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terça-feira, 15 de julho de 2014

Maiakovski, Lennon, Neruda e Eu


kremilin



Há um clichê que diz que a vida tem de ser vivida dia após dia, meio determinando que o que se vive hoje é o que importa, que ontem passou e o amanhã pode não chegar. Vejo intensidade demais nisso, ao mesmo tempo fica parecendo que há um vazio eterno nunca preenchido, uma falsa demonstração de felicidade e desprendimento. Um despiste no acaso enquanto ele tenta uma forma de participar dos fatos.

Vejo com beleza a história de alguém que conheço, que casou com alguém que conheço e que perdeu esse alguém para a morte, e que hoje está com os olhos tristes perdidos nas cores, nas imagens e nos sons daqueles dias. Olhos tristes não significam tristeza absoluta, pode ser um olhar com saudade do tempo, dos filhos pequenos correndo entre as mesas da lanchonete do shopping, das viagens e das noites quando a chuva convidava para um sono mais cedo.

A gente pode viver uma vida inteira somente por chegar a um lugar diferente, o oriente abastecido de livros ocidentais, o índico de mãos dadas com o pacífico passeando pela geografia, enquanto o atlântico enciumado deita no colo do rio da prata e pede para que este lhe conte uma história, tire sua roupa e durmam abraçados, como estão naquele lugar onde o rio encontra o oceano.

Acho que visitar Moscou é como morrer, não a morte física, mas é como chegar em um lugar desconhecido, nunca para menos, mas sempre com coisas para serem descobertas, palavras para serem destiladas junto com um copo de vodka, a poesia proletária saindo de dentro dos cafés com suas bofetadas sociais, o homem alto de roupa preta e gravata pendurado em um poste na esquina onde os poetas se encontram para um suicídio alternativo.

Eu tenho em mim todos os fusos horários do mundo, todas as fronteiras, posso partir daqui agora e chegar agora mesmo em qualquer parte, sem ao menos perceber que parti, sem vontade de dormir e sem fome. A lua e o sol são somente o branco e o preto, não fazem diferença quando o tempo vai e volta sem sair do lugar. Como o tolo sentado sobre suas pernas no alto da montanha assim observamos tudo acontecer, ora com chuva, ora com sol, ora no seu aniversário, ora no aniversário do outro.

Acontecemos todos os dias e não percebemos que a escassez do corpo se aproxima e limita nossas vértebras, nossos pulmões e nossas pernas. Sabemos que ainda podemos, mas já não encontramos a mesma facilidade de antes, as dificuldades começam a aparecer nos aviso das placas, na respiração pesada, na dor matinal para calçar a sandália.


Ricardo Mezavila.

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