Confesso que chorei quando soube
da morte de Oscar Niemeyer, mesmo sabendo que, devido ao seu estado de saúde e
da idade avançada, isso estava perto de acontecer. Estive no mesmo espaço que
ele em comícios e eventos políticos, mas nunca tive a oportunidade de
cumprimentá-lo, apertar sua mão e falar da minha admiração pelo seu trabalho e suas
convicções sociais e políticas.
Na década de 1980 trabalhei em um
banco onde o prédio foi projetado por ele, o Boavista, que também tinha a tela
“A primeira Missa no Brasil”, de Portinari. A sede da União Nacional dos
Estudantes, Hospital da Lagoa, anexo do Copacabana Palace, Edifício Manchete, o
Museu de Arte Contemporânea, são alguns entre inúmeros projetos, no Rio de
Janeiro, que saíram do lápis de Niemeyer, que era chamado de “O Arquiteto dos Horizontes”.
Seus últimos projetos foram a
Universidade Federal da Integração Latino-Americana em Foz do Iguaçu que está
sendo construída, e o Teatro Musical Rio’s no Aterro do Flamengo que ainda precisa
do aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e da
Prefeitura do Rio para sair do papel.
“A direita quer manter este clima de poder, de injustiça social e de
subserviência ao império norte-americano”, disse certa vez sobre o governo
militar. Aliás, a grande admiração que tenho por ele é justamente na esfera
política. Um homem que dizia que “o
arquiteto não muda nada, está sempre ao lado dos ricos” era stalinista. Foi
amigo de Fidel Castro, de quem dizia ser um “exemplo heróico para a juventude”, e de Luis Carlos Prestes a quem
emprestou seu apartamento, no Rio de Janeiro, para que fosse o comitê do
Partido Comunista. Em sua carta de renúncia, em 2008, o líder cubano citou-o: “Penso como Niemeyer, que se deve ser
conseqüente até o final”.
O conjunto arquitetônico do Sambódromo
foi a obra mais popular de Niemeyer no Rio de Janeiro. Ali, junto com Darcy
Ribeiro, projetou a praça da apoteose que era, segundo o professor Darcy, para
ser um espetáculo dentro do espetáculo. Talvez uma ação refletida na frase de
Niemeyer: “A Humanidade precisa de sonhos
para suportar a miséria; nem que seja por um instante”. Projetou também os Centros Integrados de Educação Pública, que tinha como objetivo a escola em tempo integral.
Deus criou o mundo e Niemeyer deu
traços dentro da obra do criador, valorizou a inspiração do arquiteto do
universo. Vejo a imagem de Oscar Niemeyer ligada aos
movimentos artísticos como a poesia concreta e a bossa nova. Hoje vou passar o dia ouvindo a canção Linha do Equador de Caetano Veloso e Djavan, gosto da frase: Céu de Brasília, traço do arquiteto, gosto
tanto dela assim.
Ricardo Mezavila
Nenhum comentário:
Postar um comentário