Hoje
os uruguayos foram ao aeroporto receber a seleção derrotada, o presidente
Mujica também. Eles perderam a copa, o melhor jogador fez um papelão que para
qualquer brasileiro seria imperdoável, ele prejudicou a seleção tem que ser
punido como punimos Roberto Carlos, que foi muito menos irresponsável naquele
jogo contra a França em que abaixou para consertar o meião e Thierry Henry fez
o gol. Ontem no jogo contra a Colômbia Suárez colocou um telão em frente à sua
casa e mais de mil torcedores estiveram por lá torcendo e dando uma força para
o artilheiro.
Isso
dá um nó na consciência, nós não respeitamos quem erra, estamos muito aquém do
patriotismo de países latinos americanos, não falo isso porque presenciei e
estou aqui, isso é notório, não construímos uma independência com luta e
reivindicações, deram um grito à beira de um rio e a história coroou quem já
era rei. Foram poucos os que tiveram a coragem de não abrir mão da liberdade,
de sair do estado letárgico e morrer pela causa que acreditava e essa minoria
não está registrada na história.
Andamos
por Montevideo de um lado ao outro, em bairros distantes que não estão nos
roteiros que os hotéis oferecem, conhecemos pessoas humildes, mas não vimos
ninguém dormindo pelas ruas, estivemos em todos os pontos turísticos e nenhuma
criança veio nos pedir esmola, nenhum homem pediu para que pagássemos uma
bebida, não vimos nenhuma mulher com um filho no colo sentada na calçada. Mesmo
quando fomos ao jogo na praça lotada não vimos nenhum suspeito olhando para
nossos pertences.
Nosso
país era para ser o melhor se não fosse a bagunça institucional desde o começo.
Países pequenos como o Uruguay com recursos parcos se comparados ao nosso,
conseguem manter um padrão de educação anos-luz do nosso. A educação das
pessoas foi o que mais chamou a nossa atenção, não a educação do “por favor” e
“obrigado” que nos ensinam como sendo as mais importantes, quando na verdade só
nos submete à subserviência, mas a educação de amar o país, de respeitar a
cidadania, de valorizar a história e dividir isso com os filhos.
Amanhã
o quarto 901 estará vago para mais um casal desfrutar da cama King Size e de
todo o conforto que o lugar proporciona, nossas malas estarão cheias de
pequenas lembranças, de doces e suvenir, mas a experiência de ter caminhado por
aqui sem medo, com frio, com dinheiro estranho, tendo admirado as crianças que
saíam da escola com jaleco branco sujo de terra porque teve uma feira de
ciência da escola, isso vai ficar para sempre, assim como o cachorro, não
lembro o nome, embalsamado no museu e como o Rio da Prata que tem água salgada
e parece um mar.
Vinicius de Moraes morou aqui em Pocitos e
escreveu: "Também eu deixava-me estar no
terraço de meu apartamento, um dos mais altos de Pocitos: (...) eu
por minha vez, ante a ideia de compartilhar com a bem-amada a visão
dos amplos espaços crepusculares do estuário do rio da Prata”.
Ricardo Mezavila.
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