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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Sobre influências e fatos



Às vezes me perguntam o porquê de eu ser de esquerda, petista, comunista, lulista e outros adjetivos. Eu não sei, mas uma lembrança me remete a 1968, durante o AI-5. Tinha eu 9 anos e meu pai me levou para ver tanques de guerra estacionados em frente ao Colégio Central do Brasil, que ficava na rua vizinha a minha. Foi meu primeiro contato próximo à ditadura militar, já que o contato visual se dava todos os dias quando subia as escadas para a sala de aula e tinha que olhar os retratos dos generais presidentes. Meu pai era trabalhista, votou em Getúlio, Jango e falava muito em um tal Leonel Brizola.

A visita aos tanques deve ter despertado na criança que eu era, que aqueles eram os ‘inimigos’. Atento ao que meu pai conversava, sabia que aquele sentimento era real, eles eram mesmo os inimigos. Crescemos em um ambiente pobre, de classe operária, mas sustentável. Quando fui, em 1973, aos quatorze anos, estudar em uma escola localizada na subida do Morro do Jacarezinho, comecei a ter contato com uma realidade social ainda mais difícil que a minha. Subia o morro para ir até a casa dos amigos e percebia que ali faltavam condições básicas de, principalmente, saneamento.

Nessa idade eu já escrevia trovas e alguma poesia. Os temas começaram a sair dos clichês da família, do amor, e passaram a ser o que eu observava no contexto que vivia. Passei a escrever sobre a pobreza e questionar os motivos que leva alguém a viver em condições adversas. Não foi difícil chegar a conclusão óbvia de que, por trás daquela dificuldade, tinha alguém que se beneficiava. Eureka! Descobri o início do novelo que me levaria a esmiuçar as injustiças sociais, seus executores e suas vítimas.

Um pouco antes, em 1969, agentes do DOPS foram até a minha casa a procura de um tio peruano, universitário, que tinha escrito uma matéria considerada ‘subversiva’ em um jornal da faculdade. Ele não morava conosco, mas nosso endereço constava em algum lugar. Os agentes reviraram nossa casa, derrubaram minha mesa de ‘jogo de botão’, foi uma agressão psicológica que ficou comigo por uns dias.

Em 1978 já havia um movimento para que houvesse a abertura política e conseguimos o direito de votar, houve as ‘eleições gerais’ para o Congresso. Havia a Arena, que representava o governo dos militares e o MDB que representava o outro lado, a sociedade civil. Votei nos candidatos do MDB e lembro da felicidade que senti ao utilizar pela primeira vez meu título de eleitor. Nesse ano eu trabalhava em uma agência de câmbio e viagens, na Avenida Rio Branco, centro do Rio de Janeiro. Sempre que havia conflito entre trabalhadores e estudantes contra o regime, eu descia e ia atirar pedras nos soldados para expressar minha revolta contra a ditadura.

Em 1979 veio a lei da anistia, a volta dos exilados, algumas canções foram liberadas pela censura e o país começou a dar os primeiros passos para uma abertura mais ampla, que seria o caminho até que chegássemos a tão sonhada DIRETAS, JÁ. Em 1981 fui trabalhar na matriz do Banco Boavista na Candelária, que viria a ser palco do maior comício pelas diretas. No banco fiz amizade com sindicalistas e me sindicalizei, participei das primeiras reuniões que organizou a CUT no Rio. Na saída de uma das reuniões, em um sobrado na Avenida Marechal Floriano, fui perseguido por um fusca azul até a minha casa. No dia seguinte tomei conhecimento de que deram uma batida no sobrado e prenderam alguns companheiros.

Em 1982 votamos para governador, foi a primeira eleição do Partido dos Trabalhadores, Lula era uma liderança sindical inconteste, tinha vindo ao Rio e ajudei a fazer uma corrente humana para que ele caminhasse até o pátio do Ministério da Cultura, porque fomos expulsos da Cinelândia por brizolistas. Votei em Lysâneas Maciel para o governo do Rio. Nos anos seguintes vieram as manifestações pelas diretas e foi o momento dos grandes debates, da consolidação do campo que eu escolheria para lutar.

Ricardo Mezavila

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