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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Beija-Flor do Neguinho



Teodoro Obiang


Que os desfiles das escolas de samba do grupo especial não empolgam como antes, é fato e notório. Assistir ao desfile pela lente da mídia monopolizadora dá bem essa ideia. As escolas não são mais celeiro de sambistas e de bambas, viraram reféns da vaidade individual e da projeção instantânea de personalidades contratadas por quem orquestra e detém os direitos de transmissão.

No passado o puxador de samba da Beija-Flor era o Neguinho da Beija-Flor, ainda é, só que agora a Beija-Flor é que é do Neguinho. A hierarquia foi invertida, as histórias das escolas foram enterradas prevalecendo o indivíduo e não a agremiação. Assisti alguns compactos e o da escola, candidata ao título, segundo o estandarte de ouro, a atriz e a apresentadora da emissora âncora, apareceram mais do que toda a escola do bairro de Ramos.

Fico convencido dessa tese quando tenho a informação de que o quesito “conjunto”, aquele que dá uma visão geral do desfile, que une o abre-alas ao último carro da escola; que não descarta a participação do público, que insere a alegria e a interação da arquibancada com o passista; que condiciona a porta bandeira e mestre sala ao desempenho da bateria, foi retirado e não será avaliado.

Os paraquedistas que voaram sobre a avenida no início do desfile da Portela, assim como os drones das quinhentas águias pequenas e aquele maior que sobrevoaram a avenida, além das bolas de futebol que acompanharam o carro “Maracanã”, não receberão notas, estiveram ali, mas não com o brilho de uma atriz de novela em vestes de Eva. A fantástica águia redentora, que deixou a platéia com o coração na mão, quando fingiu que não passaria pela torre por conta do tamanho, e que  abaixou para passar e, ao mesmo tempo, fez posição de reverencia ao público, também não será avaliada

A emoção está definitivamente fora dos critérios de pontuação. A criatividade vale menos do que um carro com problemas que não acende uma lâmpada, um sambista que atrasa um segundo na saída da escola, uma baiana que tropeça no seu próprio cansaço ou no sangue da mão de um ritmista que não para de tocar quando a baqueta quebra.

O decantado desfile técnico superou o enredo e até a ética. A Beija-Flor recebeu verba da Guiné Equatorial para o desfile. Acontece que o líder africano é acusado pela anistia internacional por violações de direitos, execuções, torturas e prisões arbitrárias. A população do país está entre as mais pobres da África, enquanto o seu líder é o oitavo mais rico do mundo. O carnaval carioca anda precisando de mais transparência e menos interesse.

Ricardo Mezavila



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