Uma
sombra à espreita observa os nossos passos, o que falamos e tudo o que fazemos,
figuras rodopiam na neblina como em um ritual. Não, não é a letra de 'The number of the beast' do Iron Maiden, não é fragmento de uma poesia de Alan Poe, muito menos de
Verlaine.
A
sombra espera pela saída de um judeu que assistiu ao show de Jorge Mautner;
carrega um soco inglês para usar no estômago de um homem que acabou de beijar a
boca de seu amigo; acende o fósforo na floresta que abriga uma comunidade
indígena, quase extinta.
De
longe, sentimos a presença da sombra, contemplando a escultura de um artista
esquizofrênico, queimando Bertolt Brecht e Thomas Mann; tomando café depois do
sacrifício de uma noite de hipnoses e memórias.
A
sombra está na frente, atrás, do lado, em cima e em baixo, não tem como escapar
de seus olhos. Seu brilho vem de um manual do século XIV, com a capa branca e o
título escrito com tinta vermelha e preta: 'Directorivm inqvisitorvm'.
O
quadro 'Angelus Novus', de Paul Klee, mostra um anjo com as asas abertas e um
olhar que o afasta de alguma coisa. Ele podia estar olhando tanto para o
passado como para o futuro.
Esse
anjo da história viu a sombra, mas não quis tomar uma posição, preferindo ficar
onde estava, sem utopia e sem desilusão, para não fazer uma leitura errada do
momento.
Penso
na figura do anjo e pergunto se estamos fazendo a coisa certa, ou estamos
lutando um contra o outro, apesar de estarmos todos do mesmo lado?
Ricardo
Mezavila.
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