Tudo
começou quando fui à casa de Geneci contratá-lo para limpar o terreno ao lado
da minha casa. Terminada a obra o local ficou entulhado de tábuas, tijolos,
sacos de cimento rasgados, recortes de pisos, azulejos e pregos espalhados pelos
escombros presos às tábuas e escoras. Geneci não estava se sentindo bem, sua
pressão estava alta e sentia uma devastadora dor de cabeça. Desejei melhoras ao
guerreiro e resolvi eu mesmo fazer o serviço.
Já
fiz parte da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA - quanto
trabalhei em uma metalúrgica, mas não foi o suficiente para lembrar dos
apetrechos que os operários usavam para prevenir acidentes e que eu
fiscalizava. Enxada e pá em mãos fui para o terreno com a disposição necessária
que faltou ao bravo trabalhador hipertenso, temporariamente fora de combate.
Cava
aqui, espalha terra ali, o trabalho seguia bem até um prego surgir “no meio do
nada”, quer dizer, no meio da minha segurança de que tudo estava sob controle.
A peça metálica constituída por uma haste delgada, achatada num dos extremos e
pontiaguda no outro, cravou na sola do tênis, perfurou a sola do pé e saiu do
lado de cima , próximo do dedão.
O
primeiro uso da palavra dor, segundo a bíblia, explica a dor do parto como conseqüências
pelos pecados cometidos por Adão e Eva. A dor não é agradável, mas ela nos
alerta de que alguma coisa não vai bem com o nosso corpo. Por mais que a dor
tenha uma mesma origem, é diferente para cada uma das pessoas, ou seja, ninguém
consegue sentir a dor do outro.
Personagem
hipocondríaco da peça “Doente imaginário”, de Molière, Argan
indignava-se com os médicos que queriam revelar-lhe a origem da sua dor: “Vosso
alto saber, vãos e insensatos médicos, é uma pura quimera. Não podeis saber com
vossos grandes nomes latinos a dor que me desespera”.
Fui
para a Unidade de Pronto Atendimento e, como diz o termo, fui prontamente
atendido e vacinado. Ficou a dor da perfuração e a lição de que preciso comprar
botinas. Estou me sentindo um quadro torto na parede, um Cristo mal pregado na
cruz, um leitor ocasional de Freud que acabou de ler que “Quando a dor de
não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda”.
Ricardo
Mezavila
Unamar,
janeiro de 2015.
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