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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A dor física de Cristo





Tudo começou quando fui à casa de Geneci contratá-lo para limpar o terreno ao lado da minha casa. Terminada a obra o local ficou entulhado de tábuas, tijolos, sacos de cimento rasgados, recortes de pisos, azulejos e pregos espalhados pelos escombros presos às tábuas e escoras. Geneci não estava se sentindo bem, sua pressão estava alta e sentia uma devastadora dor de cabeça. Desejei melhoras ao guerreiro e resolvi eu mesmo fazer o serviço.

Já fiz parte da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA - quanto trabalhei em uma metalúrgica, mas não foi o suficiente para lembrar dos apetrechos que os operários usavam para prevenir acidentes e que eu fiscalizava. Enxada e pá em mãos fui para o terreno com a disposição necessária que faltou ao bravo trabalhador hipertenso, temporariamente fora de combate.

Cava aqui, espalha terra ali, o trabalho seguia bem até um prego surgir “no meio do nada”, quer dizer, no meio da minha segurança de que tudo estava sob controle. A peça metálica constituída por uma haste delgada, achatada num dos extremos e pontiaguda no outro, cravou na sola do tênis, perfurou a sola do pé e saiu do lado de cima , próximo do dedão.

O primeiro uso da palavra dor, segundo a bíblia, explica a dor do parto como conseqüências pelos pecados cometidos por Adão e Eva. A dor não é agradável, mas ela nos alerta de que alguma coisa não vai bem com o nosso corpo. Por mais que a dor tenha uma mesma origem, é diferente para cada uma das pessoas, ou seja, ninguém consegue sentir a dor do outro.

Personagem hipocondríaco da peça “Doente imaginário”, de Molière, Argan indignava-se com os médicos que queriam revelar-lhe a origem da sua dor: “Vosso alto saber, vãos e insensatos médicos, é uma pura quimera. Não podeis saber com vossos grandes nomes latinos a dor que me desespera”.

Fui para a Unidade de Pronto Atendimento e, como diz o termo, fui prontamente atendido e vacinado. Ficou a dor da perfuração e a lição de que preciso comprar botinas. Estou me sentindo um quadro torto na parede, um Cristo mal pregado na cruz, um leitor ocasional de Freud que acabou de ler que “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda”.

Ricardo Mezavila

Unamar, janeiro de 2015.

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