Talvez
o personagem Zé Bonitinho seja a representação do homem nacional embalado e etiquetado.
Todos já fomos um pouco Zé Bonitinho pelo menos uma vez na vida. O personagem
do ator Jorge Loredo, tinha o lado exibicionista como seu traço principal, mas
também tinha a dose exata do cafajeste, do conquistador, do malandro, do
sedutor que todo homem tem, ou se não tem, devia ter.
Não
adianta o cara se vestir bem, ser educado, bonito, ter dinheiro, se não souber
conversar. Zé Bonitinho não tinha nenhuma dessas qualidades, mas tinha “lábia”,
toda mulher gosta de ouvir indiretas sedutoras, gosta de atitude e de confiança.
O que torna o homem atraente não é o perfume do “Ralph Lauren Polo Blue Eau” ou
um jantar no “Shin Zushi”. O que o torna atraente é fazer tudo isso e ainda
tomar uma Brahma no balcão do botequim, sem perder a atenção da mulher.
Às vezes
a assepsia traz embutida um traço sociopata, um transtorno de personalidade
que, com certeza, é melhor manter distancia. O copiloto alemão da Germanwings, que
sonhava com aviões caindo, tinha um comportamento parecido. O que seria um voo romântico
pelos Alpes Franceses para os marroquinos recém-casados, se transformou em tragédia.
É preciso cautela em avaliar alguém pela aparência, não existe um padrão de
comportamento perfeito, os anjos também têm ejaculação precoce.
O
borogodó da questão está na seqüência, na evolução do conjunto, nem para mais
nem para menos, está na dosagem da bobagem com o comprometimento. Não conheço
ninguém feliz sem ser bobo. Ser mocinho e bandido é importante para que a
mulher se sinta protegida pela lei e pelo poder paralelo na falta dela. Não
concordo com Nelson Rodrigues quando disse que “mulher gosta de apanhar”, nem
com Vinícius de Moraes que falou que “beleza é fundamental”. Prefiro acreditar
que não há fórmula, a coisa flui sem que se saiba como, se é gostoso e faz bem,
então é bom.
Se
por acaso a estrada estiver cansativa e longa, se está difícil achar o Zé
Bonitinho, recicle. Faça como os artistas fazem quando estão no ostracismo,
comece tudo de novo, mas de outro jeito. Gal Costa, por exemplo, está gravando
só Lupicínio; Frejat está mostrando versão acústica de seus sucessos e Baby do
Brasil lança DVD que repassa sua carreira. Mas se quiser radicalizar, faça como
a Elba Ramalho, que disse que está cansada de se “autoplagiar”.
Ricardo Mezavila.
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