Matéria da Folha de São Paulo diz que: Manter o corpo congelado após a morte
na esperança de um dia voltar a viver é uma prática que tem ganhado novos
adeptos pelo mundo. Atualmente, há mais de cem corpos congelados e cerca de 600
clientes filiados em duas das principais clínicas especializadas dos Estados
Unidos, as quais têm, nos últimos meses, registrado aumento da procura.
O interesse pela criogenia, o
estudo dos sistemas em baixas temperaturas, foi despertado após a morte de Ted
Williams, um dos mais importantes jogadores de beisebol da história, que teve seu corpo enviado pelo filho a uma clínica de
congelamento. Na Inglaterra, a revista britânica de divulgação de ciência e
tecnologia "New Scientist" lançou um concurso em seu site, que dava como prêmio um "vale-criogenia".
O poeta Vladimir Maiakovski
escreveu uma peça, em 1929, O Percevejo,
onde um personagem de nome Prissípkin é congelado pelo jato d´água dos
bombeiros num incêndio. Cinqüenta anos depois ele descongela e encontra-se
sozinho, numa sociedade asséptica e puritana. Prissípkin, tendo como companhia
um percevejo, congelado e descongelado com ele, o violão, o cigarro e a vodca,
acaba sendo exibido, num jardim zoológico, para os curiosos. O poeta, na peça,
já previa o conservadorismo que se converteu a Revolução de 1917.
Fico imaginando como seria ser
descongelado cinqüenta anos a partir de agora. Em 2062, abriria os olhos e não
reconheceria ninguém. Será que a memória resiste ao gelo? Os sentimentos e as
emoções vividas estariam registrados em minha memória degelada? Ou só de
interrogações seria meu desibernar? As aflições que o mundo vive hoje, com
previsões catastróficas sobre o futuro do planeta se confirmariam?
O homem, segundo as religiões, é
feito de matéria e espírito. Teríamos uma sociedade de zumbis, homens sem alma,
saindo de suas covas geladas para viver à margem de nós. Leis teriam que ser
criadas para amparar essas criaturas. Seriam levados para os orfanatos a espera
de adoção, se não aparecesse nenhum herdeiro que os levassem para casa. Vejo
com uma certa tristeza e piedade o futuro de quem, por vaidade e arrogância,
imagina que isso possa ser útil para a sua vida e para a humanidade.
Fico com uma frase de um poema
que escrevi em 1995, sobre o que penso sobre o que seja o futuro: O futuro é alguém que nos ressuscita. É
assim quando alguém lembra da sua existência. Quando lê aquilo que voce
escreveu, seus poemas, crônicas e cartas; olha suas fotos sentindo uma saudade
boa; suspira e fica com os olhos perdidos nas lembranças do passado, ouvindo
sua voz cantando as eternas músicas.
Eu não quero ser como o
personagem do poeta russo, não quero mudar o curso da história, não quero
interferir na obra d’Ele.
Ricardo Mezavila
Olá, Ricardo
ResponderExcluirSensacional o seu olhar sobre a matéria da Folha. .
Um abraço
Lucia Regina
http://wwwnarrativasbreves.blogspot.com.br/