A
sociedade vive seu momento de “pau e de pedra”, de direitos violados, de
desrespeito às instituições legalmente constituídas. Vive seu momento de ódio
ideológico e de intolerância religiosa, desportiva e de gênero. O fim do
caminho não é um factóide, ele é real, como a lente da câmera do celular da
moradora do morro da Providência, que registrou um cadáver segurando uma arma e
atirando.
As
imagens remetem a um thriller, mas é só mais um corpo caído no chão, forjado,
mais um Amarildo, um Max, um Eduardo qualquer das “quebradas”, que se
estivesse dentro de um ônibus seria revistado porque tem o perfil do excluído,
e que se parece com aqueles que promovem os supostos arrastões nas areias de
Copacabana.
Não
foram as chacinas da Candelária, de Vigário Geral; nem o despreparo do policial
que atirou em Sandro quando ele se rendeu no seqüestro do 174, capazes de
trazer um olhar crítico, profissional, técnico e humano para as questões da
violência urbana. Para haver ordem e progresso é preciso privilegiar a
educação.
Enquanto
isso, o Congresso contraditório, se agarra às unhas ao financiamento privado
para suas campanhas, que é a raiz da corrupção; a cidade do Rio vive o caos com
as maquiagens para sediar as Olimpíadas e Paralimpíadas de 2016, nas polêmicas
águas da Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas. Penso que se o projeto das
escolas de horário integral, como eram os CIEPS, tivessem o mesmo tratamento,
muitos jovens que hoje são tratados como excluídos, seriam professores,
médicos, engenheiros, como os filhos da classe média.
Vivemos
a síndrome do jardineiro que, muito cuidadoso com a exuberância do jardim,
esquece de tratar o terreno. Então, numa manhã, ele percebe que as borboletas sumiram,
que as folhas com fungos, que até então não incomodavam, secaram; que o jardim,
agora árido, virou depósito de lixo e que atrai roedores. Ele culpa o dólar, o
Dunga e a imigração. Sem autocrítica, não contextualiza, sua passividade
coletiva não deixou que percebesse que a terra se contaminava bem debaixo de
seu nariz.
Ricardo
Mezavila
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