será uma asa, que fará com que voe como os passarinhos, aliás, ele atenderá pelo nome de uma ave, respondeu o Criador. E, continuou, depois de elevar o nome do clube ao mais alto nível, no cenário mundial, outros que vierem a vestir a camisa também serão abençoados pela Magia do 7. E assim foi.

Mané Garrincha, o anjo de pernas tortas, deu início a Magia do 7. Com seus inacreditáveis dribles eternizou a camisa 7 no coração de todos nós, Botafoguenses, e admiradores do verdadeiro futebol arte. Outros jogadores também honraram, em suas épocas, esta camisa: Rogério, o mestre dos dribles; Maurício, autor do gol do título de 1989; Túlio Maravilha, herói e artilheiro da campanha de 1995 e Maicosuel, o “Mago”, que mantém a tradição da mística no próprio nome. E, na seleção brasileira, o “Furacão” Jairzinho.

Ricardo Mezavila


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Dinossauros e Marimbondos


Ditador era o título de um magistrado da Roma antiga, apontado pelo senado romano para governar o estado em tempo de emergências. No sentido moderno, refere-se a um governante absolutista ou autocrático que assume solitariamente o poder sobre o Estado. 

Ditadores modernos geralmente vieram ao poder em tempos de crise. Muitas vezes eles tomaram o poder através de um golpe de estado, mas também, podem passar décadas nos bastidores do poder, sem ser acusado diretamente pelas tiranias e excessos cometidos pelo executivo.

Exemplo clássico de ditador moderno, e não cabe aqui nenhum julgamento de valor, é o senador maranhense, eleito  pelo estado do Amapá, Jose Sarney.

Sarney, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, fez parte de um movimento literário que lançou o pós-modernismo no estado do Maranhão ao lado do poeta Ferreira Gullar. Iniciou na carreira política em 1954, sendo o político mais antigo em atividade no Brasil. Membro do partido que sustentava a ditadura militar nos anos 1960 e 1970, o senador, ao fim do período militar, retirou-se da liderança do partido e fundou a Frente Liberal e compôs a chapa como vice-presidente na eleição indireta de 1985, quando o colégio eleitoral elegeu Tancredo Neves para presidir o país.

Coube a José Sarney, com a morte de Tancredo, assumir a presidência e governar até 1989, levando o país a uma fragorosa crise econômica. Criou planos para controlar a inflação, todos fracassados pelo monstro da hiperinflação. “Tem que dar certo”! Esse era um dos jargões de propaganda política de seu governo, como foram “Eu te amo meu Brasil” e “Ame-o ou deixe-o” nos governos das juntas militares.

Terminado seu mandato catastrófico, saiu com um inflação de 86% em um mês e seu governo com avaliação zero, acomodou-se na vida parlamentar e está no quarto mandato como presidente do senado federal, mas anunciou sua aposentadoria ao final deste mandato.

José Ribamar Ferreira Araújo da Costa Sarney, viveu da política todos esses anos, e não foi capaz de criar nenhuma obra positiva e significante para o cidadão brasileiro e a cidadã brasileira. O semifeudal  e oligarca dono das terras de São Luis, devia pegar carona nas asas de seu marimbondo de fogo e viajar por campos de dinossauros sendo  vitoriosamente esquecido por tudo aquilo que não fez.

Ricardo Mezavila