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sexta-feira, 10 de julho de 2015

Mensagem de um "bloqueado"



Um conhecido disse que é a favor da redução da maioridade penal porque está de saco cheio de assistir menores roubando e matando na televisão. Ele não sabe, mas os noticários abusam desse tipo de apelação porque, infelizmente, é isso que dá audiência. Isso mesmo, a população está dominada pelo terrorismo televisivo, só que agora existe uma plataforma para expressar todo a sua revolta. Daí é comum entrar no Facebook e ver repicado tudo aquilo o que foi despejado na cabeça do telespectador. 

Se estivesse lendo isso aqui, o tal conhecido diria que não tem nada a ver, que o jornalismo apenas divulga o que acontece. É um pouco por aí, mas será que não acontecem coisas boas que possam ser divulgadas nos noticiários para que ele compartilhe nas redes sociais? As empresas de comunicação ganharam um excelente corte nos gastos quando passaram a receber vídeos daqueles que consomem suas notícias. As câmera espalhadas nas ruas, nas casa, no comércio, servem para intimidar a realização de um delito, mas também serve de matéria para as empresas jornalísitcas, de graça.

Outro dia, ao vivo na TV em horário diurno, um policial perseguia dois suspeitos pelas ruas, a perseguição era feita de motocicleta, o apresentador narrava a ação e, claro, torcendo para que o policial alcançasse e, como deve ser, prendesse os suspeitos para averiguação. Que nada, de repente os suspeitos, que a essa altura já tinham sido julgados pelo apresentador e por quem assistia e eram chamados de bandidos, colidiram com um poste e caíram na calçada, o policial não teve a menor dúvida, não pensou nem uma vez em descarregar a arma contra os dois. O apresentador gritava como se fosse um gol, até lembrei do "é teeeetra" do Bueno. Nada justifica a atitude do servidor público, mas se um dos dois estivesse sendo sequestrado? Se, vamos supor, a pessoa que dirigia a moto estivesse com uma arma escostada em suas costas? Teria sido executada por um agente do estado.

Essa cena foi compartilhada aos milhares nas redes com comentários dignos dos bárbaros. O meu conhecido deve ter compartilhado também, ele é a favor do "bandido bom é bandido morto", diz frases carregadas de ódio como "tem que cortar o mal pela raiz", se referindo aos meninos infratores. Ele deve saber que uma sociedade violenta gera pessoas violentas; ele não é alienado, acho que têm filhos, irmãos e sobrinhos. Deve ter consciência que as crianças ouvem e reproduzem aquilo o que os adultos próximos a elas dizem e fazem. Eu tenho um neto e, sinceramente, não quero que ele cresça com o sentimento de que é preciso matar o bandido para que haja justiça. 

Estou apreensivo com o grau de violência que as pessoas andam consumindo, desconfio até que colocaram um aditivo na água, e isso está desenvolvendo uma nova espécie de comportamento nas pessoas. O que dizer dos pequenos e dóceis animais domésticos que ganharam status conferidos, anteriormente, somente aos seres humanos? Nada contra, todo o ser vivo merece tratamento amável, mas a contrapartida não pode ser a desvalorização da vida humana.  Agora mesmo, aqui no meu local de trabalho, ouvi duas conversas sobre violência que só fez chancelar meus argumentos. 

Meu conhecido, infelizmente, não vai ler isso aqui, ele me bloqueou depois das eleições para presidente. Disse que eu era xiita, bolivariano, bolchevique, disse até que eu apoiava as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que eu era comunista e petralha. Certa vez ele me fez lembrar de quando eu participava de debates políticos e sociais no CEAP, UERJ, UFF, no sindicato dos bancários, etc., na década de 1980. No calor de um debate sobre pena de morte, um defensor da pena perguntou a um dos debatedores que era contrário, se um criminoso estuprasse alguém de sua família ele continuaria pensando daquele jeito. Tranquilamente o debatedor respondeu que o mataria com as próprias mãos, mas continuaria contra a pena de morte.

Ouvi exatamente essa pergunta quando defendia, em uma discussão de botequim, o Estatuto da Criança e do Adolescente. O colega era a favor da redução da maioridade penal e eu contra. Tive a mesma sensibilidade da resposta daquele debatedor, e respondi da mesma forma. Não podemos raciocinar com a emoção, a razão não pode ser escrava dos nossos instintos primários, porque esses se aproximam aos dos animais selvagens. Espero que o meu conhecido preste mais atenção na positividade, seja solidário com aqueles que não têm acesso aos direitos comuns a todos os cidadãos, seja eficiente e prático em suas contextualizações e analise melhor tudo aquilo que vê, ouve e lê.

Ricardo Mezavila

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