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segunda-feira, 22 de junho de 2015

"Olha, é o Zeppelin!"

Led Zeppelin


No período da segunda guerra mundial, um pequeno vilarejo no interior do Rio, foi assombrado por um enorme Zeppelin sobrevoando a baixa altura os canaviais. Os moradores interromperam seus afazeres e se abaixaram com medo, enquanto o dirigível fazia sombra do sol que, implacavelmente, iluminava sua estrutura de alumínio. Era a ave prateada dirigida, em rota secreta, por homens militares a serviço da guerra, acompanhando navios e detectando submarinos.
Isso era o que contava o mascate Anacleto, quando chegava ao local com sua “mula shopping”. Os mascates funcionavam como a Internet hoje, traziam e levavam informações por onde passavam. “-Olha, é o Zeppelin!” Teria gritado alguém olhando para cima, até que o rastro da sombra se perdesse por trás dos muros das usinas de canas de açúcar.

Outro Zeppelin, que também faz sombra, não em canaviais, mas na carreira solo de um astro, é o Led Zeppelin. Recentemente Robert Plant, ícone nos anos 70 com sua voz e suas performances, esteve no Brasil e, nem de longe, parecia com aquele vigoroso vocalista da, para muitos, maior banda de rock do mundo. Alguém na platéia deve ter gritado: - “Olha, é o ex-Zepellin!”.
A atmosfera soturna da sombra e da misantropia afasta a arte do artista. Beethoven quando da primeira audição da Nona Sinfonia, em 1824, no teatro de Kärthnerthor, em Viena, estava surdo e não ouviu os aplausos para sua obra prima quando a orquestra encerrou a apresentação. Dominado pela loucura, ao final de sua vida, andava mal vestido, desleixado, com o rosto cortado por lâminas de barbear e pela varíola. “Devo confessar que levo uma vida deplorável”, escreveu a um amigo.
Luz e sombra da bossa nova, o genial João Gilberto apareceu em um vídeo, sentado no sofá de sua casa, de pijama, tocando e cantando com sua filha Luisa. Seus cabelos desalinhados e o pijama amarrotado serão eterna sombra, seja para o paletó de linho branco, de Belchior; ou para as calças engomadas, de Ednardo. Avesso a aparições públicas, a lenda da música brasileira, completou oitenta e quatro anos. O rastro de sua sombra seguirá além, para depois da neve, que cobrirá todas as coisas para, por fim, o verão “per farmi poi morire di dolore”.

Ricardo Mezavila

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