Pode entrar,o Blog é seu! Welcome to Blog! Since 30 july 2011

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Wtizel, o fuzileiro DOOM



Sem querer fazer julgamento sobre a pessoa porque não o conheço, mas sobre o governador do Rio de Janeiro, eleito por mais de 4 milhões de votos, fica a questão: Quem é W. Witzel? Antes da campanha um ilustre desconhecido, durante a campanha um ex-juiz e, depois da campanha, um homem perigoso e ainda desconhecido. A sociedade paga caro quando escolhe seus representantes no ‘escuro’, sem critério histórico ou político partidário. O eleitor que tem esse perfil devia refletir na ameaça que representa quando sai ao encontro das urnas.

Até agora, pelo comportamento que tem apresentado, o govenador parece o arquétipo da sombra, o lado sombrio da personalidade. Segundo Carl Jung, esse lado é o submundo conturbado da nossa psique que contém os nossos sentimentos mais primitivos, os egoísmos mais afiados, os instintos mais reprimidos e aquele “eu escondido” que a mente consciente rejeita e que nos mergulha nos abismos mais profundos do nosso ser.

É esse lado obscuro de Witzel que tem governado o Rio de Janeiro, o homem trágico, com necessidade de demonstrar virilidade pela violência, que tem como fetiche macabro uma cabecinha sob a mira de uma metralhadora. Quando desceu de helicóptero na Ponte Rio-Niterói e comemorou a morte de um homem que mantinha um ônibus sequestrado, W.Wtizel era a representação clássica da figura que sai da realidade para existir dentro de um vídeo game do gênero tiro em primeira pessoa.

Segundo Friedrich Nietzsche, nossos pensamentos são as sombras de nossos sentimentos, sempre mais obscuros, mais vazios, mais simples que estes. O homem niilista considera que as crenças e os valores tradicionais são infundados e que não há qualquer sentido ou utilidade na existência. Dentro desse contexto de não-existência podem surgir super-homens céticos com a humanidade, que buscam na tortura uma maneira de reprimir sua incompetência intelectual, fazendo da sombra o seu corpo real, revelando distúrbios de comportamento, tornando-se potenciais assassinos implacáveis e delirantes que combatem inocentes dentro de uma kombi.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

O que leem os Bolsonaros?



Como no livro do norte-americano JD Salinger, O apanhador no campo de centeio, de 1951, que ainda segue espelhando uma grande parte de adolescentes que não conseguem se adaptar ou se encaixar no sistema, o clã Bolsonaro, pai e filhos, vivem suas arruaças e lutas internas para ingressarem no mundo da maturidade.


Com linguagem rasa e comportamento anacrônico, os Bolsonaros são adolescentes desencantados com tudo e com todos e orgulhosos disso. Odeiam o que não compreendem, e mais ainda o que os ameaça. Os ‘meninos’ do clã são misantropos, não conseguem um relacionamento saudável fora do ninho, não estabelecem normalidade entre a representatividade de seus cargos e a sociedade.


A percepção de não pertencerem a um lugar permite que sejam desagradáveis e inoportunos em todos eles. Sair da adolescência traz sofrimento e responsabilidade, então é vital que ela seja estendida por mais um período, quem sabe vitalício enquanto dure. “Adorável, essa é uma palavra que eu não suporto. Soa tão falsa que eu sinto vontade de vomitar toda vez que a ouço” – disse Holden Caulfield, personagem principal do livro.


Posso estar enganado, mas mesmo com o viés autoritário, não acredito na ação efetiva de Carlos falando em ditadura, não acredito que isso se concretize. A tentativa de um regime totalitarista sofreria resistência de toda a sociedade. A narrativa neofacista do clã só ecoa entre internautas solitários, adolescentes desconfortáveis com o mundo e nos grupos supremacistas e misóginos. O resto é milícia!


Talvez nenhum Bolsonaro tenha lido o livro que ficou marcado como a leitura preferida dos psicopatas. Entre a lista de crimes cometidos à sombra do romance, está o de Mark Chapman na noite de 8 de dezembro de 1980. Chapman, que havia passado todo o dia na porta do Edifício Dakota - Nova Iorque - onde moravam John Lennon e Yoko Ono, assassinou o ex-Beatle, de quem era fã obcecado, com um revólver calibre 38. Horas antes Lennon autografara para Chapman uma cópia de seu recém lançado álbum Double Fantasy.


Chapman acreditava que, assassinando Lennon, ele o salvaria das perturbações do mundo e que, assim, sua inocência sobreviveria. Depois de cometer o assassinato Chapman leu O apanhador no campo de centeio até a polícia chegar; no livro ele escreveu “minha confissão” e assinou como Holden Caulfield, o personagem que acreditava que “Tudo que você tem que fazer é dizer algo que ninguém entende e eles vão fazer praticamente qualquer coisa que você queira”. Essa afirmação deve circular no meio bolsonarista como um mantra.

I read the news today, oh boy...



Nenhuma criança vestida de soldado na data em que comemoramos a Independência. As notícias não são boas embora os estudantes tenham encontrado o caminho e parece que agora a guerra vai finalmente começar. Nada pode avançar de verdade sem que eles estejam com seus calcanhares em marcha, porque assim fica mais fácil girar e olhar sobre os ombros o lugar onde os inimigos estão escondidos. A classe estudantil não é mais uma que faz o movimento acontecer, ela é a razão pela qual o movimento acontece.

No front oposto aos progressivistas, uma barreira de velhacos e decrépitos fazem caretas enquanto remendam suas meias com pedaços da pele que desgrudam de suas faces. Eles estão derretendo com o ódio que percorre suas veias como lavas que procuram a boca do vulcão. Não, isso não é um filme que termina com um beijo e com um avião, mas a realidade dura das ruas, das casas de periferias onde a mão da prata é ainda mais pesada e impõem com mais crueldade suas regras.

Reagir é um instinto natural e inevitável, as águas represadas seguem seu curso, com elas outras águas de outros rios se encontram e juntas e mais volumosas chegam ao mar. Neste momento, quando as águas se misturam, elas estarão onde as outras águas sempre estiveram.

Eu li as notícias hoje e elas não são muito boas, as crianças não cavalgam em cabos de vassouras e não seguram espadas de jornais; mas tem uma garotada boa de briga que vai passar pela estação dentro do trem da história.

O milagre da esquerda na AL



No dia 27 de outubro a América do Sul terá a oportunidade de começar de fato a mudar o panorama político continental. Nesse dia o povo uruguaio irá às urnas em primeiro turno das eleições presidenciais; na Argentina a população sairá para eleger seu presidente. No Uruguay, para vencer, o candidato precisa de 50% dos votos mais um. Pesquisa de intenção de voto mostra que, no primeiro turno, o candidato da Frente Ampla, Daniel Martínez, tem 29% das intenções de voto. Luis Lacalle Pou, do direitista Partido Nacional, tem 24%, e Ernesto Talvi, do Partido Colorado, de centro-direita, 15%. 

Avanços obtidos ao longo dos últimos 15 anos de governo da Frente Ampla começaram a ser revertidos recentemente. É o caso da pobreza, que caiu de 37,5% da população, em 2004, para 7,9% em 2017, mas voltou a subir no ano passado, para 8,1%. O desemprego, que também vinha caindo, subiu no segundo trimestre para 8,4% — o maior nível em uma década. Economista do Centro de Estudos da Realidade Econômica e Social (Ceres), Guillermo Tolosa, avalia que “Há uma percepção geral de uma falta de ação por parte do governo, de responder com pacotes e reformas para tentar evitar essa situação e dinamizar a atividade”, O investimento privado está fraco desde 2015. 

Na área de segurança pública, o Uruguay teve em 2018 um dos anos mais violentos da história recente. O número de assassinatos subiu 45,8% ante 2017, elevando a taxa de homicídios para 11,8 por 100 mil habitantes. A taxa é inferior a do Brasil (30,8), mas superior a de Chile (3,6) e Argentina (5,2). O aumento, segundo analistas, tem relação com a descriminalização da maconha, que tirou uma fonte de renda importante de grupos narcotraficantes, que agora disputam o controle de territórios e da venda de drogas como cocaína. 

Na Argentina a tendência é que a população diga NÃO ao neoliberalismo e conduza a chapa peronista Alberto Fernández e Cristina Kirchner, ao poder. Ao jornal argentino ‘Página 12’, o ex-presidente Lula disse que: "O ódio a mim é como o ódio aos Kirchner aí". Quando assumiu a Presidência argentina, em dezembro de 2015, Mauricio Macri fez pelo menos três promessas que não conseguiu cumprir: Pobreza zero, inflação estável e investimentos externos. A pobreza aumentou, a inflação disparou e os investimentos se deu somente em setores específicos. 

Após 15 anos no governo a Coligação Frente Ampla vai passar por uma eleição difícil. Particularmente acompanho com interesse as eleições pois visitei o Uruguay em duas oportunidades, uma no governo de Pepe Mujica, e a impressão que tive foi de um país que vivia em paz política, social e econômica. Sem recursos minerais, o Uruguay soube explorar a soja e o gado, atingindo estabilidade governamental. 

Percorrendo a cidade conhecemos a sede antiga da presidência, um prédio que no governo de Venâncio Flores passou a ser sede do executivo. O prédio histórico hoje é um museu, na mesma linha do palácio do Catete, que guarda mobílias, pertences, fotografias e tudo o que se manteve daquela época, infelizmente não se pode fotografar, mas vale muito a pena conhecer, vimos coisas lindas. Lá está a carruagem, em madeira, que levou Maldonado para sua última diligência. A enorme diferença desse museu para o Catete, é que a nova sede, que foi construída em 1985, está ao lado da antiga, separadas por duas ruas, aqui o Catete foi para o centro do país para garantir distância do povo. (Trecho de “Sendo Gentil na Juan D. Jackson”), crônica que escrevi quando visitei pela primeira vez o Uruguay. 

E se o PT não existisse?


Inspirado no filme Yesterday, que tem como argumento um mundo sem os Beatles após um apagão em todo o planeta, fiz um exercício de imaginação: o Brasil sem o Partido dos Trabalhadores. Imaginei que o sindicalista e torneiro mecânico Luis Inácio da Silva, ameaçado pela Lei de Segurança Nacional, que o levou a prisão em 1978 por liderar as greves dos metalúrgicos do ABC, tivesse desistido de criar um partido político (metesse a viola no saco).

O corte poderia ter vindo bem antes, em 1969, quando Lula relutou a filiar-se para concorrer a um cargo na diretoria do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Lula tinha uma imagem negativa do sindicato, mas convencido por seu irmão Frei Chico, acabou concorrendo e eleito entre os suplentes para a diretoria, chegando à presidência do sindicato em 1975.

Será que com a ausência de Lula e toda sua representatividade, os intelectuais, artistas, sindicalistas, militantes contra a ditadura, representantes dos movimentos sociais e católicos da teologia da libertação, fundariam o PT como conhecemos? Acredito que a presença de Lula foi determinante para a reunião desse grupo heterogêneo.

Sem o PT, o Brasil estaria em uma profunda crise econômica iniciada na década de 1980, conhecida como a ‘década perdida’. Indicadores medíocres, taxas de crescimento do PIB em baixa e a inflação acelerada afetariam profundamente a produção, o emprego e o poder de compra dos salários. Não existiriam programas como o Água Para Todos, Auxílio-Gás, Bolsa Família, Cheque Cidadão, Escola da Família, Favela-Bairro, Fundo de Amparo ao Trabalhador, Luz para Todos, Mais Médicos, Minha Casa, Minha Vida, Política de Cotas, Programa Fome Zero, Pontos de Cultura, Programa Universidade Para Todos, Rede de Proteção Social, PROUNI, SISU, FIES, Programa de Aceleração do Crescimento, etc.

O Brasil sem o PT não teria o protagonismo mundial conquistado; O príncipe da Inglaterra não teria a oportunidade de ser gentil e segurado o guarda-chuvas, protegendo nosso presidente da garoa londrina; O brasileiro não teria sido reconhecido como o povo mais otimista do planeta; não veríamos a imagem mais icônica de todas: Estudantes da Universidade de Coimbra prostrando suas capas ao solo, para que o presidente do Brasil caminhasse sobre elas, ao lado de sua esposa. 

Sem o Partido dos Trabalhadores, aquele seu vizinho, seu patrão e a sua tia, da extrema direita fascista, continuariam amaldiçoados dentro do armário. O PT foi importante para exorcizar as velhas práticas da elite perversa. Jogou luminol sobre os preconceitos, transformando-os em debate e reação. Governou para o homem e mulher simples, inserindo-os no orçamento como investimento e não despesa. O Brasil sem o PT não teria a alegria dos jovens na primeira eleição após a ditadura, ficaríamos sem a emoção do jingle Lula Lá. 

Ao final do filme [spoiler], um extraordinário John Lennon surge dizendo que sobreviveu feliz até a velhice longe dos holofotes, ao lado de sua esposa. Lennon aconselha Jack Malik, que ficou famoso cantando as músicas dos Beatles como se fossem suas, a continuar a perseguir o amor, sempre dizendo a verdade. “You may say, I'm a dreamer / But I'm not the only one”.


Ricardo Mezavila


sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Brasil: Entre o lago de fogo e o de cristal



Desde sempre o homem tenta descrever aquilo que não conhece e o perturba, como o mistério da vida e da morte, do céu e do inferno. Pode ser que tudo seja uma única coisa que se completa em uma engrenagem extrafísica incapaz de ser decifrada. Curiosamente, sempre que o céu é descrito, ele é azul com anjos tocando arpas, com jardins floridos ladeando infinitos lagos de águas cristalinas. O escritor norte-americano Mark Twain escreveu que preferia o paraíso pelo clima e o inferno pela companhia.

O inferno consegue trazer mais imaginação ao homem. Ele é descrito de diversas formas como a que descreveu no século XVIII o cientista e filósofo Emanuel Swedenborg. Para ele o inferno é feito por grandes cidades totalmente destruídas e com pessoas cometendo crimes, roubos, assassinatos e todo tipo de atrocidade. Todas lutando umas contra as outras, sem qualquer noção de união, família ou amizade. Nessa cidade infernal, todos os prédios são bordéis, nos quais as pessoas são obrigadas a fazer sexo com outras em meio a todo tipo de excremento enquanto os ambientes em volta delas pegam fogo.

Essa descrição de Swedenborg se parece com a sociedade brasileira atual onde o Presidente eleito inviabiliza tudo o que nos aproxima de um suposto e tradicional paraíso onde, mesmo que as pessoas não sejam eternamente felizes, mas que pelo menos trabalhem, estudem, viajem, sejam respeitadas em seus direitos. Não vamos entrar no mérito daqueles tipos de inferno que incluem bestas rastejantes em florestas escuras, sombrias, com cavernas úmidas e desertos que nos fazem dormir com a luz acesa, isso não. A questão passa pela insistência em que o mandatário da nação tem em exibir-se como alguém sem alma diante de um mundo civilizado que repudia suas atitudes.

Alguns filósofos e religiosos defendem a ideia de que cada pessoa traz consigo seu próprio inferno. Acredito que quem ainda apoia Bolsonaro, mesmo quando ele se declara a favor da tortura e da morte girando sua metralhadora de ofensas para todos os lados como fez com Michelle Bachelet, vive o pesadelo do inferno descrito pela freira visionária Anne Catherine também do século XVIII. No inferno visto por Anne, os demônios vagam pelas ruas e no centro de tudo há um grande abismo fumacento onde Lúcifer está acorrentado, gritando de agonia. Segundo a freira, os muros do inferno contêm inúmeras profecias – a mais conhecida delas é a de que o demônio subiria à Terra antes do ano 2000. Acho que naquela época não existia a margem de erro, não é?