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quarta-feira, 15 de abril de 2015

A Barca da China

barca ipanema


Não sei se foi só comigo, mas na primeira vez em que sobrevoei a Guanabara com destino ao Rio, olhando o Redentor cantei: “esse samba é só porque, Rio eu gosto de você”. Acredito que seja automático lembrar da música Samba do Avião, de Tom Jobim, quando estamos chegando de avião e temos aquele sentimento de que vivemos em uma cidade maravilhosa. A travessia para Niterói também tinha seus encantos, principalmente quando chegávamos na Cidade Sorriso e bebíamos Mineirinho, refrigerante difícil de se encontrar do lado de cá da baía.

Reminiscências à parte, hoje as canções são menos cheias de graça. O governo estadual comprou provenientes da China embarcações que visam melhorar a demanda na travessia Rio-Niterói. Tudo bem, as antigas “Martim Afonso” e “Ipanema”, são barcas que precisam ser aposentadas dos horários agitados, da correria desses heróis trabalhadores. Podem realizar passeios tranqüilos de turismo pelas ilhas, riscar as águas sem pressa, ouvir risadas das crianças, afagos dos namorados e suspiros dos mais velhos.

Voltando às barcas chinesas, o governo cometeu uma sucessão de equívocos que me fez pensar na música Inútil, da banda Ultraje a Rigor: “a gente faz carro e não sabe guiar, a gente faz trilho e não tem trem pra botar”. Exatamente como na música, o governo comprou as embarcações, só que elas são grandes demais e não cabem no estaleiro.

Se não bastasse essa anomalia administrativa, a barca que era para diminuir o tempo de percurso é mais lenta. A primeira embarcação demorou três meses para entrar em operação porque não tinha plataforma adequada, a tripulação não tinha sido treinada e não tinha a documentação para trafegar. O governo disse que “esqueceu” de combinar com o estaleiro sobre a manutenção da barca, ela não cabe no Píer para manutenção e reforma.

Essa operação custou montanhas de dinheiro que saíram dos cofres públicos. A concessionária, que já vinha reclamando de sucessivos prejuízos, ameaça devolver a concessão ao governo se as tarifas não forem majoradas para bancar as despesas operacionais do sistema, as reformas nas plataformas e a manutenção das embarcações. O valor da tarifa passaria para um valor acima de dez reais, o que geraria insatisfação entre os usuários.

Especialistas em mobilidade urbana dizem que as regras para o aumento de tarifa não é clara. Ninguém sabe como se faz o preço e se calcula os reajustes. E, ainda no terreno do surreal, o secretário estadual de transporte disse que não sabia da negociação. Saindo das águas e indo para as ruas, o bondinho de Santa Tereza ainda não pode circular porque os paralelepípedos, mal colocados, impedem a passagem dos freios dos veículos. “A gente somos inútil”.

A coisa nasceu para dar errado porque a primeira embarcação foi batizada de “Pão de Açúcar”. Não podia dar certo mesmo, um negócio da china nunca vai se encaixar na paisagem descolada do carioca.



Ricardo Mezavila.

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