Uma partida de futebol, ou várias partidas, ou uma copa do
mundo, não valem a vida de uma pessoa. E o que temos visto na organização da
copa no Brasil parece contradizer isso, oito operários perderam a vida em
acidentes nas construções dos estádios. Na guerra o soldado sabe que pode não
voltar para casa e que pode não deixar que alguém também volte, mas o esporte
não pode servir de meio para se fazer vítimas. A finalidade da copa do mundo é
a confraternização dos povos através da
competitividade saudável.
Tenho
dito, volto a dizer, não vou torcer pela seleção, aliás, não torço desde 1986.
O motivo é que, depois daquela copa no México onde perdemos até pênaltis, os
jogadores saíram em massa do Brasil prematuramente e, quando saía uma lista de
convocados para as próximas seleções, eu não conhecia quase nenhum deles, não
eram identificados com o futebol do país, pareciam e ainda parecem, mercenários
que se inscrevem em causas estrangeiras e lutam por dinheiro.
Se fizessem um plebiscito popular antes do Brasil ter sido
escolhido como sede, tenho a certeza de que a maioria votaria SIM; todos
confiantes de que “não haveria dinheiro público nisso”, como disseram os
governadores, prefeitos, senadores, deputados, ministros e a presidente da
República. Eu também votaria SIM, se confiasse em político, adoro futebol,
entendo que uma copa do mundo traz perspectivas positivas, deixa legado,
movimenta o turismo e é uma festa democrática e popular.
O Ministério dos Esportes se pronunciou: “Não há um centavo de
dinheiro público direcionado à construção ou reformas das arenas para a copa”.
E já se foram mais de “sei lá quantos bilhões”. As estrelas da companhia
desfilam ironia pelo país: “Não se faz copa com hospitais”, foi uma delas. Com
a maior cara de pau criaram o projeto de voluntários que, aí tudo se explica,
tem mais candidatos do que vagas.
Sem nenhum problema digo que vou torcer para que qualquer outra
seleção sul americana seja a campeã, menos a brasileira, seria incoerência e
não quero que o hexa seja a cortina de fumaça para encobrir a roubalheira, as
mortes dos operários, a incompetência generalizada e estupidez festiva.
Na copa de 1970 eu era uma criança e não entendia nada, como na
canção do Erasmo, a seleção foi tri enquanto os militares matavam estudantes;
nessa eu sou adulto e, se ainda não entendo nada, pelo menos desconfio que tem
coisa errada por aí, sinto o cheiro de uma cereja que querem colocar no bolo,
mas que se depender de mim, vai apodrecer no colo de um deles, de preferência
como aquela bomba que o sargento levou para o show em homenagem ao Dia do
Trabalhador.
Ricardo Mezavila.
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