Sempre
que ouço a primeira versão da música “Espanhola” de Flávio Venturini e
Guarabyra, interpretada pelo músico de Minas Gerais, percebo que, além de
conhecer a letra, também conheço todo o arranjo. Todos aqueles instrumentos que
se sobrepõem na canção estão na minha memória como se meu cérebro guardasse uma
orquestra inteira. As cordas se misturam, se perdem e se encontram em
movimentos constantes dentro de uma viagem quase impossível.
Acho
que a vida seria menos complicada se a solfejássemos em sustenidos e bemóis, se
cantássemos seus acordes e variações sonoras em afinação com as outras vozes,
como em um coro bem executado, regido por um maestro simples, de havaianas,
camiseta e bermuda.
Nas
pautas da canção a vida segue em eterna transposição, passando de um compasso a
outro, seguindo o tempo e pausando para a respiração alcançar notas mais altas,
relacionamentos agudos e graves, dependendo da tonalidade.
Na
tablatura do tempo precisamos descobrir onde ficam as linhas dissonantes,
aquelas que atravessam o ritmo e deixam os ouvidos desprotegidos e vulneráveis
às canções que saem da boca do homem frio, sem música nos olhos e de coração
descompassado.
“Sempre
assim, cai o dia e é assim, cai a noite e é assim”. Pare para ouvir a
música que toca dentro de um silêncio e ouça como os instrumentos conversam,
caminhe pelas partituras se equilibrando como um bêbado e desça lentamente sobre
um jardim de notas musicais segurando uma clave de sol. “Eu preciso lhe
falar, eu preciso, eu tenho que lhe contar”.
Ricardo
Mezavila
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