Existem dois Ramalhos que me
influenciaram distintamente. Coincidência ou não, os dois tem por nome José. O
músico Zé Ramalho da Paraíba, “O Bob
Dylan do sertão”, e o José Antonio Ramalho, autor de vários livros de linguagens
para computador entre outros. O Primeiro José eu vi quando debutou no Teatro
Ipanema, em um show onde tocou as músicas de seu primeiro disco Long Play, “Avôhai”, “Vila do Sossego” e “Chão de
Giz”, ficamos todos “ligadaços” – nesse sentido mesmo que você está
pensando.
O escritor dos livros, o segundo
José, veio em uma época já distante dos acordes de “A peleja do Diabo com o dono do Céu”, longe dos shows e das visões
coloridas dos palcos, das metáforas “ramalianas” e da poesia do xará mais
famoso. Eram dias difíceis de desemprego e toneladas de sacos de
responsabilidade para carregar nos ombros.
Mas, dias difíceis fazem parte da
vida, nem tudo é só flores ou só espinhos. As rosas ficam mais desejadas e
bonitas pela presença dos espinhos, na dificuldade de tocá-las sem ferir-se. Os
perigos que rondam os dias também podem fazer com que eles sejam mais
interessantes. Às vezes tratar um problema de frente, mesmo com a ameaça de uma
grande ferida, pode valer mais a pena do que os pequenos arranhões que vão
avançando lentamente, sangrando com o movimento do ponteiro do relógio.
A iluminação do show brilha mais
quando os olhos aprendem a lição do escuro. Quando aprendem que na presença da
luz a voz denuncia, na sua ausência se cala. O silencio do escuro não significa
que não vai haver música, ou que a luz é necessária para que o artista suba no
palco. O silencio só quer dizer que o momento do intervalo é quando realmente o
show acontece.
Pois é, de Zé a Zé “Ramalhei”
muito. O livro - Clipper 5, volume 1,
release 5.2 - foi meu “travesseiro”
quando lecionava em cursinhos de informática para pagar as contas. As linhas
melódicas de “Vida de Gado”, nesse
contexto, encaixariam ritmicamente nas linhas dos códigos de comandos do livro
do “Ramalhão”.
Ricardo Mezavila
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