Hoje
a cidade do Rio de Janeiro completa quatrocentos e cinquenta anos desde sua
fundação, por Estácio de Sá. Mas muito antes disso, antes do aterro, do
bondinho e do Cristo, já existia em território virgem e beleza natural. No
tempo em que, parafraseando Caetano, “não tinha gente, nem parafuso”. Então,
vieram para cá os homens brancos de negócio e, desde então, plantaram as
sementes daninhas que destroem as verbas públicas, que naquela época ainda não
existiam.
Apesar
de você, como disse Chico, amanhã há de ser outro dia. As borboletas retornarão
aos jardins; as nuvens que foram embora voltarão e encherão nosso céu de chuva
benta; o palco de nossos teatros revelará uma safra de bons e populares
artistas; as praias ficarão lotadas de sol e gente alegre, sem amigos virtuais
para dividir a areia; nos gramados o anjo de pernas tortas iluminará uma camisa
e essa gente, apaixonada pela bola, vai se sentir abençoada.
Nenhuma
cidade é mais bonita do que o Rio em beleza e recursos naturais. Paris é a
cidade luz, a mais badalada e considerada a mais bonita do mundo dentro de um
contexto que leva em conta a história, as artes, o comportamento e a
importância moderna na organização da sociedade contemporânea. Paris pode ser
tudo isso, mas tem a tendência inóspita de São Paulo e a frieza dos estados do
Sul, se comparada à Mata Atlântica da Floresta da Tijuca, da vista das
Paineiras e da incrível e, eterno cenário da minha juventude, a Praia do Diabo.
Hoje
essa jovem de quatrocentos e cinquenta anos desperta linda na apoteótica
natureza de seu corpo, no deslumbrante balanço de suas meninas, moças e idosas
que contornam as ruas com um passo congenitamente sambado. Do Leme ao Pontal,
cantou Tim, não há nada igual. Eu canto que, de Santa Cruz à Central, também é
igual. Sem falar, no Cachambi, Santa Tereza e Catumbi, Del Castilho,
Bonsucesso, Ramos, Pavuna. Vou para o Irajá, ou para o Caju, Inhaúma ou Real
Grandeza.
Parabéns
minha Cidade Maravilhosa, coração do Brasil, majestosa estrela; cidade do
cristo operário de braços fortes sobre a Guanabara. Deixo em ti meu carinho
espalhado nos poemas, nos bares, na alegria de uma gargalhada que atravessa o
Rebouças, circula no Santa Bárbara, estufa a rede do “Maraca”, desfila na
Sapucaí, ajoelha na Candelária e sobe a Penha, dança no Estudantina, toma chopp
na Lapa, visita o MAM e o Municipal, e explode no pôr do sol nas pedras do
Arpoador, em pleno carnaval. O carioca é fera, mermão!
Ricardo
Mezavilay
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