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sexta-feira, 25 de outubro de 2019

STF brinca de STF



Quando um Ministro da Suprema Corte precisa justificar que assumiu o compromisso de cumprir a Constituição, é porque o leite derramou faz tempo. Ricardo Lewandowski fez mea-culpa por ter votado contra a prisão em segunda instância. Para quem foi o recado? Eduardo Bolsonaro ensinou que para fechar o STF bastam um cabo e um soldado...e um Jeep (?)

O Ministro argumentou que, "A presunção de inocência, com toda certeza, integra a última das cláusulas pétreas da Constituição, representando talvez a mais importante das salvaguardas do cidadão, considerado o congestionadíssimo e disfuncional sistema judiciário brasileiro." Se a cláusula é pétrea, os pares de Lewandowski deveriam assim entendê-la.

O STF está brincando de STF. O Ministro iniciou seu volto assim: “Assumi o solene compromisso de cumprir a Constituição e as leis da República, sem concessões à opinião pública ou publicada nem a grupos de pressão. Desse compromisso jamais me desviei e não posso desviar-me agora, pois tenho o inequívoco dever, sob pena inclusive de prevaricação.”

No meio da brincadeira a Ministra Rosa Weber pediu para ir ao centro do picadeiro para dizer: “Nem a inquisição executou antes do trânsito em julgado” - disse Rosa, oscilando entre o heliocentrismo e a fogueira, com a autoridade de Cristina de Lorena, a grã-duqueza de Toscana, a quem Galileu escreveu uma carta interpretando a bíblia e a natureza.

Enquanto a corda leva a caçamba com o Brasil para o fundo do poço. Outro Ministro, o Celso de Melo, também refletiu dizendo que "O País vive um momento extremamente delicado em sua vida político-institucional, pois de sua trajetória emergem, como espíritos ameaçadores, surtos autoritários e manifestações de grave intolerância que dividem a sociedade civil".

A sociedade civil não está dividida como apregoa o Ministro. O que temos é um Supremo acovardado, um legislativo corrupto, um presidente inepto, incapaz, servil, representante de uma elite escravocrata, cruel e atrasada.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Canalha (que é que tem nessa cabeça irmão)



O artista plástico Hélio Oiticica cunhou a frase, “Seja marginal, seja herói”, que resumia uma série de trabalhos que ficou conhecido como Marginália, a contracultura que impôs derrotas à censura na ditadura militar.

Esse grupo faz oposição ao Homem cordial, definido pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda em seu livro Raízes do Brasil. O homem cordial define as virtudes do brasileiro, como a hospitalidade e generosidade, tão elogiadas pelos estrangeiros.

Acompanhando a força popular no Chile e Equador, fico pensando que está na hora de o brasileiro ser mais marginal que cordial; mais mimeógrafo que computador, mais Navilouca que Website. Está na hora do brasileiro aprender a afinar o instrumento de dentro pra fora, de fora pra dentro.

É muito desconfortável para nós, contemporâneos, assistir a cultura fedendo na lata de lixo, a miséria intelectual fascistóide defecando pela boca, o gado pisando em nossas flores, os ianques descendo de paraquedas em nossos quintais, acampando na areia das praias onde nossos violões e pranchas davam viço ao nosso corpo e as nossas ideias.

Walter Franco segue em sua Vela Aberta, cantando a dor Canalha, dizendo Respire Fundo de Coração Tranquilo, mas que também se dilacera num campo de batalha, um grito que se espalha...

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Camões, Chico e o analfabeto BIC



Ele lê mal, tem vocabulário pobre e não é capaz de escrever uma linha, mas é o responsável por assinar o diploma do Prêmio Camões de Literatura ao vencedor, Chico Buarque de Holanda. Porém, o analfabeto disse que não assinará, não usará sua esferográfica Bic por retaliação ao ganhador do Prêmio, que tem pensamento político e de vida, oposto ao seu.

Ao negar assinatura, Bolsonaro passa recibo do seu tamanho para a cultura brasileira, ajusta-se ao lugar que cabe aos insignificantes na história. Além de expor sua repulsa às artes, demonstra um ressentimento inapropriado ao cargo que ocupa. Chico Buarque é um gigante da cultura, qualquer governante teria orgulho em assinar um diploma tão significante para as literaturas brasileira e portuguesa.


O analfabeto Bic joga em um time que tem Silvio Santos, que deve responder na justiça por assédio e exposição sexual de crianças em seu duvidoso programa de auditório; Bispo Macedo, que pratica charlatanismo religioso e ensina aos jovens pastores como tirar dinheiro dos pobres frequentadores de sua igreja e, completando o time, Luciano Hang, o empresário patético e bilionário sonegador de impostos. Sinceramente, Chico Buarque deve estar aliviado com a recusa.

Enfim, um governo que quer apagar o legado de Paulo Freire, considerado um dos maiores educadores do mundo; que tem no suposto astrólogo Olavo de Carvalho, um ícone da filosofia; não pode colocar sua assinatura em documento tão nobre.

Não vamos nos indignar. Deus dará, Deus dará!

Se Fernando Henrique fosse um príncipe...



Fernando Henrique é a nobreza intelectual e moral do tucanato, da mídia corporativa e da elite atrasada do país. Autor de vários livros, ganhador de Prêmios como o “Príncipe das Astúrias de cooperação internacional” em 2000, e o "Mahbub ul Haq por Notável Contribuição ao Desenvolvimento Humano" do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em 2002.

Ministro da Fazenda no governo Itamar Franco, Fernando participou do bem sucedido Plano Real, fator determinante para a sua eleição e reeleição a Presidente da República, ambas em primeiro turno.

Condecorado em Portugal com a Grã-Cruz Ordem do Mérito e com o Grande-Colar da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, além de outras condecorações, o ex-presidente gozava de prestígio internacional.

Fernando Henrique Cardoso tinha requisitos para ilustrar as páginas e galerias da história, como uma figura que contribuiu para o desenvolvimento e crescimento de seu país. Porém, Fernando não quis ser um príncipe altivo e dotado de brio, preferiu o atalho da inveja, do rancor e da privataria, escolheu o caminho do brejo.

Se Fernando tivesse um pouco de honradez e dignidade, teria passado a faixa presidencial com o orgulho de um professor entregando o diploma ao aluno; seria conselheiro natural do operário que o sucedeu, contribuindo, com sua experiência, em complicados acordos de cooperação e conflito, pelo bem do país.

O Brasil indígena, mulato, caboclo e negro não foi capturado pela antena burguesa de Fernando, que pediu que esquecessem tudo o que escreveu. Apequenado Brasil dos brancos, dos homens gigantes e poderosos, presos a espíritos pequenos e servis

Ciro Gomes e arte de morrer na política



As tradições religiosas, em tempos antigos, concebiam a morte como modelo de punição. O mito adâmico reforçava essa tradição com a fábula da expulsão de Adão e Eva do paraíso, no imbróglio da serpente, da maçã e do pecado original. Na política, os habitantes do paraíso reconhecem a morte como algo necessário para a pós-vida eleitoral, acreditam em corpo legislativo e executivo ressuscitados.

O coronel e multipartidarista Ciro Gomes, tem utilizado a morte como prática política desde que foi defenestrado do segundo turno das eleições de 2018. Ciro morre quando ataca Lula e o PT, ou quando faz graves acusações contra jornalistas, como fez contra Paulo Moreira Leite e Kiko Nogueira, dos sites Brasil 247 e Diário do Centro do Mundo, respectivamente, sem nenhuma comprovação ou fato, o fez por total destempero. Ciro se transformou em pessoa desnecessária e ineficiente dentro das expectativas e da retomada de uma sociedade progressista.


Alguém avisa ao Ciro que não é assim que vai convencer os eleitores da esquerda a caminharem ao seu lado, sua clara articulação sobre temas nacionais bastaria. A tática de cair atirando à direita e à esquerda só traz a desconfiança de ambos os lados, o que pode trazer a imensa solidão das urnas vazias. Ô Ciro, tem que chegar devagar, ‘dar uma ideia’, fazer um carinho, pegar na mão, checar as possibilidades e depois traçar uma estratégia de conquista como mandar flores, escrever um poema...

Os atores políticos não são formados em artes cênicas, por isso a dificuldade em passar uma mensagem verdadeira. Alguns políticos que teimam em ser atores se formam em artes cínicas, e nesta arte o canastrão é um dos protagonistas e fatalmente morre no último capítulo.

Um Lula pela metade, ainda é um Lula



No programa do Pedro Bial, o Ministro do STF, Gilmar Mendes, disse que, “Moro chegou no governo como primeiro-ministro e depois virou personagem que Bolsonaro leva para ver jogo do Flamengo”. A vida imita o folclore. Uma lenda muito popular no Maranhão é o Capelobo, um ser que pode estar totalmente em forma de animal, ou em forma metade homem e outra metade animal.

Existem Capelobos disfarçados de parlamentar, ministro, juiz, procurador, artista e jornalista. São homens e mulheres que não possuem personalidade pública autêntica, são marionetes, bonecos de ventríloquo na prateleira prontos para serem manipulados. Ciro, Dallagnol e Bolsonaro são Capelobos: Ora monstro, ora homem e monstro.

Ainda sobre lendas, a tendência do STF é conceder liberdade para Lula, mas cassar seus direitos políticos. A Presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, prevê Lula Livre pela metade. Lula sendo candidato, ou não, nunca será um Capelobo, porque Lula carrega a intensidade e a luz dos heróis simples e populares.

Um Lula pela metade, ainda assim será um Lula integral, capaz de comunicar com lideranças políticas e de movimentos sociais; de subir em palanques, libertando a voz e segurando mãos suprapartidárias. Um Lula pela metade, ainda é um Lula que pode iniciar uma caravana país afora, falando diretamente no coração do povo.

Arbeit macht frei (O trabalho liberta)



Século XXI, avanços tecnológicos, a globalização aproximando fronteiras, povos e nações, e no Brasil ainda há quem defenda, como o próprio presidente da república, o trabalho infantil a partir dos nove anos. Bolsonaro chegou a declarar que só não enviou projeto ao Congresso porque seria massacrado.


"Trabalhar não mata, comecei a trabalhar aos quatorze anos. Se eu consegui todos conseguem", esse é o discurso do meritocrata liberal que trabalhou de office-boy na empresa do tio. A meritocracia é a arte do egoísmo e da presunção. Lugar de criança é na escola!


Ainda há no Brasil uma legião de crianças em estado de vulnerabilidade social, cooptadas pelo tráfico de drogas. Algumas são exploradas trabalhando em fazendas, oficinas, indústrias e até na construção civil, comprometendo o fluxo natural da vida escolar e familiar. Isso só será minimizado através de ações mais contundentes do poder público na educação e no combate inteligente ao narcotráfico.


Fato distinto, na época hitleriana o nazismo recrutava meninos entre quatorze e dezoito anos e os doutrinavam, era a "Juventude Hitlerista"; as meninas pertenciam a seção denominada 'Liga das Meninas Alemães'. Para os menores, entre dez e treze anos, havia um ramo infantil. Essa juventude fanática participava de queima de livros, ataques a judeus nas ruas, denunciava vizinhos e atuava na luta política e racial.


Havia também o “Calvário das Viúvas”, como ficou conhecido o episódio das mulheres que perderam seus maridos na guerra e se viam obrigadas a fazer todo o tipo de serviço para os soldados invasores, sendo mal interpretadas pelas famílias tradicionais das cidades. Quando os soldados iam embora, eram levadas para as praças públicas e tinham seus cabelos raspados pelas famílias de bem, eram despidas e suas testas marcadas com a suástica.


Talvez Bolsonaro, em um insight escatológico, tenha visto jovens milicianos antipetistas formados em escolas cívicos-militares, perseguindo progressistas para livrar o país do comunismo (as milícias digitais pedem a volta do AI-5), marcando LGBTQ em praça pública, promovendo o extermínio da esquerda em campos de concentração com placas escritas nos portões: “O trabalho liberta”, o que ficaria conhecido como o Holocausto das milícias. SQN!

Deus é um conceito pelo qual nós medimos nossa dor



Em dezembro de 1970 John Lennon, já ex-beatle, gravou a canção God, em que começa dizendo que “Deus é um conceito pelo qual nós medimos nossa dor”. A canção define o sentimento de Lennon em relação ao que seria inevitável: O fim dos Beatles, ou “O sonho acabou”.

Peço perdão a John, à arte, à cultura, aos beatlesmaníacos como eu, para uma analogia com a Lava Jato. Na letra de God, John diz que deixou de acreditar nos signos e nas influências de sua formação. Diz, entre outras citações, que não acredita em mágica, em bíblia, em Buda, em Jesus, em mantra, em gita, em Elvis, em Zimmermam.


O sonho para quem sonhou que a Lava Jato seria uma operação séria nem começou, mas para quem percebeu que a operação servia para perseguir, dar o golpe, destruir a produção e chegar ao poder, acabou há muito tempo, na verdade nunca existiu.

Parece que muitos que apoiaram a direita e a Operação e detonaram o PT e Lula, agora querem nos dizer o que temos de fazer. Para esses, eu digo: I don't believe in Globo, I don't believe in Folha, I don't believe in Frota, I don't believe in Mendes, I don't believe in Pannunzio, I don't believe in Sheherazade, I don't believe in Lobão, I don't believe in Dimenstein, I don't believe in Kataguiri, I don't believe in Padilha, I don't believe in Villa, I don't believe in Azevedo.

Para salvar o texto, termino assim: “Ontem eu era um tecelão do sonho, mas agora eu renasci. Eu era a morsa, mas agora eu sou John. E então queridos amigos, eu só tenho que continuar”.

O engajamento do E.C. Bahia e a omissão de Bolsonaro



Os clubes de futebol nordestinos, Vitória, Fortaleza, Ceará, CSA e CRB, publicaram em suas contas no Twitter manifestações em defesa do meio ambiente. “O Nordeste está ainda mais unido contra o descaso que invade nossas praias. Manchamos nossas mãos, lamentamos pela vida marinha e pela beleza da nossa costa, vimos o avanço com tristeza, mas não medimos esforços para salvar a natureza da nossa Região. Essa é uma luta de todos”, foi publicado na conta do Esporte Clube Vitória.

Alheio ao crime ambiental que já atingiu mais de cento e cinquenta praias dos municípios dos nove Estados, e aos latões da Shell boiando em águas nordestinas, o presidente Jair Bolsonaro virou as costas para o problema, e ainda aproveitou a oportunidade para lamber as botas de Trump, tentando colocar na conta da Venezuela a responsabilidade pelo petróleo derramado. O acontecimento tem afetado a vida de animais marinhos e causado impacto nas cidades litorâneas.


Em partida contra o Ceará Sporting Club, válida pelo Campeonato Brasileiro de futebol, o Esporte Clube Bahia entrou em campo com o uniforme pintado como se estivesse manchado de óleo. As camisas do time baiano serão leiloadas e o valor arrecadado será destinado aos grupos de voluntários que têm ajudado a limpar as praias. Os jogadores do time cearense entraram com luvas pretas simbolizando as mãos dos voluntários.

O óleo chegou a Morro de São Paulo, terceiro maior destino turístico da Bahia, mas o governo tóxico está preocupado com as disputas internas de seu partido e com o vazamento do dinheiro do fundo partidário.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

A primavera chegou e ninguém viu



Houve um tempo, não muito distante, em que a chegada da primavera trazia inspiração para os poetas. Nelson Sargento, o grande baluarte do samba cantou, no definitivo Cântico à natureza: “Oh, primavera adorada, inspiradora de amores, oh, primavera idolatrada, sublime estação as flores”. Em 2019, ventos neofascistas criaram uma estação vilanizadora que se colocou entre as flores, o calor, as folhas caindo e as baixas temperaturas.

Setembro entrou e ninguém viu a boa nova andar nos campos, porque não existe nada de bom nesse sol de primavera. O ocaso nas relações entre poder e povo está estacionado no horizonte impedindo a entrada da noite e o nascer de um novo dia. Apesar de você, Chico, a manhã não vai renascer e esbanjar poesia. 

Uma massa de ar pesado entrou no país, a resistência nordestina mantém um pedacinho do céu azul na consciência de suas raízes, na diversidade de sua cultura e nas tradições de suas religiões. O nordestino sempre foi vítima do abandono, da fome e da seca, mas se preservou pela força e valor de sua história. Só é primavera no nordeste!

Do jeito que vão as coisas, não serão as manifestações para denunciar quem matou Marielle e Anderson no Rio Comprido; quem atirou na kombi onde estava a menina Ághata no Alemão, e nem o discurso de Greta Thunberg na Cúpula do Clima na ONU, suficientes para empurrar essa nuvem dos nossos dias. Será preciso muito mais do que as manifestações e discursos podem nos oferecer. O fascismo é um fenômeno de massa, que segue um senhor intolerante e irracional. Para derrotá-lo será preciso união e percepção crítica, o que foi essencial para que o nordestino não se contagiasse pelo vírus da mediocridade.

Índios que teimam em ser índios!



O assunto Bolsonaro na ONU não vai se esgotar tão cedo. A vergonha foi enorme, o discurso de ódio embrulhou meu estômago. Não consigo definir o que senti, se ojeriza ou pânico de o mundo ter ficado diante da aberração que colocamos para presidir o país.

De todos os impropérios ditos pelo pusilânime, o pior foi sobre o cacique Raoni, a maior liderança indígena e uma das principais vozes contra as políticas indigenista e ambiental desse governo. “A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peças de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”, declarou Bolsonaro, e continuou: “Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas.”

Bolsonaro, para justificar a retirada dos povos indígenas de suas terras, tem a narrativa de que o índio quer ser tratado como ‘ser humano’, com direito a viver nas cidades, ao alcance das tecnologias. Não é o que pensava Darcy Ribeiro quando escreveu o livro O Brasil como problema, onde confronta, no trecho reproduzido a seguir, a integração e a falta de assimilação da sociedade em relação às populações indígenas. “O índio vive a situação desesperada de quem não quer identificar-se com a sociedade nacional, de quem se nega a dissolver-se nela, mas que precisa, igualmente, do seu amparo compensatório. E é um amparo que só o Estado pode dar e deve dar, mesmo porque o problema indígena somos nós, que invadimos suas terras e destruímos suas vidas. Fomos nós que criamos o problema indígena. Somos nós os agressores. Nós, em consequência, é que lhes devemos esse amparo oficial e legal – o único que pode garantir condições de sobrevivência”.

No governo militar do general Ernesto Geisel, houve um movimento de ‘emancipação’ dos índios. O ditador se perguntava: “Por que esses índios se mantêm nessa mania de serem índios? Geisel era filho de alemães, contava que tinha falado alemão até os doze anos, depois optou por ser brasileiro e que os índios poderiam fazer o mesmo. A emancipação visava retirar os indígenas de suas terras e sua consequente dizimação, a mesma proposta do capitão.

Bolsonaro foi à ONU com os objetivos de bajular Donald Trump e arriar as calças para a exploração das terras amazônicas. Após a apresentação gordurosa e cheia de bile, tive medo de ser acometido por uma indigestão. Nessas horas recorro a coisas agradáveis e assisti o vídeo de uma história contada por Gilberto Gil e João Donato. 

Era tarde de sábado quando o interfone do apartamento de Gil tocou. A empregada atendeu: - Seu Gil, é João Donato! Gil desaprovou o anúncio de sua visita: - Donato não é pessoa que se apresente. Donato subiu, segundo Gil, um pouco ‘chumbado’, sentou-se no sofá, entregou uma fita K7 com algumas canções e pediu que Gil colocasse letra. Enquanto Gil ouvia, Donato dormiu. Gil olhou o amigo dormindo sossegado no fim daquela tarde lilás e escreveu: A paz invadiu o meu coração/de repente me encheu de paz/como se o vento de um tufão/arrancasse meus pés do chão...”. 

É isso, queremos a paz invadindo o coração do Brasil!

Vivemos para ver a Lava Jato pedir Lula Livre



O combate à corrupção produziu a Operação Lava Jato em 2014, para que a polícia federal e o Ministério Público investigassem e conduzissem aos tribunais, políticos e empresários, que viviam em um espécie de ilha da fantasia com o dinheiro público. A sociedade abraçou a causa, a mídia mergulhou de cabeça e não demorou para apontar suas setas seletivas para seus velhos ‘inimigos’ de classe.

A influência da carnavalização da Lava Jato trouxe aos holofotes os golden boys, Procuradores do Ministério Público de Curitiba criados nos playgrounds do fundamentalismo religioso, onde aprenderam a ser supremacistas e meritocratas. No comando dos meninos de ouro estava o juiz ‘ladrão’, Sergio Moro, o ‘Russo’ do Telegram, o ‘Marreco’ de Maringá, o ‘Batman’ dos Patos. Após inviabilizar a candidatura de Lula, Moro foi indicado para assumir um super ministério e os Procuradores tentaram abocanhar uma fortuna que seria para uma suposta Fundação com interesses políticos eleitorais.

Com todo esse cenário apocalítico montado, a Vaza Jato veio e puxou o freio do lotação e alguém gritou barata-voa no meio do salão. E agora José? O rei está nu e todo mundo enxerga suas intimidades. Nesse espetáculo bufo, o palhaço Bozo tenta fazer graça para uma plateia de robôs humanoides, enquanto Bozo filho tenta apagar suas digitais do Chevrolet branco onde estava Marielle Franco depois que saiu da Casa das Pretas.

Do cárcere, Lula, noivo e candidato ao Nobel, assiste a derrocada da Lava Jato e o derretimento de seus detratores. Os Procuradores, estrategicamente, pediram que “seja deferida a Luiz Inácio Lula da Silva a progressão ao regime semiaberto”. Fato é que Lula está na iminência de atender ao critério temporal, cumpriu um sexto da pena e pode passar para esse regime. O MP quer que Lula vá para casa, pois analisam que assim os ataques da Vaza Jato sejam minimizados. Acontece que Lula diz que não troca sua dignidade por sua liberdade. Estamos vivendo para ver a Lava Jato estender uma faixa de LULA LIVRE!

Eu sei que não vai dar certo, mas Paris diz que vai



Uma espécie de virose anticivilizatória aguda se espalhou pelo país trazendo a síndrome de Hardy, a hiena. O grupo infectado tende ao pessimismo e baixa autoestima, que pode levar a um quadro de depressão coletiva. Os primeiros sintomas apareceram em 2016, quando passamos a viver um drama que parece interminável.


Durante o processo de impeachment acompanhamos, embasbacados, as entranhas do organismo do Congresso e das instâncias da justiça. A televisão mostrou como são, como agem, do que se alimentam, politiqueiros e juízes. Penso que foi ali, durante as transmissões ao vivo, que muita gente boa passou a ficar incomodada com um sentimento primitivo que começava a desabrochar no terreno das emoções.


Um amigo confidenciou que sentia vontade de cometer ‘uma besteira’ toda vez que o deputado Onyx Lorenzoni intervinha em defesa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Entendo os motivos desse amigo, assim como na letra de Ouro de tolo de Raul Seixas, ele se olhava no espelho e se sentia um grandessíssimo idiota.


O drama do cotidiano brasileiro produziu caricaturas, estranhezas e esquisitices, como os patos da FIESP e os paneleiros da Atlântica. A bizarrice deu espaço para que uma bruxa messiânica contribuísse com um parêntese no livro da história. A moça, tresloucada, rodopiou repetindo aos berros: “Acabou a república da cobra”. (What)?


Como na oração de São Francisco, “onde houver trevas que eu leve a luz”, uma notícia deu lugar para que a esperança retornasse ao nosso convívio. Paris fez ajuste em nosso brilho concedendo o título de Cidadão Honorário da Cidade ao companheiro Lula, semanas depois de Jair Bolsonaro ofender a primeira dama francesa. O líder indígena da região do Xingu, Cacique Raoni, também recebeu o título, em 2011. Há poucos dias, o presidente brasileiro ofendeu o líder na Assembleia Geral das Nações Unidas. Sejamos otimistas e proativos! Não estamos do lado dos que ofendem, estamos do lado dos que são condecorados.

Há navios demais ancorados nos portos



“Navegar é preciso, viver não é preciso”, é uma famosa frase do poeta português Fernando Pessoa, certo? Errado. Esta frase foi dita pelo general romano Pompeu Magno, que viveu no século I a.C. Pompeu encontrou nesta frase uma forma de encorajar seus marinheiros durante a escolta de uma frota atingida por forte tempestade, no transporte de provisões para Roma.

O comandante do navio havia orientado que Pompeu não partisse, e teve como resposta: “Navigare necesse, vivere non est necesse”. Como missão dada para Pompeu era missão cumprida, o general conseguiu chegar em Roma, tendo sido eleito cônsul, com o apoio do povo que o via como herói.

No século XIV o poeta italiano Petrarca fez uma roupagem na expressão que ficou conhecida como: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Fernando Pessoa escreveu: “Quero para mim o espírito dessa frase”.

Assim como Pessoa, também queria o espírito dessa frase entre nós. Há navios demais ancorados nos portos, com bandeiras arriadas e marujos indecisos com medo da tempestade. Entrar no mar de maneira organizada é necessário para viver e combater os piratas.